O texto abaixo faz parte do especial “Tendências para a educação em 2021“, publicado pelo portal Desafios da Educação. No artigo, o reitor da Uniamérica fala sobre o desenvolvimento da gestão educacional, o crescimento do ensino híbrido e as transformações da educação superior.
Por Ryon Braga
O ano de 2020 ficará na história, não apenas pelos acontecimentos inesperados e impactantes trazidos pela pandemia da covid-19, mas também pela oportunidade que a situação proporcionou em expandir os nossos horizontes de possibilidades, acelerando as mudanças em curso na educação e nos “convidando” a experimentar mudanças mais disruptivas.
Não precisamos repetir o que já está óbvio para todos, como a questão da ampliação do uso da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. Vamos focar aqui em elementos que podem não ser tão evidentes, mas são altamente relevantes e talvez mais impactantes.
Consequências da pandemia
O movimento de migração da sala de aula presencial para a virtual durante quase todo o ano de 2020 trouxe, como era de se esperar, maior intimidade de alunos e professores com as plataformas virtuais de ensino e aprendizagem e também com as ferramentas virtuais de comunicação síncronas e assíncronas.
Esta situação proporcionou uma diminuição da rejeição dos cursos EAD (educação a distância), mas também trouxe uma discussão sobre o que é, de fato, ensino a distância. Se não há consenso nem mesmo sobre o uso da crase ou não na locução “a distância”, que dirá sobre os componentes desta modalidade de ensino.
Caminhamos para o momento onde irá desaparecer a dicotomia entre ensino presencial e ensino à distância, mas enquanto isto não ocorre, precisamos trabalhar para esclarecer a população sobre tudo isto, já que o Ministério da Educação (MEC) ainda usa uma definição de EAD criada no século passado e que não atende às atuais necessidades dos estudantes e das instituições. Até a presente data, o MEC ainda nem sequer conseguiu definir o que vem a ser ensino híbrido.
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Desafios pós-pandemia
De agora em diante, temos que rever praticamente tudo o que fazíamos em termos de modelo educacional. Precisamos encontrar as melhores repostas para as seguintes perguntas:
- Como trabalhar a parte virtual dos cursos de modo inteligente, utilizando os melhores recursos da tecnologia, com ganho de escala, custos sustentáveis e proporcionando adesão e alta satisfação por parte dos nossos estudantes?
- Como trabalhar a interação presencial ou telepresencial entre docentes e estudantes, de forma a otimizar ao máximo este tempo de interação, possibilitando um acompanhamento individual aluno a aluno?
- Como aproveitar as oportunidades geradas pelas metodologias inovadoras e aproximar mais o estudante do mundo real, trazendo para o currículo questões autênticas da sua realidade profissional, com significativo impacto na motivação do aluno e na sua empregabilidade?
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Irrelevância em distinguir cursos presenciais de EAD
A natureza do ato autorizativo de um curso, se ele foi autorizado para ser presencial ou se foi autorizado para ser EAD, atualmente é totalmente irrelevante.
As IES já conseguem inovar e, de modo muito criativo, driblar a legislação educacional vigente. Vejam os seguintes exemplos, aparentemente paradoxais.
De um lado, existem IES que ministram cursos presenciais com aulas somente aos sábados (um dia na semana). De outro lado, existem IES que ministram cursos autorizados como EAD com 5 dias por semana com atividades presenciais no campus, sem desrespeitar o artigo 100 da Portaria 23 da Seres/MEC.
São dois exemplos diametralmente opostos e aparentemente paradoxais, mas ambos funcionam atendendo a todas as premissas da legislação vigente, demonstrando claramente que, com conhecimento e criatividade, nos dias de hoje, quase tudo é possível.
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A evolução dos modelos híbridos
Não resta dúvida que no pós-pandemia os cursos online, semipresenciais e híbridos irão crescer muito, por outro lado, os cursos online totalmente assíncronos, sem interação com o professor (que hoje representam mais de 90% do EAD no Brasil), passarão a ser fortemente questionados em função das limitações do seu processo formativo.
Os estudantes e a sociedade como um todo, começam lentamente a entender a importância de três elementos fundamentais ao processo da aprendizagem:
- O protagonismo do estudante no processo da aprendizagem (aprendizagem ativa);
- A importância de se integrar a teoria com a prática. Não existe aprendizado efetivo se o estudante não aplica o que está estudando;
- Interagir com professores, mentores, monitores, colegas, etc.
Com isto, começamos a entender como aplicar o melhor de cada elemento para realizarmos um processo de aprendizagem efetivo. Muitos componentes do processo de ensino e aprendizagem podem e devem ser realizados de modo virtual e assíncrono.
Outros componentes exigem interação entre professor e estudante, senão não se efetiva, mas esta interação pode ser presencial ou virtual (telepresencial), precisa ser sempre síncrona. Há ainda aqueles componentes onde a presencialidade física torna-se imperiosa e não pode ser facilmente substituída. O nosso desafio agora é elaborar programas educacionais (cursos) onde a justaposição destes três componentes seja a mais vantajosa possível para o processo da aprendizagem e para a efetividade da relação.
Em síntese, precisamos aprender a ofertar cursos que integrem ou mesclem muito bem estes três elementos, considerando o que cada componente pode oferecer de melhor:
- Atividades virtuais assíncronas, onde o aluno estudo como quer, onde quer e na hora que puder.
- Atividades de interação síncrona (presenciais ou telepresenciais) com professores ou mentores.
- Atividades práticas presenciais em laboratórios, no campo de pesquisa, em organizações onde a profissão acontece (no mundo real da profissão).
Analisando os efeitos do ensino virtual remoto utilizado pelas IES durante a pandemia, podemos inferir quais elementos ganharão espaço nos próximos anos e quais deles perderão espaço no horizonte dos processos de ensino e aprendizagem.
O que ganha espaço no pós-pandemia
- Cursos de graduação verdadeiramente híbridos;
- Cursos de graduação semipresenciais;
- Cursos de graduação online com mais interação entre professor e aluno.
O que perde espaço
- Cursos de graduação online totalmente assíncronos;
- Cursos de graduação totalmente presenciais;
- Campus universitário no modelo tradicional, com grande quantidade de sala de aula, laboratórios, bibliotecas imensas, etc.
E o que podemos esperar do futuro próximo?
Em um futuro não muito distante, onde a oferta de serviços educacionais vai ser tão abrangente, diversificada e acessível, o que vai fazer mesmo a diferença não é a modalidade do ensino (EAD ou presencial), mas sim o quanto este serviço educacional impacta positivamente na empregabilidade e trabalhabilidade do estudante.
Para mais de 98% dos estudantes, o principal motivo de cursar uma faculdade diz respeito às perspectivas de obter e seguir uma carreira profissional bem sucedida. Ou seja, cursos que não forem capazes de melhorar significativamente a empregabilidade ou trabalhabilidade do aluno, certamente perderão espaço neste mercado altamente competitivo.
A questão da empregabilidade está na pauta de nove em cada 10 universidades em todo o mundo, mas no Brasil este assunto ainda é incipiente em função da baixa taxa de escolaridade superior no país, no entanto, isto está mudando e cada vez mais o diploma perde relevância e o que vale mesmo é a capacidade do estudante em ser bem sucedido no mundo do trabalho.
Sobre o autor
Ryon Braga é sócio da Atmã Educação, diretor técnico da ABMES e reitor do Centro Universitário UniAmérica.
Confira o especial “Tendências para a educação em 2021”
- Thuinie Daros: as abordagens pedagógicas mais promissoras para 2021
- O uso da tecnologia na educação. E o cenário para 2021
- Lourdes Atié: entre desejos e tendências para a educação em 2021
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