O Brasil realizou, no início de novembro, a maior licitação da história das telecomunicações no país. Na oportunidade, foram leiloadas as frequências de operação da rede de internet 5G. A tecnologia promete revolucionar diversos setores, inclusive a educação.
Entre as vantagens da nova geração, está a transmissão de dados até 20 vezes mais rápida – a velocidade de download, por exemplo, aumentará em até dez vezes. A latência, ou seja, o tempo de resposta para carregar um site, cairá de 50 milissegundos para 1 milissegundo.
Daqui para frente, a missão das operadoras vencedoras do leilão é massificar a entrega do serviço. Trabalho não vai faltar. Segundo um levantamento da Conexis Brasil Digital, entidade que reúne as principais empresas do segmento, apenas 7 das 27 capitais brasileiras estão preparadas para receber a tecnologia.
Presente em países como Estados Unidos, China, Reino Unido e Coreia do Sul, a 5G vai alcançar todo o território nacional em 2029. A cobertura começa por capitais com mais de 100 mil habitantes até 31 de julho de 2022 (confira o calendário completo no final da reportagem), o que pode marcar o início de uma transformação no ensino básico e no ensino superior.
Universalização da internet no ensino básico
A frequência com maior capacidade de transmissão de dados é a faixa de 26 GHz (gigahertz). Como contrapartida, as empresas que conquistaram o direito de utilizá-la terão que levar internet de qualidade para as escolas públicas de educação básica.
O investimento é estimado em R$ 7,6 bilhões e caberá às operadoras Claro, Vivo, Tim, Algar Telecom e Fly Kink. Segundo uma reportagem do portal G1, o valor equivale a cerca de um terço dos recursos previstos para o Ministério da Educação (MEC) em 2022 – o cálculo não inclui gastos obrigatórios, como salários.
O compromisso de expandir a rede nas escolas públicas foi inserido às pressas na licitação, pois não estava previsto na minuta do edital elaborado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A medida aconteceu após pressão da frente parlamentar da Educação no Congresso Nacional.
O objetivo, com isso, é superar a desigualdade de acesso à internet na educação. Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 98,4% das instituições particulares estão conectadas. Nas escolas públicas, o percentual cai para 83,7%, o que significa um contingente de 4 milhões de alunos sem conexão.
Após a homologação do resultado do leilão da 5G, um grupo de trabalho será composto por representantes da Anatel, Ministério das Comunicações, MEC e empresas vencedoras da licitação. O grupo será responsável por projetar, acompanhar e garantir a instalação da conectividade nas escolas.
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Experiência aprimorada no EAD
Quando a pandemia forçou o isolamento social, as telecomunicações permitiram a continuidade das aulas em boa parte das instituições de ensino superior. Nos próximos anos, a expansão da educação a distância (EaD) e do ensino híbrido ganhará novos ares com a tecnologia 5G.
Atributos como mais velocidade e latência produzirão uma experiência fluida e confiável para alunos e professores no EAD. As videoconferências durante aulas síncronas, por exemplo, sofrerão menos com possíveis falhas técnicas, interrupções na conectividade e travamentos durante as chamadas.
“A integração de redes 5G na oferta educacional tem o potencial de revolucionar os problemas de conectividade e otimizar a logística de sala de aula, melhorando a qualidade de toda a experiência de aprendizagem”, escreve a chefe do Campus de Aprendizagem Aberta do Banco Mundial, Sheila Jagannathan, em artigo publicado no site da entidade.
Jagannathan lembra que, quando comparada a uma torre de celular 4G, uma torre 5G pode suportar cerca de 10 vezes mais dispositivos. “Isso é altamente relevante na educação, uma vez que a latência baixa e a maior largura de banda disponível oferecerão suporte a níveis superiores de comunicação em longas distâncias”, destaca.
A maior taxa de resposta e velocidade nos dispositivos móveis favorece o estudo flexível, onde e quando o aluno desejar. Trata-se, portanto, de uma oportunidade para acelerar a digitalização do ensino superior no Brasil.
“Expandir o acesso à internet rápida é um dos maiores impulsos que a educação digital precisa para penetrar em todos os cantos do Brasil. Estamos diante de um dos marcos de expansão e rápida transformação do setor, com a ampliação do 5G”, afirma o presidente da Faculdade Descomplica, Daniel Pedrino, em entrevista publicada na revista Forbes.
A nova geração também potencializará a aprendizagem imersiva através da realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA). Uma das vantagens, nesse caso, será a adição de recursos extras de resposta tátil em plataformas como laboratórios virtuais, aproximando as práticas online das presenciais.
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Os benefícios se espalharam pela gestão. Jagannathan aponta que o processamento de dados mais poderoso e o desenvolvimento da inteligência artificial a partir da rede 5G otimizarão ações de personalização do ensino.
“Ela vai facilitar a personalização, criando sistemas inteligentes para entender as necessidades exclusivas de cada aluno, identificando necessidades de mudanças de rota pedagógicas e criando jornadas de aprendizagem direcionadas”, projeta.
Prazos
Depois das capitais com mais de 100 mil habitantes, será a vez daquelas com mais de 50 mil habitantes receberem a tecnologia 5G. Confira, abaixo, o calendário completo:
- Julho de 2022: capitais com mais de 100 mil habitantes
- Dezembro de 2023: capitais com até 50 mil habitantes
- Julho de 2024: capitais com até 30 mil habitantes
- Julho de 2025: cidades com mais de 500 mil habitantes
- Julho de 2026: cidades com 200 mil habitantes ou mais
- Julho de 2027: cidades com 100 mil habitantes ou mais
- Julho de 2028: cidades com mais de 30 mil habitantes
- Julho de 2029: cidades com até 30 mil habitantes
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