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Uma das carreiras mais tradicionais no ensino superior brasileiro, a Engenharia passa, hoje, por um dilema. Se por um lado cresce a demanda por profissionais capazes de atuar em áreas estratégicas como infraestrutura, energia, tecnologia e sustentabilidade, por outro, existe um sério risco de escassez de mão de obra.
Em 2024, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimava um déficit de 75 mil engenheiros no Brasil. Para o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o quadro é ainda mais grave, chegando a cerca de 500 mil. O presidente da entidade, Vinícius Marchese, chegou a declarar que “se nada for feito até 2030, teremos um déficit de 1 milhão de profissionais".
Neste artigo, o portal Desafios da Educação busca entender os motivos que levaram à falta de interesse dos jovens pela área, aponta quais as especialidades mais procuradas pelo mercado e mostra como as instituições de ensino superior (IES) podem se adaptar para formar profissionais alinhados às demandas do setor.
Na década de 1990, os cursos de Engenharia estavam entre os mais disputados, tanto em universidades públicas quanto privadas. Atualmente, não figuram nem no top 10 das graduações com mais alunos matriculados, segundo o Censo da Educação Superior.
Para piorar, mais da metade dos estudantes que iniciam a graduação fica na metade do caminho. O estudo Mapa do Ensino Superior, divulgado pelo Instituto Semesp, indica que a taxa de evasão, somando todas as Engenharias, é de 57,1%, ultrapassando 65% na rede privada.
Como resultado, o número de formados vem caindo ano a ano. Um levantamento do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) revela que, em 2023, foram 95.607 concluintes nas várias modalidades. No ano anterior, haviam sido 97.672. De acordo com a mesma base de dados, a queda vem sendo observada desde 2018, quando se graduaram no Brasil 128.871 engenheiros.
A falta de mão de obra especializada contrasta com um mercado de trabalho superaquecido, no qual 92% dos cerca de 1,2 milhão de profissionais registrados em todo o País estão empregados. Destes, 78% atuam em sua área de formação, segundo o Mini-Censo Confea 2024, realizado pela Quest.
A alta formalização é outro fator positivo: 40% dos profissionais atuam em regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e 11% no serviço público. Além disso, os profissionais registrados ganham mais do que a média nacional — 68% das famílias possuem renda superior a cinco salários mínimos.
Com a empregabilidade em alta e a garantia de uma boa remuneração, o que estaria provocando, então, uma queda na procura pelos cursos de Engenharia?
Parte do problema se deve à incapacidade dos cursos de graduação de acompanhar as exigências do mercado. Mas as raízes do problema são bem mais profundas.
Um levantamento feito recentemente pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e pelo Instituto Locomotiva revelou que apenas 12% dos estudantes do ensino médio demonstram interesse em cursar Engenharia. Os principais motivos são dificuldades com cálculos, percepção de que os cursos são longos ou muito exigentes, custos, e falta de estímulo no ensino básico.
Para o presidente do SEESP, Murilo Pinheiro, mudar esse cenário demanda investimentos em educação desde o ensino fundamental, “para que as crianças se interessem pelas ciências exatas e aprendam efetivamente”. “Além disso, é necessário que as autoridades fiscalizem o funcionamento das IES, para que estas ofereçam aos seus alunos formação adequada e compatível com as exigências da atualidade, em acordo com as diretrizes já estabelecidas", diz.
Professor associado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o engenheiro químico Luís Fernando Mercier Franco concorda que o grande desafio da formação no Brasil é engajar e motivar os jovens. E, embora a evasão seja preocupante, considera que o principal problema é a “queda vertiginosa” na procura pelos cursos.
A saída, de acordo com Franco, passa pela transformação das estruturas curriculares, convertendo o modelo baseado em conteúdo para um modelo baseado em competências, como preconizado pelas novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos de Engenharia, de 2019.
“Para além de maquiagens a que temos assistido em algumas escolas, precisamos de fato de uma transformação que coloque o estudante no centro do processo de aprendizado. Essa transformação exige uma mudança paradigmática importante, em que o conteúdo deixa de ser o objetivo e passa a ser o substrato para o desenvolvimento de competências cognitivamente mais complexas”, afirma.
Conforme o professor, isso só é possível com uma inversão dos percursos formativos tradicionais. “Na sociedade do virtual, o que encanta é o real”, acredita. Por isso, oferecer atividades práticas é mais que apenas uma exigência para a formação profissional técnica: é uma maneira de despertar o interesse genuíno dos estudantes e conectar o aprendizado ao cotidiano.
Franco ressalta, ainda, o desafio da extensão universitária. Para ele, é urgente que os cursos de graduação proporcionem o encontro dialógico entre o estudante e os diversos atores da sociedade fora do ambiente acadêmico.
“A profissão de engenheiro não existe isolada no vácuo. Sua função precípua é contribuir para o desenvolvimento humano”, pontua. “Foi com a Engenharia que reduzimos a mortalidade infantil, que aumentamos consideravelmente a expectativa de vida e a renda média da população.”
Um bom exemplo de como algumas IES têm buscado inovar na formação de novos profissionais é a reformulação promovida pela Unicamp em sua graduação de Engenharia Química. Em 2022, a universidade paulista resolveu adotar um modelo de currículo centrado em competências.
Um dos destaques dessa mudança é a nova estrutura do laboratório de graduação. Antes, os experimentos eram rigidamente desenhados para garantir resultados previstos. Agora, os alunos recebem problemas abertos e são responsáveis por conceber, construir e executar os experimentos em escala semi-industrial.
“Esse laboratório recebeu um significativo investimento por parte da faculdade, e hoje é referência para o ensino de Engenharia. Ele permite mais interação e protagonismo do estudante, e uma maior integração de conhecimentos”, afirma Franco.
Na prática, um mesmo problema obriga os estudantes de Engenharia Química a mobilizar conteúdos de termodinâmica, fenômenos de transporte, cinética química, instrumentação, controle e segurança de processos, meio ambiente, entre outros. “A nova estrutura curricular já nasce extensionista, o que permite que o estudante desde cedo ponha em prática seus conhecimentos em benefício da sociedade”, conclui o professor.
Apesar da queda na procura, a profissão de engenheiro continua a apresentar grande potencial de empregabilidade, refletindo demandas sociais e econômicas emergentes. O portal Engenharia 360, focado em conteúdo sobre todas as Engenharias homologadas no Brasil (entre graduações e especializações), fez um ranking com as cinco áreas mais promissoras em 2025. São elas:
Essas especialidades refletem as tendências do mercado de trabalho para 2025, impulsionadas por avanços tecnológicos e demandas socioeconômicas. Evidentemente, quando se trata do interesse por parte dos estudantes, a demanda pode variar de uma IES para outra, como destaca o professor Luís Fernando Franco.
“No ingresso na Unicamp, usando dados recentes da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares), as mais procuradas são a Engenharia da Computação e a Engenharia Química. Considerando o ambiente de negócios no País, nota-se uma grande oportunidade para a indústria de biotecnologia, para a transição energética e para a inteligência artificial”, observa.
Por Redação
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