Ensino Básico

Flexibilizar métodos de aprendizagem é essencial para o próximo ano

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*Por Doug Alvoroçado

Não temos todas as respostas e nem todas as perguntas, mas de uma coisa temos certeza: as instituições educacionais não serão as mesmas após a pandemia da covid-19. O que vivemos na escola e nas instituições de ensino superior, principalmente pra nós de sangue latino, é um exagero em relação ao que entendemos como distanciamento.

Convivência apertada e abraçada, carinhos e beijinhos vêm tendo que ser substituídos por frias versões virtuais de tudo isso. Pelo menos até a descoberta da cura ou uma imunização da doença, da eliminação desse vírus e de sua propagação em larga escala.

Mas o que tem ocupado as cabeças de escolas e famílias não são apenas os protocolos de segurança, mas também sobre como será o ano letivo de 2021, que começará ainda em período pandêmico e com volta gradativa às rotinas de ensino.

Sabemos que as novas habilidades digitais podem auxiliar as instituições a cumprir esta fase. Mas, até que ponto a tecnologia será capaz de fornecer oportunidades educacionais iguais para alunos que participarem de uma sala de remota em relação aos que estarão nela presencialmente?

A pandemia da covid-19 evidenciou novos métodos de aprendizagem. Crédito: Freepik.

A pandemia da covid-19 evidenciou novos métodos de aprendizagem. Crédito: Freepik.

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Sofrendo uma espécie de preconceito, o aprendizado online carrega o estigma de ser de qualidade inferior comparado ao ensino presencial. Alguns teóricos e algumas pesquisas dizem o contrário e eu sempre repito que o ensino é fundamental, mas o que conta é a aprendizagem. Esta sim, pérola preciosa, independe de formato.

Se o discente alcançou o aprendizado não me cabe saber se foi em aula síncrona ou assíncrona, presencial ou virtualmente presencial. O que importa é tirar o máximo proveito da aprendizagem, independente do formato.

Também em minhas experiências tenho acompanhado e sinalizado que a modalidade de ensino criada para suprir este período de isolamento físico, o ensino remoto emergencial difere e muito de uma proposta bem arquitetada e fundamentada de ensino remoto, no qual se explora as vantagens e pontos fortes do virtual. O que fazemos hoje é ensino online, mas querendo que ele acabe para voltarmos ao presencial.

Durante o período em que ainda convivermos com o coronavírus, a qualidade do ensino, seja ele híbrido, presencial ou online, será a chave para os próximos anos na educação. Para os próximos três anos, a maioria dos educadores de ensino fundamental e médio espera que o aprendizado online e o currículo digital se tornem cada vez mais importantes, sendo ainda que a principal mudança nesse cenário foi tirar o espaço presencial escolar do centro da discussão. 

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Assim, peço que você imagine uma situação: o professor está em sala de aula neste momento de retorno gradativo das aulas. Na sua mente, toda uma preocupação com sua saúde, sua família e seu trabalho. Na sua sala de aula um grupo menor de alunos, distanciados, mas ainda alunos em idade escolar com todas as brincadeiras, nuances e agitação de uma turma de ensino fundamental (ou você pensa que a pandemia os deixou mais calmos?).

Em algum lugar da sala uma câmera transmite esta aula para os alunos virtualmente síncronos, que não vieram à escola por algum motivo, mas que estão em casa assistindo à aula (com todas aquelas características de turma de ensino fundamental, mas pelo menos em casa).

O professor dando a sua aula precisa equilibrar o contato com os alunos presentes fisicamente com os virtualmente e sincronamente presentes, de forma que ninguém se sinta menos assistido. Ainda precisa garantir que a gravação está clara e boa, pois um terceiro grupo de alunos, os virtualmente assíncronos, assistirá à aula gravada em outro horário, fará as atividades e apresentará seus trabalhos e também suas dúvidas posteriormente.

Ainda é preciso garantir o tempo e o direito destes alunos de interagirem com a turma, os conteúdos e o próprio professor, além de avaliar esses três grupos e dar oportunidades de aprofundamento e reforço de estudos antes de avançar para o próximo conteúdo.

Ufa! Só de ler e imaginar já é complicado. Mas está acontecendo.

Métodos de aprendizagem; No Pernambuco, os alunos voltam às aulas presenciais. Crédito: Divulgação.

Métodos de aprendizagem; No Pernambuco, os alunos voltam às aulas presenciais. Crédito: Divulgação.

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Injusto é pensar que todas estas tarefas precisam estar na mão do regente da turma. O mesmo futuro que descortinou novos protocolos e outras novidades deve também trazer inovações na carreira escolar, incentivando a bidocência, criando cargos de tutoria e monitoria no ensino. Isso para atender uma gama maior de situações, mediadores de chat, curadores de conteúdo estudantil, professores atores de vídeo-aula e outros cargos cercados de tecnologia e educação digital e midiática. 

Esse novo formato que tem se desenhado deve evoluir o que conhecemos de híbrido e apostar em uma palavra que o amplie. Eu aposto no termo “ensino flexível“, no qual toda a experiência didática e matética deve existir presencial e virtual, síncrona e assíncrona.

Você já parou pra imaginar que um aluno do sexto ano pode terminar seus estudos sem pisar nem um dia sequer na instituição? Pensávamos isso na EAD, não no fundamental. Mas agora é real.

Alguns acreditam que essa mudança repentina para o ensino híbrido, sem precedentes e não planejada, feita sem treinamento prévio e em larga escala, tende a trazer traumas. Eu acredito nas benesses que o novo modelo de educação trará, com experiências significativas e que desenvolverá o ensino de uma forma nunca antes vista.

A educação a distância ainda precisa superar dificuldades técnicas e estruturais, como a falta e a falha da internet e um grande número de estudantes e professores sem dispositivos conectáveis. Mas, acredito que a tecnologia pode ampliar o espectro de aprendizagem e promover um resultado maior, mais afetivo e significativo, mais assertivo, preciso e igualmente precioso. Além disso, será um divisor de águas no que entendemos hoje por educação formal.


Sobre autor

 * Doug Alvoroçado é pedagogo com pós-graduação em Atendimento Educacional Especializado (AEE) com experiência em Surdez, trabalha a inclusão com apoio de tecnologias educacionais e assistidas e é consultor em transformação digital para a educação credenciado Apple teacher e Microsoft Innovative Educator na Nuvem Mestra, empresa do Grupo INICIE Educação. 

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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