A trajetória do financiamento estudantil brasileiro começou em 1975, com o Programa de Crédito Educativo (Creduc). A medida ampliou o número de matrículas nas instituições de ensino superior (IES) privadas, beneficiando cerca de 870 mil pessoas.
Porém, a alta inadimplência, a falta de recursos e a ausência de mecanismos adequados para corrigir os débitos pela inflação evidenciaram as deficiências do programa, que acabou sendo extinto no início da década de 1990.
Seu sucessor, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), foi instituído em 1999, passando por uma reestruturação até chegar ao formato atual. Hoje, mais de 1 milhão de estudantes dependem do Fies para se manter nas IES privadas do País.
Em 2018, porém, com a inadimplência crescendo novamente, o programa sofreu um enxugamento. Em 2020, foram efetivadas apenas 47 mil novas matrículas – menos da metade das 100 mil prometidas pelo governo federal naquele ano.
Neste cenário, o financiamento estudantil privado (também conhecido como crédito estudantil) se tornou uma opção para quem deseja ingressar no ensino superior.
Como funciona o financiamento estudantil privado?
O financiamento estudantil privado é um empréstimo. O crédito pode ser contratado em bancos, fintechs (startups do setor financeiro) e nas próprias IES. Cada organização oferece o programa dentro das condições estipuladas pela empresa.
Normalmente, esse tipo de financiamento é feito para pagar um semestre da graduação – ao contrário do Fies, que abrange todo o curso. Outro aspecto que o difere do programa do governo é o prazo mais estendido para quitar a dívida. Mas ela costuma vir com juros ou ajustes.
Financiamento estudantil nos bancos
É possível obter financiamento estudantil no sistema bancário. Na maioria dos casos, o interessado precisa ter conta na instituição financeira, mas isso depende de cada programa. Veja quais são os bancos que oferecem esse serviço e suas condições.
Centro Universitário Bradesco
O Centro Universitário Bradesco é uma linha de crédito que possibilita até 100% do financiamento do semestre da graduação. Esse produto é disponibilizado através de convênio com a Autarquia Belemita de Cultura, Desportos e Educação, que mantém o Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco.
As parcelas são debitadas automaticamente na conta corrente do aluno. O prazo para que o valor integral do semestre seja quitado é de 12 meses.
Santander Universidades
O Santander Universidades concede diversas oportunidades para alunos do ensino superior, como bolsas de estudos, intercâmbio e financiamentos estudantil. Uma das linhas da instituição é o Credi Universidade.
Essa modalidade funciona como um cartão de crédito. O Santander disponibiliza um limite maior para compra de itens que ajudarão na formação (materiais de apoio, computadores etc.).
O programa ainda oferece um financiamento exclusivo para estudantes do curso de Medicina. É possível financiar, da quarta mensalidade em diante, com taxas a partir de 1,39% ao mês.
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Financiamento estudantil pelo Banco do Brasil
O Banco do Brasil é uma das instituições parceiras do Fies, mas também conta com uma linha de crédito própria. O BB Crédito Consignado é destinado a clientes correntistas. Com ele, os estudantes podem financiar seus cursos de graduação, pós-graduação ou até mesmo cursinhos e pagar em 96 meses.
Fintechs e IES
Fintechs são empresas de tecnologia que proporcionam soluções para os clientes através de serviços digitais. Dessa forma, todos os processos que antes eram feitos apenas em agências físicas podem ser efetuados pelo celular ou por computador.
As que oferecem linha de crédito estudantil, geralmente, trabalham de maneira integrada com instituições de ensino superior, escolas de negócios e empresas de diversos segmentos.
Confira a seguir três fintechs especializadas na oferta desse programa.
PraValer
A PraValer é uma edfintech. Ou seja, ela é uma empresa de solução financeira, mas focada no âmbito acadêmico. A instituição tem parceria com mais de 500 IES e grupos educacionais, como Ânima Educação, Universidade Mackenzie e Uninter, subsidiando parcial ou totalmente as mensalidades para cursos de graduação nessas organizações.
De acordo com a PraValer, a maior parte dos alunos obtêm o crédito universitário sem juros – a taxa máxima é de 2,19% ao mês, a depender da IES escolhida. Cerca de 200 mil pessoas já foram atendidas pela startup.
Mova
A Mova foi a primeira fintech brasileira a receber autorização para funcionamento na categoria de Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP), o que a permite realizar empréstimos sem intermediação bancária, conhecidos como peer to peer lending, ou simplesmente P2P.
Nesse modelo, a plataforma conecta investidores e estudantes que precisam de dinheiro para financiar seus estudos. Para os primeiros, a fintech garante uma rentabilidade maior na comparação com investimentos tradicionais. O estudante, por sua vez, se beneficia de juros mais baixos.
A instituição não tem parcerias com IES. Contudo, oferece uma linha de crédito estudantil exclusiva para consultores de beleza da Natura que estiverem dentro dos critérios estabelecidos por ambas as empresas.
Intersector
A Intersector é outra edfintech, mas focada no financiamento de cursos de pós-graduação lato sensu, como especializações, MBA, educação continuada, cursos in company e universidades corporativas. Desde 2013, a empresa afirma ter oferecido crédito a mais de 30 mil alunos no Brasil e no exterior.
A análise de crédito da Intersector inclui uma avaliação curricular do aluno. O objetivo é investir em profissionais que buscam capacitação e têm potencial para contribuir para o desenvolvimento acadêmico, econômico e social das suas áreas de atuação. A simulação, avaliação e concessão do crédito são realizadas digitalmente.
Atualmente, a startup trabalha em conjunto com mais de 50 IES e escolas de negócios, como a Faculdade Unimed, o Instituto de Pesquisas em Saúde de São Paulo e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
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