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Como proporcionar experiências práticas aos estudantes de Letras – Inglês

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prática inglês

Ensino de inglês: conheça o projeto “O ensino de Língua Inglesa na prática: micropráticas de ensino de inglês para a comunidade”, vencedor da 9ª edição do PPRMM, da Fundação Carlos Chagas. Crédito: Pexels.

O artigo a seguir é uma versão editada de Micropráticas de ensino de inglês para a comunidade: uma estratégia de formação inicial de professores de língua estrangeira, escrito por Rafaela Drey. O texto apresenta detalhes do projeto de extensão “O ensino de Língua Inglesa na prática: micropráticas de ensino de inglês para a comunidade”, um dos três vencedores da 9ª edição do Prêmio Prof. Rubens Murillo Marques (PPRMM), da Fundação Carlos Chagas. A premiação ocorreu em novembro de 2019.

Por Rafaela Drey

Atualmente, um dos principais desafios dos cursos de formação inicial de professores é a necessidade de oportunizar aos discentes situações que articulem o conhecimento técnico e a prática em sala de aula. Contudo, é no momento de entrar em sala de aula que os futuros professores revelam suas maiores dificuldades.

Isso ocorre, mais especificamente, durante as disciplinas de Metodologia e Laboratório de Ensino de Língua e também nos estágios supervisionados, quando os licenciandos precisam propor e pilotar projetos de ensino (BRONCKART, 2006), considerando a transposição da teoria para a prática e a realidade escolar em que estarão inseridos.

Pensando nisso, foi criado o projeto Micropráticas de ensino de inglês para a comunidade como estratégia de formação inicial de professores de língua estrangeira. A ideia principal foi de oportunizar aos alunos-professores do curso de licenciatura em letras com habilitação português/inglês, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), do campus Osório, a possibilidade de atuação prática em ambientes de sala de aula.

O projeto pretendeu, também, formar profissionais docentes capacitados para realizarem a transposição didática entre os conteúdos teóricos discutidos ao longo do curso e as práticas realizadas em aula.

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O projeto foi realizado durante todo o primeiro semestre letivo de 2018 como parte das atividades da disciplina de Metodologia e Laboratório de Ensino de Língua Inglesa, pertencente ao quarto semestre, que antecede os estágios (iniciados no semestre seguinte). A disciplina conta com 80 horas-aula (66 horas-relógio) – dessas, 15 horas são de prática de ensino.

É importante ressaltar que essa disciplina tem o objetivo de preparar os alunos para o momento do estágio, tanto em questões teórico-metodológicas como em questões práticas. O projeto teve duração de um semestre letivo (junto à disciplina supracitada).

Participaram da equipe de execução os 14 alunos do curso de licenciatura matriculados, além da professora formadora, que ministrou a disciplina.

Outro ponto importante a destacar é o perfil do curso: a licenciatura é ofertada na instituição desde 2015, no turno da noite. A grande maioria dos alunos tem um perfil trabalhador, atuando, em geral, no comércio durante o dia, e estudando à noite. Também não têm, em sua maioria, experiência de ensino prévia como docentes, tampouco atuam no ambiente escolar profissionalmente.

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O que foi abordado

O material selecionado levou em consideração a ementa e os objetivos da disciplina de Metodologia, na qual o projeto aconteceu, e foi abordado de forma teórica, a partir de leituras prévias, e discutidas durante as aulas. Alguns dos conteúdos abordados foram: abordagens e métodos de ensino de língua inglesa; ensino de habilidades linguísticas, gramática e vocabulário de/em língua estrangeira; engenharia didática e design de materiais didáticos; e design de avaliações.

Ao longo das discussões, foram analisadas situações de sala de aula e também diversos materiais didáticos, como livros, apostilas de cursos livres, materiais encontrados na internet disponibilizados para ensino de inglês e conteúdo multimídia (vídeos e jogos). A partir disso, se buscou construir com os alunos a noção de design de aula, elencando e avaliando os diferentes recursos disponíveis para construir um bom planejamento de aula.

Já no momento de realização das micropráticas de ensino, os licenciandos tiveram que dar conta dos conteúdos de estrutura gramatical da língua inglesa que faziam parte do currículo das turmas nas quais eles desenvolveriam suas aulas. Os conteúdos a serem trabalhados durante as micropráticas pelos licenciados foram apontados pelas professoras regentes, de acordo com as necessidades de cada turma.

Dentre os tópicos abordados nas aulas, foram selecionados os seguintes: preposições de lugar (in, on, at), tempos do futuro, verbo to be, e presente simples. Coube aos licenciandos estudar e pesquisar o conteúdo a ser ministrado na microprática e também buscar formas de didatizá-lo da maneira mais adequada de acordo com o perfil da turma (traçado durante as observações).

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Os procedimentos didáticos

Para dar conta do desafio de articular teoria e prática sem experiência prévia em sala de aula, foram desenvolvidas algumas estratégias de ensino, realizadas sequencialmente ao longo do semestre:

  • Discussões teóricas e construção de atividades práticas sobre aspectos do ensino de língua estrangeira: habilidades linguísticas (produção escrita, produção oral, compreensão de leitura e compreensão auditiva), gramática, vocabulário e avalições.
  • Construção dos planos de aula em duplas (ou design de atividades), a partir de orientações da professora formadora, dos colegas e das professoras da escola parceira.
  • Experiência de imersão no ambiente escolar: observação de aulas nas turmas em que as duplas iriam pilotar a aula planejada, e entrevista com as docentes regentes das turmas nas quais as micropráticas seriam realizadas. Estas atividades de preparação para as micropráticas tiveram o objetivo de oferecer uma vivência da realidade escolar similar àquela a ser encontrada no momento dos estágios supervisionados.
  • Execução das micropráticas de ensino, em duplas, nas oito turmas das séries finais do ensino fundamental de uma escola estadual parceira, localizada no centro da cidade de Osório/RS, no horário das aulas de Língua Inglesa regulares das turmas (manhã e tarde). Nesse momento, houve a presença da professora formadora na sala de aula, enquanto as práticas eram pilotadas no horário regular de aula dos alunos da escola parceira, nos períodos de Língua Inglesa – cedidos pelas professoras regentes, que acompanharam algumas das aulas.
  • Autorreflexão dos licenciandos sobre quais atividades foram eficientes, e quais teriam de ser reformuladas e por quais motivos. Além disso, construiu-se uma discussão entre o grupo a respeito de como essa experiência impactou na construção da profissionalidade docente, ou seja, do “ser professor” dos licenciandos.

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É possível perceber, neste momento, uma relação entre as atividades realizadas e o conceito de “comunidades de prática”. Segundo Wenger et al. (2002), essas comunidades seriam grupos de pessoas que compartilham interesse por um tópico, aprofundando-o a partir da interação de uns com os outros. A comunidade de prática só é composta por aqueles membros que possuem um senso comum de pertencimento e de identificação com o grupo, devido ao fato de terem interesses em comum.

Foi possível observar que a maioria dos alunos (13 dos 14 matriculados) formou uma comunidade de prática, juntamente à professora formadora e às professoras regentes da escola parceira. Isso fomentou de forma muito mais efetiva a ‘coconstrução’ de seu aprendizado prático sobre a profissão, ou do que o pesquisador Maurice Tardif (2002) denomina “saber experiencial”.

Considerando que o projeto foi inserido em uma disciplina curricular, a avaliação da aprendizagem dos alunos licenciandos foi realizada de forma processual, ao longo de todo o semestre, culminando com a avaliação do desempenho durante a pilotagem das micropráticas, segundo critérios pré-estabelecidos.

O primeiro momento de avaliação foi o desenvolvimento de um plano de aula para dois períodos de língua inglesa, de acordo com um modelo de plano de aula construído coletivamente. O segundo momento foi a reconstrução desse plano de aula, com uma atividade de avaliação inserida, após o feedback da professora e também após reuniões com as professoras regentes da escola pública parceira, que indicaram os conteúdos e habilidades linguísticas que gostariam que fossem desenvolvidas durante as micropráticas.

Já o terceiro momento constituiu-se na análise da performance prática dos alunos, a partir de alguns critérios de avaliação. São eles: uso da língua inglesa, introdução e fechamento da aula, domínio do conteúdo, sequência da aula de acordo com o planejamento, gerenciamento da sala de aula, uso de recursos, organização de material e atividades, interação com os alunos e gerenciamento do tempo de aula.

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Alguns apontamentos 

Para os alunos-professores, a experiência foi muito válida e enriquecedora, pois todos relataram que este contato inicial com a sala de aula “real” antes do momento de estágio permitiu que eles se preparassem com antecedência e pudessem refletir sobre suas angústias e dificuldades didático-pedagógicas. Também conseguiram se sentir, de fato, comprometidos com a dimensão prática do processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira na escola básica.

Em termos de currículo de curso, as micropráticas funcionam como uma espécie de “microestágio”, podendo contribuir para minimizar o impacto que muitos licenciandos sentem ao se deparar com a necessidade de ministrar aulas pela primeira vez em um momento que gera, usualmente, bastante ansiedade nos futuros professores – o estágio supervisionado.

Outro fator muito importante que enfatiza o retorno positivo do projeto foi a parceria com uma escola pública estadual da comunidade, pois trazemos a possibilidade de discussões com os docentes que atuam na escola básica pública, ouvindo suas necessidades e propondo atividades de formação continuada adequadas às suas realidades. Além disso, proporcionamos atividades diferenciadas aos cerca de 200 alunos da escola básica que puderam vivenciar outras metodologias de ensino e outras possibilidades de aprendizagem da língua estrangeira.

Ainda, não podemos deixar de mencionar o potencial multiplicador deste projeto. O fato é que as micropráticas se configuram como uma estratégia de formação docente que pode ser adaptada e desenvolvida em qualquer área, visto que todas necessitam articular as dimensões teórico-práticas.

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Outra estratégia multiplicadora que dimensiona o impacto do projeto se refere à publicação de um livro (DREY e SELISTRE, 2019), no qual se encontram discussões teóricas a respeito da constituição da profissionalidade docente (BRONCKART, 2006) dos licenciandos e também alguns planos de aula executados nas micropráticas de ensino. As discussões e os planos foram selecionados conjuntamente pela professora formadora, pelos licenciandos e também pelas professoras regentes da escola parceira.

A coletânea foi publicada através de um edital de fomento interno de pesquisa e está sendo distribuída gratuitamente em bibliotecas de outras instituições, entre os próprios licenciandos e, principalmente, em escolas públicas de educação básica da região, visando a apresentar novas possibilidades de trabalho com língua estrangeira.

Como professora formadora de novos docentes, a realização deste projeto e, principalmente, seus resultados tão encorajadores permitiram verificar que a dimensão prática na formação inicial tem um papel fundamental e decisivo na constituição de um futuro professor, e que quanto mais experiências práticas forem oferecidas aos licenciandos, mais eficiente pode ser a construção de sua profissionalidade.

Nos tempos atuais, parece impossível mudar o frustrante cenário do ensino de língua estrangeira na escola básica brasileira. Contudo, pequenas propostas como essa podem ter um impacto transformador em larga escala: aprimorando a formação inicial, teremos docentes bem preparados para dar conta dessa tarefa tão importante; enquanto professores já em atuação podem reconfigurar suas práticas; e alunos da escola básica podem vislumbrar uma nova possibilidade de aprender a língua estrangeira na escola.

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Sobre a autora

Rafaela Fetzner Drey é doutora em Linguística Aplicada e professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa no IFRS – campus Osório (RS), onde foi coordenadora do curso de Licenciatura em Letras Português/Inglês de 2015 a 2018. E-mail: rafaela.drey@osorio.ifrs.edu.br.

Referências

BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, discurso e desenvolvimento humano. Campinas: Mercado de Letras, 2006.

DREY, R.F.; SELISTRE, I.C.T. Ensino de inglês nos dias atuais: experiências práticas de sala de aula. Porto Alegre: Pragmatha, 2019.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

WENGER, E. et al. Cultivating Communities of Practice. Boston, MA: Harvard Business School Press, 2002.

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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