Ensino Superior

O que explica a expansão dos cursos de saúde e quais os desafios da área

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Em 11 de março de 2020, Tedros Adhanom, diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou pandemia mundial, devido aos avanços de contaminação da covid-19. Assim, a humanidade se viu diante de um cenário trágico, onde milhões de vidas foram perdidas em decorrência da doença. Nesse momento, os profissionais de saúde foram, e continuam sendo, a principal linha de frente no combate ao vírus.

A crise sanitária elevou a pressão sob médicos, enfermeiros e técnicos. Entretanto, a atuação dos profissionais da saúde inspirou estudantes que optaram por seguir essas carreiras. Como consequência, o número de matriculados em graduações da área cresceu em todo o país. É o que mostra um levantamento da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES) e da consultoria Educa Insights. Os dados são do último Censo de Educação Superior.

A análise mostra que os cursos de Psicologia, Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Medicina, Biomedicina, Farmácia e Bioquímica ocupam sete das 10 posições no ranking de graduações mais procuradas na modalidade presencial. Na educação a distância (EAD), também houve crescimento – no primeiro ano da pandemia, a busca subiu 78% na comparação com 2019.

O protagonismo das graduações da saúde

A pandemia acelerou o crescimento das matrículas em cursos da saúde. Mas a expansão da área começou há quase dez anos. Desde 2014, houve um aumento de 65,7% no número de graduandos na área. “Já existia um destaque dos cursos de saúde antes da pandemia, principalmente na modalidade presencial” explica o sócio-diretor da Educa Insights, Daniel Steigleder.

Outro fator que influenciou a ampliação das graduações da saúde no Brasil foi o surgimento de novas universidades. As inscrições em cursos como Medicina evoluíram 214,9% entre 2000 e 2019. Os dados são do  estudo da Sistemática de Avaliação Nacional, disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP). Atualmente, há 337 cursos de graduação em Medicina em atividade, sendo 35% vinculados em instituições públicas e 65% em instituições privadas.

O vice-coordenador da Comissão de Residência Médica do Hospital Federal da Lagoa (RJ) e editor-chefe da plataforma Jaleko, Felipe Magalhães, vê a expansão dos cursos com bons olhos, mas ressalta que os primeiros anos de oferta podem trazer dificuldades. “São faculdades que têm pouco tempo de existência. Por isso, ainda estão se formando e se estruturando”, afirma.

Leia mais: Saiba como desenvolver na sua IES o internato, etapa obrigatória em um curso de Medicina

Cursos da saúde EAD

A consolidação da educação a distância ajudou na expansão dos cursos da saúde. Para Magalhães, há momentos teóricos que podem acontecer na EAD. Além disso, os laboratórios virtuais permitem a simulação de atividades práticas no ambiente virtual de aprendizagem (AVA ou LMS, na sigla em inglês).

“Deve-se separar as faculdades para usar o espaço físico como laboratório ou atendimento de pacientes, ao invés de destiná-lo para que pessoas fiquem sentadas em cadeiras ouvindo umas às outras”, sugere Magalhães.

O levantamento da Educa Insights mostra que a EAD correspondia a 1% das matrículas das graduações da saúde em 2014. Em 2020, essa participação cresceu para 19%. “A principal mudança é que temos um volume maior de alunos EAD, o que acaba impactando no perfil. Principalmente, em relação à renda”, enfatiza Steigleder.

No caso dos cursos de Medicina, mesmo com o avanço da EAD, não existe uma regulamentação específica que permita a incorporação da modalidade na grade curricular dos cursos. De qualquer maneira, a EAD pode ser utilizada para aulas e disciplinas complementares, exercícios, entre outras práticas.

Leia mais: Cursos da Saúde atraem maioria dos alunos calouros de EAD

Mercado de Trabalho

As ofertas de emprego são um aspecto importante na escolha de qualquer graduação. Entretanto, segundo Steigleder, o mercado de trabalho não sofrerá um impacto negativo com a expansão dos cursos.

Isso porque o Brasil possui um déficit de profissionais na área da saúde, especialmente fora dos grandes centros urbanos. “No longo prazo, acredito que a demanda pelos cursos e a demanda por profissionais da saúde entrarão em equilíbrio”, assegura o sócio-diretor da Educa Insights.

Leia mais: O impacto do ensino superior no mercado de trabalho do futuro

Desafios impostas pela pandemia

A insuficiência de atividades práticas durante o período de isolamento social pode gerar um desafio para os profissionais formados na pandemia.

Embora as atividades práticas sejam facilitadas, atualmente, pelo uso de laboratórios virtuais com tecnologia de realidade virtual e aumentada, a primeira fase da pandemia trouxe dificuldades para as instituições de ensino superior (IES) nesse quesito.

laboratorios virtuais labs

“Vamos ter uma leva de formados que tiveram sua aprendizagem prejudicada. Eles terão que entrar no mercado assim e se adaptar”, projeta Magalhães.

Além disso, o foco no enfrentamento à covid levou a uma falta de casos em outras especialidades. Com isso, muitos residentes não tinham como praticar suas habilidades pela ausência de pacientes. “Mesmo em cenários práticos, não havia como treinar determinadas habilidades”, lamenta.

Apesar dos desafios, os cursos de saúde seguem em um momento propício de expansão. Nesse cenário, a inovação metodológica e tecnológica é fundamental para as IES aprimorarem sua atuação na área. Ao mesmo tempo, cabe aos alunos insistir no desenvolvimento individual para acompanhar as evoluções do setor.

Leia mais: Como a tecnologia transforma a prática e o ensino de Medicina

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