Ensino Básico

A escola precisa falar sobre saúde emocional. E aqui estão 3 razões para isso

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A aprendizagem e o comportamento socioemocional são elementos que andam juntos, sobretudo na vida escolar de crianças e adolescentes. E mesmo que a saúde mental infantil seja de fundamental importância, os dados sobre a condição dos alunos não são positivos.

O último levantamento feito pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), em 2018, aponta que o Brasil é um dos países com mais alunos ansiosos e tensos: 56% dos entrevistados relataram o problema.

Esse número coloca o Brasil em segundo lugar no ranking dos ansiosos para provas, mesmo que tenham se preparado para o exame. É a partir daqui que surgem problemas como síndrome de Burnout e depressão infantil.

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Saúde mental infantil: isolamento, solidão e timidez excessiva são sintomas de doenças. Crédito: divulgação

O espaço escolar é um ambiente estratégico na implementação de políticas de saúde e discussão dos transtornos. Isso porque, além de concentrar num único local a maior parte do público jovem, a escola é mais acessível à população quando comparada aos espaços que oferecem serviços de saúde.

No livro Saúde Mental na Escola – O Que os Educadores Devem Saber os organizadores Gustavo Estanislau, especialista em psiquiatria da infância e da adolescência, e Rodrigo Bressan, professor da pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e professor honorário do Instituto de Psiquiatria do King’s College London, listam alguns princípios que devem nortear as escolas:

  • visão ampla de todos os aspectos da escola, promovendo um ambiente saudável e que favorece a aprendizagem;
  • promoção da participação ativa de alunos e alunas;
  • compreensão de que o desenvolvimento da autoestima e da autonomia pessoal é essencial para a promoção da saúde;
  • reforço do desenvolvimento de estilos saudáveis de vida que ofereçam opções viáveis e atraentes para a prática de ações que promovam a saúde;
  • estabelecer inter-relações na elaboração do projeto escolar.

A escola precisa falar sobre saúde emocional. E aqui estão 3 razões para isso.

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1) Síndrome de Burnout

A primeira razão é porque há uma onda de desânimo e esgotamento invadindo as salas de aula. Conhecida como síndrome de Burnout, ela se caracteriza por um estado de esgotamento físico e mental, mais ou menos como uma vela que queima todo o seu pavio – o termo vem do inglês to burn out, que significa queimar por inteiro.

O Burnout foi criado pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger. Surgiu em 1974, mas só foi oficializado como síndrome crônica em 2019 pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Como se aplica à infância e adolescência? Imagine um estudante que tem um dia com 7 horas ou mais de atividade escolar, poucas pausas e muita exigência, somando-se aulas, testes, explicações e trabalhos de casa. Diante disso, quanto tempo sobra para lazer e descanso?

O problema se agrava mais quando o nível de exigência escolar não corresponde à resposta das crianças, o que pode comprometer a saúde mental infantil. É esse tipo de coisa que desencadeia o Burnout.

Conforme  a International Stress Management Association (Isma-BR), cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome. Ainda não há dados relacionados a crianças e adolescentes. No entanto, os sintomas e  primeiros sinais são os mesmos em todas as faixas etárias, com base em informações divulgadas pelo Ministério da Saúde:

  • acordar cansado depois de uma longa noite de sono;
  • falta de energia para coisas simples, como comer;
  • ansiedade;
  • isolamento;
  • solidão;
  • dores de cabeça;
  • insônia;
  • cansaço extremo;
  • negativismo;
  • desmotivação.

Leia mais: Em vez de ajudar, dever de casa virou um fardo aos estudantes 

Na escola, os educadores devem observar se a criança se queixa regularmente em fazer as atividades ou evita ficar com os colegas na hora dos intervalos – lazer que antes a empolgava.  Outros comportamentos podem ser: insegurança e ansiedade, e até choros, antes de iniciar uma prova; postura de irritação e cansaço durante as aulas e dificuldade de concentração e rendimento escolar baixo.

Se o educador identificar esses sinais no comportamento das crianças, é fundamental chamar os pais para conversar e orientá-los a procurar ajuda profissional. Isso se eles já não tiverem percebido algo de errado no comportamento filho. Até porque sintomas de Burnout infantil podem indicar um quadro inicial de depressão.

2) Depressão

A depressão não é um mal exclusivo dos adultos, ela afeta cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo.

Os sintomas de depressão infantil  podem ser confundidos com malcriação, pirraça, birra, mau humor, dentre outros, por isso, sua percepção por parte dos educadores pode ser difícil. Mas o que diferencia a depressão desses comportamentos é a intensidade, persistência nos sintomas e mudanças de hábitos normais das atividades da criança.

O transtorno que compromete a saúde mental infantil costuma se manifestar após uma situação traumática, como separação dos pais, mudança de colégio, morte de uma pessoa querida ou animal de estimação.

O diagnóstico em crianças é diferente em relação aos adultos. Os mais velhos se queixam e as suas atitudes revelam que algo está acontecendo. Já os pequenos sofrem e não sabem definir os sintomas como resultado de uma doença, que pode ser aliviada. Por isso, calam-se e se retraem até alguém se dar conta de que algo está errado.

Leia mais: Por que depressão e ansiedade afetam cada vez mais universitários

3) Ansiedade

A ansiedade é uma das patologias psiquiátricas mais comuns entre crianças. Como mostra os dados divulgados no início da reportagem, o problema é grande – e não diz respeito somente a um nervosismo antes de provas. A condição pode evoluir para uma depressão, por isso é importante ficar atento.

Possíveis gatilhos à depressão podem incluir viver em ambientes estressantes, separação dos pais e ser vítima de bullying, conforme  o psiquiatra Fernando Asbahr, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ele ainda alerta para sintomas em que são necessários atenção:

  • receio de ficar só;
  • timidez excessiva;
  • difícil interação (criança ou adolescente com dificuldades em fazer pedidos a um vendedor de loja, por exemplo);
  • tensão (aqui podem surgir queixas físicas, como dor de barriga e de cabeça).

Um olhar atento às mudanças repentinas de comportamento da criança é fundamental. Além de conversar com os pais do aluno para que eles o levem a um especialista, é indicado estimular a criança a brincar, participar de atividades recreativas e esportivas para que ela possa melhorar seu humor e manter contato com as outras crianças.

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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