Se o futuro do ensino superior na África é promissor, o presente exige investimento para receber o grande número de estudantes interessados. Dos 1,2 bilhão de habitantes do continente, 60% têm menos de 25 anos. Graças a uma ampla campanha nas últimas décadas para melhorar as taxas de participação nas escolas de ensino básico, o número de graduados no ensino médio é maior do que nunca.
Para se adaptar, instituições de ensino superior (IES) de todo continente desenvolvem novos planos de ensino e apostam em parcerias internacionais para suprir a alta demanda por qualificação.
Na medida em que a economia do continente se diversifica, cresce também a busca de uma força de trabalho mais qualificada. Necessidade que, por muito tempo, significou a diáspora dos estudantes africanos.
De acordo com o relatório de 2018 do Instituto Pew Research Center, os imigrantes da África nos Estados Unidos são mais qualificados do que seus colegas no continente de origem. Desses, 69% com 25 anos ou mais disseram ter pelo menos alguma experiência de formação superior.
As matrículas em cursos de graduação na África quase dobraram de 2000 para 2016: saiu de 4,5 milhões para 8,8 milhões, de acordo com dados da Unesco.
Para suprir às necessidades dessa comunidade em expansão, governos de países como Quênia e África do Sul definiram metas e perceberam a necessidade de aumentar o número de doutorados aos milhares já na próxima década. O objetivo é melhorar a qualidade e o tamanho das equipes acadêmicas e frear o êxodo de estudantes ao ampliar o acesso à educação superior.
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Repatriação
Uma dessas iniciativas ocorre na Universidade de Gana. Para atender a demanda por treinamento de professores, a IES convidou 20 acadêmicos da “diáspora” para trabalhar em conjunto com o corpo docente. Desde 2014, ano de sua criação, o projeto já treinou 400 estudantes africanos de doutorado.
A ideia é oferecer treinamento e mentoria aos estudantes de pós-graduação e professores, além de oportunidades de orientação de carreira e bolsas de estudo. A meta principal é aumentar a qualidade da educação doutoral na África Ocidental e reter talentos.
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Entretanto, evitar o êxodo de estudantes africanos não significa se fechar para oportunidades internacionais.
Segundo a Unesco, o futuro do ensino superior é cada vez mais transnacional. Pensando nisso, programas de instituições como o Instituto Africano de Ciências Matemáticas (AIMS) oferecem atrativos para interessados em desenvolver pesquisas de nível superior e internacional dentro de países africanos.
O programa também possibilita que pós-graduados africanos com mais de dois anos de experiência e que estejam fora do continente retornem de forma definitiva. A ideia é que acadêmicos escolham executar seus trabalhos de pesquisa em território africano.
O Brasil possui diversas iniciativas para cooperação educacional, acadêmica e técnica com países africanos, principalmente os de língua portuguesa como Angola e Moçambique. Programas, projetos e ações para o compartilhamento de conhecimentos e boas práticas são fomentadas pela mobilidade estudantil e pelo intercâmbio de alunos e profissionais da educação.
O Núcleo de África do Ministério da Saúde é um exemplo. Lá, são desenvolvidas ações de cooperação e de negociação internacional.
A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira promove a extensão universitária, contribuindo com a integração com demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Oportunidades digitais
O Relatório de Ciência da Unesco, de 2015, informa que, com a expansão de matrículas vindas principalmente de países recém-industrializados, o futuro do ensino superior depende de redes universitárias que permitam compartilhar seus docentes, cursos e projetos de pesquisa. Intercâmbio universitário e oportunidades EAD entram como alternativa.
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Nos últimos anos, as salas de aula online têm tentado melhorar a qualidade do ensino superior na África, mas ainda enfrentam o ceticismo de muitos alunos. A Unicaf University, instituição fundada em 2012, no Chipre, oferece programas focados em áreas como Administração de negócios, Educação e Saúde.
Oferecendo cursos em grande parte online, com algumas opções de aprendizado presencial, a Unicaf atinge 18 mil estudantes em todo o continente, muitos deles adultos e já atuando no mercado de trabalho.
Embora as salas de aula digitais tentem ampliar o alcance e melhorar a qualidade do ensino superior na África, ainda há ceticismo.
A educação online oferece a conveniência de estudo a qualquer hora e em qualquer lugar, característica especialmente atrativa para os estudantes de meio período. O problema é o custo: cerca de 4 mil dólares por curso.
O valor, apesar de alto para a maioria da população, está ao alcance de grande parte classe média da região. E muitos estudantes recebem bolsas de estudo.
Mesmo assim, menos de 10% dos estudantes em idade universitária na África estão matriculados no ensino superior, de acordo com o Banco Mundial. Em comparação, nos países mais ricos membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), essa parcela está mais próxima de 80%.
Universidades públicas de longa data da África têm lutado com a pressão para expandir sua capacidade sem sacrificar a qualidade do ensino. Muitas ainda relutam em adotar o processo de digitalização e oferecer cursos EAD. Entretanto, para garantir um melhor ensino superior na África ainda é preciso investimento alto – o que, historicamente, só é possível para uma pequena parcela da população.
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