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Antoni Zabala: autor reflete sobre educação no Brasil e mudanças no setor

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Antoni Zabala é uma referência internacional em pedagogia. Formado em Filosofia e Ciências da Educação pela Universidade de Barcelona, na Espanha, atualmente é diretor do Instituto de Recursos e Investigación para la Formación (IRIF) e do Campus Virtual de Educação da Universidade de Barcelona.

Zabala é autor de dezenas de artigos e livros, como: “Métodos para Ensinar Competências”; “Didática Geral”; “Como Aprender e Ensinar Competências”; e “Prática Educativa: como ensinar”.

Em entrevista concedida por e-mail ao Desafios da Educação, ele fala sobre as transformações pelas quais as escolas devem passar para se adequarem à realidade de um mundo em constante transformação, além de fazer uma breve análise do sistema educacional brasileiro.

Referência internacional em educação, autor defende uma aprendizagem integral, personalizada e significativa para enfrentar um futuro cada vez mais incerto. Créditos: Senac Pernambuco.

1. Quais devem ser os objetivos da escola do século XXI?

Há dois objetivos principais. Em primeiro lugar, deve-se privilegiar um sistema educacional que ofereça aos alunos os recursos que lhes permitam responder aos problemas que a vida colocará em todas as suas esferas: pessoal, social e profissional. Uma escola pensada para todos e que oriente cada um dos meninos e meninas na construção do seu projeto de vida pessoal, e não apenas profissional ou acadêmico.

Em segundo lugar, uma escola que, de acordo com o conhecimento científico sobre como ocorre a aprendizagem, estabeleça uma prática educativa que leve em conta as características únicas de cada um dos estudantes. Ou seja, uma escola personalizada e participativa, em que a aprendizagem seja significativa e funcional, deixando para trás modelos transmissivos e estratégias de simples memorização.

2. Qual a importância do ensino de competências neste cenário?

O futuro é imprevisível. As gerações atuais são as primeiras na história que não podem sequer imaginar quais serão os problemas que terão que enfrentar quando forem adultas.

Por isso, as pessoas devem aprender constantemente novos conhecimentos e habilidades. É necessário aprender a aprender, ser criativo, ter iniciativa, saber trabalhar em equipe e estar disposto a se comprometer pelo bem comum.

Para responder aos problemas que se colocam à vida atual e futura, é necessário que os alunos sejam capazes de usar conhecimentos, habilidades, valores e atitudes. Essa capacidade de usar diferentes tipos de conhecimento de forma integrada é chamada de competência e é importante aprender ela na escola.

3. Como formar cidadãos para essa realidade em constante transformação?

Com o envolvimento de toda a sociedade. Todas as instâncias sociais influenciam e determinam a formação de nossos meninos e meninas. É impossível para um sistema educacional, por si só, ser capaz de responder ao que é exigido da escola.

O compromisso com uma escola que responda aos desafios deste século exige um compromisso ativo de toda a sociedade. Caso contrário, a resistência à mudança (da própria administração, professores, famílias, universidade e elites intelectuais) impossibilitará a transformação essencial da escola.

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4. Quais são os principais obstáculos às transformações?

Uma mudança cultural. Uma mudança profunda no papel que a escola tem há décadas. As organizações e as escolas não mudam, mas todos os seus membros mudam. Isso implica um processo de aceitação de que a função da escola deve ser promover uma formação integral, em vez de uma função genérica, introdutória e acadêmica.

Como a tecnologia pode ajudar a transformar os modelos de ensino? Sem tecnologia a personalização da aprendizagem é praticamente impossível. Portanto, ela pode ser de grande ajuda para professores e alunos, desde que entendida como um recurso nas mãos dos professores.

5. O que o atual modelo de ensino tem a ver com a diminuição da participação dos alunos?

O conhecimento científico diz que só se consegue uma aprendizagem consistente e duradoura quando o aluno apresenta uma atitude favorável à aprendizagem, e esta atitude está diretamente relacionada com a promoção da autoestima.

O sistema atual é projetado para selecionar e não para orientar o aluno com base em suas habilidades e interesses. Se o objetivo é ajudar cada um dos estudantes, é fundamental utilizar estratégias de ensino que partam de situações ou problemas reais que estimulem a participação e a autoavaliação em relação às suas características pessoais.

Em um mundo audiovisual com estímulos constantes e soluções imediatas, a formação que a escola busca exige o uso criativo de estratégias didáticas complexas, como projetos, desafios, problemas, análise de casos e trabalho de campo.

6. Qual é a sua percepção do sistema educacional brasileiro?

O sistema brasileiro deve ser analisado sob duas perspectivas. Uma relacionada ao processo de universalização da educação e outra ao grau de transformação em que se encontram todos os países do mundo, de um modelo acadêmico de transmissão para um modelo participativo.

Nesse caso, o marco regulatório do Brasil, materializado nas competências estabelecidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cumpre os propósitos de uma escola que forma para a vida. Na realidade já existem há décadas escolas, mas, sobretudo professores, que estão nesse processo de transformação.

A capacidade de generalização dependerá das condições de cada escola e do apoio e recursos que ela possa ter. Se essas condições forem cumpridas, prevejo um futuro promissor para a escola brasileira.

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