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Dia Internacional das Mulheres: 3 livros para celebrar a potência feminina

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Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite“. A célebre frase da intelectual francesa Simone de Beauvoir é frequentemente lembrada no dia 8 de março – Dia Internacional das Mulheres.

Hoje, ela abre este texto por um trecho em específico: “que nada nos defina”.  Isso porque, apesar de apresentar lutas muito semelhantes, esse coletivo chamado “mulheres” é heterogêneo e multifacetado.

A vivência, os sonhos e a forma de enxergar o mundo de uma mulher negra, mãe solo e moradora de uma favela brasileira é muito diferente da maneira como mulheres no interior da China ou de uma mulher trans argentina veem o mundo.

Hoje, além de apresentar três obras que podem servir como apoio em planos de aulas de diversas disciplinas e cursos – da Literatura à Economia, passando pela Sociologia – o objetivo é celebrar a potência e a inteligência feminina, em suas muitas possibilidades.

Carolina Maria de Jesus, Camila Sosa Villada e Xinran mostram diferentes visões de mundo em suas obras. Crédito das fotos: Wikimedia Commons.

Um diário do Brasil

Se o Brasil fosse mulher e escrevesse um diário, muito provavelmente ele seria bem semelhante a “Quarto de Despejo”, obra de Carolina Maria de Jesus. O livro narra os dias de Carolina e seus três filhos numa favela na São Paulo da segunda metade da década de 1950.

Ela, uma mulher negra que vivia na linha da miséria, catando materiais recicláveis para garantir a subexistência da família, realizou uma leitura apurada da realidade, mantendo em diversos pontos um lirismo que funciona como fuga ao cotidiano.

Ao folhear as páginas o leitor é pego de surpresa pelas analogias que envolvem a observação do céu ou a leitura da situação política do País. A crueza com que as agruras diárias são relatadas e a luta diária pela sobrevivência dão um tom dramático à narrativa – é difícil não se emocionar diante de tantas dificuldades, como fazer uma refeição completa.

O retrato de um Brasil extremamente desigual e racista feito por Carolina há 70 anos não envelheceu, o que o torna ainda mais visceral. Por isso, sua leitura vem sendo cada vez mais celebrada e necessária, nas salas de aula e fora delas.

Entre o conto de fadas e o filme de terror

O Parque das Irmãs Magníficas”, da argentina Camila Sosa Villada, é narrado a partir da perspectiva de uma mulher trans em suas experiências em uma comunidade que acolhe e a ajuda na construção de seu próprio gênero. O enredo aborda a ida da personagem principal para a casa de Tia Encarna, uma mulher mais experiente, que construiu um espaço de acolhida para diferentes mulheres trans e travestis.

A obra funciona como uma espécie de autobiografia da autora, amplamente perpassada pelo realismo fantástico. Além do estilo marcante, que é usado para trazer à história uma série de metáforas, o livro envolve diversas questões sociais, desde o sexo enquanto trabalho, o sentimento de deslocamento social e não reconhecimento do próprio corpo até os pensamentos suicidas e a depressão.

A narrativa mescla elementos de diversão, alegria e dor. Existe uma beleza na transformação – uma poética na vivência de um gênero diferente do designado ao nascer – ao mesmo tempo em que não há simplicidade alguma nesse processo.

Essa é uma obra de leitura ágil (são apenas 208 páginas), mas com uma história que não deixa de apresentar contradições e complexidades. Isso a torna uma ferramenta valiosa para abordar questões de gênero e sexualidade de forma nada simplista.

O que é ser uma boa mulher?

Entre 1989 e 1997, a jornalista Xinran entrevistou mulheres de diferentes idades e realidades sociais, a fim de compreender a condição feminina na China de seu tempo. Apresentadora de um programa de rádio chamado “Palavras na brisa noturna” ela consegue acessar histórias de diferentes mulheres. Anos mais tarde, um compilado desses relatos deu origem ao livro “As Boas Mulheres da China”.

Entre as memórias, há a de uma mulher que sonha em ser militar, mas que vira dona de casa; narrativas sobre indígenas de uma região remota do país com alimentação escassa (que diante da extrema pobreza e cultura local só poderiam comer ovos quando estivessem grávidas); além de relatos de muita violência, opressão e uma completa falta de afeto e amparo, inclusive institucional.

De forma geral, o livro traz diferentes perspectivas para falar das variadas vivências femininas dentro da China, um país de dimensões continentais. Assim, a obra é uma forma de conhecer outra cultura, não apenas pelos seus grandes feitos históricos ou questões políticas. Pelo contrário, o texto nos convida a entrar nas casas, aldeias, e, principalmente, nas vidas das mulheres em uma das nações mais impermeáveis do mundo.


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