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Fnesp 2019 reuniu mais de 1 mil pessoas em São Paulo. Créditos: Fnesp/Alma de Gato Filmes.
SÃO PAULO (SP) — Encontros para discutir a educação são sempre relevantes, mas o sucesso é maior em épocas de rápidas transformações. Diante das incertezas da revolução digital, cerca de 1 mil pessoas estiveram no 21º Fórum Nacional do Ensino Superior ( Fnesp ).
Com 300 participantes a mais do que na edição passada, o evento aconteceu nos dias 26 e 27 de setembro, em São Paulo (SP). Na ocasião, mantenedores, gestores, líderes e outros representantes de instituições de ensino superior (IES) privadas foram provocados pelo tema Mudança de mindset: uma nova forma de pensar a educação .
A programação do Fnesp 2019 contou com palestras e discussões. A reconfiguração do mindset organizacional, o valor da educação na sociedade 4.0 e a apresentação de novos modelos educativos e mudanças na cultura de aprendizagem foram alguns temas explorados.
A seguir, o portal Desafios da Educação reproduz os principais insights e os destaques do Fnesp 2019.
Leandro Karnal.
Filósofo e professor da Unicamp, Leandro Karnal foi o primeiro palestrante do evento. Para ele, o Brasil precisa “desesperadamente de bons gestores educacionais”, ressaltando algumas habilidades que devem ser inerentes ao novo líder. Entre elas, a capacidade estratégica e a visão humanista. “Temos um déficit enorme nesse campo”, afirmou.
Ministro da Educação participou do Fnesp, em São Paulo. Crédito: Leonardo Pujol/ Desafios da Educação .
O ministro da Educação, Abraham Weintraub , começou sua participação repetindo as críticas que tem feito aos professores de universidades públicas, às administrações petistas e ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Depois, incentivou o setor privado de ensino superior a criar um sistema de autorregulação.
“O que o governo vai fazer por vocês (profissionais do ensino superior privado)? Nada. Vocês têm que se virar. Façam autorregulação, se reúnam”, disse.
Após a fala do ministro, o diretor-executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, afirmou ao Desafios da Educação que já há uma proposta “que não chega ser uma autorregulação, mas são agências de regulação independentes, credenciadas e fiscalizadas pelo Estado”.
Eric Mazur, da Universidade Harvard: “Práticas de avaliação adotadas pelas IES desencorajam a resolução de problemas e estigmatizam o fracasso”.
“As práticas de avaliação adotadas pelas IES desencorajam a resolução de problemas e estigmatizam o fracasso, criando uma aversão ao risco”, explicou o professor da Universidade Harvard, um dos destaques do Fnesp 2019. “Essas avaliações isolam os indivíduos e os privam de consultas a fontes e informações.”
Para Mazur, é preciso repensar os métodos de avaliação e aplicar nas salas de aula problemas da vida real, mimetizando situações do mercado de trabalho, incentivando a avaliação por pares e autoavaliação.
“Se o professor der um feedback , um retorno mais explícito, em vez de dar apenas uma nota, o aluno se foca mais no feedback do que na nota. Do contrário, ele só vai se preocupar com o número ou a letra que recebeu do professor”, disse o professor.
Luis Alcoforado: universidades enfrentam uma crise de identidade.
Outro destaque do Fnesp 2019 foi a fala do pesquisador e professor da Universidade de Coimbra, Luis Alcoforado. Ele refletiu sobre o valor da educação para a sociedade 4.0.
Para ele, as universidades enfrentam uma crise de identidade. “As universidades vivem uma constante tensão em relação à construção de suas identidades, seja referente ao ensino ou a pesquisa, a uma proposta mais cultural ou de formação profissional e em seu próprio público-alvo”, falou.
Um dos papéis da universidade atualmente é buscar uma nova forma de entender a construção do conhecimento humano, tendo ela cinco grandes desafios – segundo o professor de Coimbra:
Francisco Marmolejo: os líderes precisam “pensar fora da caixa e além do convencional”.
“Vocês não precisam ser especialistas, mas têm o dever de estar a par das novas tecnologias e de como elas podem ser utilizadas pelas instituições de ensino”, disse Francisco Marmolejo, líder de ensino superior do Banco Mundial, aos participantes do Fnesp na tarde de quinta-feira (26).
Para ele, os líderes precisam “pensar fora da caixa e além do convencional, refletindo sobre o passado e o presente para pensar o que vai acontecer com o mundo e, consequentemente, com a educação superior”.
David Garza: “Somos responsáveis pela aprendizagem do aluno”.
Os novos modelos educativos estiveram em pauta no painel que concluiu o primeiro dia de apresentações no Fnesp. O reitor da Tec Monterrey, faculdade privada sem fins lucrativos com 300 mil alunos em 26 cidades do México, compartilhou o case da instituição.
“Atualmente, adotamos novos modelos, novas pedagogias, tecnologias emergentes e inovamos em nossos espaços educativos”, afirmou David Garza. Entre as inovações educacionais aplicadas à sala de aula estão efeitos de holograma, aprendizagem personalizada e realidade aumentada e virtual.
“Como universidade, somos responsáveis pela aprendizagem do aluno, que acontecerá dentro de um contexto real com desafios que tomam rumos diferentes”, disse o reitor.
Um dos destaques do Fnesp 2019, Garza fez questão de ressaltar que na Tec Monterrey o processo o modelo de ensino e aprendizagem é feito por diversos caminhos escolhidos pelos próprios estudantes, acompanhados por professores, mentores, instrutores e assessores acadêmicos.
Conrado Schlochauer: ‘presentista’, não futurista.
Fundador da Teya, rede de iniciativas inovadoras em aprendizagem, Conrado Schlochauer alertou os gestores e líderes educacionais a não pensarem apenas no que está por vir. “Gosto de dizer que sou presentista e não futurista”, falou. “As pessoas pensam tanto no futuro que esquecem o que está acontecendo agora.”
Ele disse que muitos gestores estão desconectados com o presente e que a única forma de se adaptar aos processos de mudança é a aprendizagem ao longo da vida – o conceito de lifelong learning.
O segundo dia do Fnesp começou com a apresentação de dois cases de sucesso de IES que estão utilizando modelos estatísticos, big data e análise preditiva para aperfeiçoar suas práticas acadêmicas. O primeiro participante foi José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios.
A instituição lançou, em 2018, a LIT, uma plataforma de assinatura on learning. A ideia é transformar aluno no protagonista do seu próprio aprendizado, mostrando a ele o quê, quando e onde estudar.
A LIT conta com um robô para tutoria virtual. Seu nome é Paul. “É primeiro tutor do mundo que utiliza a tecnologia de inteligência artificial IBS Watson para ensinar conteúdos de negócios aos alunos e para personalizar o processo de aprendizagem”, afirmou Securato.
O pró-reitor de Iniciativas Estratégicas da Universidade do Sul da Flórida, Bill Cummings, mostrou como a instituição usou a análise preditiva para diminuir os riscos em relação à evasão dos alunos.
A análise preditiva utiliza dados, algoritmos estatísticos e técnicas de machine learning para identificar a probabilidade de resultados futuros, a partir de dados históricos. Segundo Cummings, essa análise revelou a probabilidade de persistência para cada aluno, permitindo uma intervenção mais direcionada e eficaz.
Bill Cummings, da Universidade do Sul da Flórida: dados históricos diminuíram evasão. na IES.
Para não ficar refém apenas da receita gerada pelas matrículas dos alunos, a Univates, de Lajeado (RS), buscou fontes alternativas. O caminho foi unir o potencial acadêmico à capacidade empreendedora de prestar serviços para a comunidade. A afirmação foi de Oto Moerschbaecher, pré-reitor da instituição, que apresentou as atividades do laboratório UniAnálises, da Unidade de Negócios em Tecnologia da Informação da Univates.
Após enfrentar problemas financeiros e de gestão, em meados de 2004, a Unisinos mudou o planejamento estratégico, transformando-se em uma instituição empreendedora por meio da inflexão tecnológica.
A Unisinos começou a aplicar a tecnologia criando institutos tecnológicos ligados à programas de pós-graduação com equipe própria. “A inovação só existe a partir do reconhecimento de seu valor pelo mercado e isso é feito por empresas, não pelas universidades. Entram aí nossos parques tecnológicos que mantêm parcerias com empresas nacionais e internacionais”, explicou Daniel Puffal, professor de Gestão de Negócios da IES.
O Fnesp 2019 encerrou com um painel de debate sobre o poder transformador da educação. Debora Garofalo, finalista do Global Teacher Prize, falou que o primeiro passo para mudar a realidade dos alunos é por meio de uma aprendizagem criativa e envolvente.
“A escola precisa mudar e ser atrativa para os alunos. Os estudantes precisam construir soluções a partir de seus problemas reais. Vamos estar sempre lidando com seres humanos”, disse Garofalo.
Débora Garofalo: finalista do Global Teacher Prize.
Ética, empatia, pensamento sistêmico, alfabetização digital e currículo interdisciplinar: esses são alguns dos fundamentos para a “universidade 4.0”, segundo Angelica Natera, diretora Executiva da Laspau.
Mas inovação leva tempo e as IES precisam desenvolver estratégias que levem em consideração tanto os aspectos individuais quanto o das próprias instituições. “Oferecer recursos e entender o poder das informações também são fundamentais para a transformação da educação”, disse ela.
Ricardo Paes de Barros, representante do Instituto Ayrton Senna, encerrou o evento ao falar sobre a relação entre educação e empregabilidade. Segundo ele, o país não está sabendo promover o diálogo entre as IES e o mercado de trabalho.
Paes de Barros ressaltou que educação é a mãe de todos os direitos universais. “Uma sociedade justa permite que as pessoas desenvolvam seus talentos, e é impossível que uma sociedade se beneficie dos outros direitos universais sem antes oferecer uma educação de qualidade que permita esse desenvolvimento pleno.”
Por Leonardo Pujol
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