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Na abertura do CBESP, lideranças defendem mais inclusão no ensino superior

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Mesmo com desfalques de última hora – o ministro da Educação, Camilo Santana, e a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva –, a abertura do XV Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (CBESP), nesta quarta-feira (24), foi marcada pela presença de diversos nomes de peso. Nesta edição, o tema do evento é “Liderança inovadora: o desafio da educação superior”. 

Cerca de 450 pessoas, entre gestores de algumas das principais instituições de ensino superior (IES) do Brasil e de edtechs como a Plataforma A, lotaram o auditório do Tauá Resort Alexânia (GO), onde ocorreu a cerimônia. Santana acabou entrando em meio à solenidade, por vídeo. Já Marina Silva, que faria a palestra magna de abertura, estará na cerimônia de encerramento, às 12h de sexta-feira (26). 

Solenidade de abertura do XV CBESP contou com diversas lideranças da educação superior. Crédito: Divulgação.

Com a ausência do ministro, coube à secretária-executiva do Ministério da Educação (MEC), Izolda Cela, fazer as honras de representar o governo federal. Ela participou de uma chamada de vídeo ao lado da secretária de Regulação e Supervisão da Educação Superior, Helena Sampaio, que na sexta-feira estará em um dos painéis do evento. 

Em sua fala, Cela elogiou a temática do CBESP. “É importante o engajamento das entidades do setor em um debate propositivo, que busque se comprometer com a formação de lideranças e ajude a abrir caminhos para melhorias. Não tenho dúvidas de que esse é um vetor de transformação para o Brasil que todos nós desejamos: mais forte, igualitário, com desenvolvimento sustentável e melhores condições de vida para as pessoas”, disse. 

A seguir, o secretário executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular e diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES),  Celso Niskier, informou que o titular do MEC faria sua participação de forma virtual. Após muitos pedidos de desculpas, Santana explicou o motivo da ausência. 

“Estava em reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir as perspectivas do novo projeto do arcabouço fiscal, para retornarmos os gastos com educação a 18% (da receita líquida), permitindo mais investimentos para os próximos anos”, argumentou.

“A educação deve ser a prioridade de qualquer país. E a história tem mostrado que quem não investe em educação está fadado ao insucesso.”

Ao celebrar a realização do CBESP, Santana falou do desafio de assumir O MEC. “O Brasil precisa avançar em todos os níveis, desde a educação básica, com a melhoria da alfabetização, a escola de tempo integral e a modernização de seu sistema de ensino, e fortalecer a educação superior, tanto pública quanto privada”, declarou.

Para isso, o ministro defendeu a capacitação dos docentes que atuam na educação básica como uma prioridade. “É um desafio enorme, sem dúvida. Conto com a colaboração de todos vocês para construir um grupo de trabalho para aperfeiçoar a formação de professores. Essa construção coletiva é a única forma de encontrarmos caminhos e consensos para uma educação de qualidade no Brasil.”

Ministro Camilo Santana participou da abertura por meio de vídeo. Crédito: Divulgação.  

Lideranças engajadas e conscientes 

Defendendo uma visão de “diálogo, inclusão, diversidade e inovação”, Celso Niskier abriu os trabalhos presenciais destacando que essas são as características que se deseja dos gestores hoje em dia. “Precisamos evoluir para oferecer uma educação de qualidade. E isso passa por lideranças conscientes, engajadas e socialmente comprometidas”, ressaltou. 

Celso Niskier, secretário executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular e diretor-presidente da ABMES. Crédito: Divulgação.

O educador usou o episódio recente de racismo contra o jogador de futebol brasileiro Vini Jr., do Real Madrid, para mostrar a dimensão do desafio que os líderes precisam superar. “Inclusão e diversidade é não deixar ninguém pra trás. Não devemos tolerar nenhuma forma de discriminação, e casos como esse do Vini Jr., a quem prestamos solidariedade, mostram como estamos falhando na educação de nossos jovens”, ponderou Niskier. 

Por fim, ele ressaltou a riqueza única do modelo universitário brasileiro, que oferece diversas opções para os estudantes. Mas destacou que, para além da formação acadêmica, todos devem estar comprometidos com a formação de cidadãos com valores, “inclusive de defesa da democracia, que achávamos ser algo já consolidado”. 

O discurso da representante da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, foi pelo mesmo caminho. Ela lembrou que o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU nº4 prevê educação de qualidade “equitativa e inclusiva” para todas as pessoas.   

“Nos países da América Latina, o acesso ao ensino superior passa por medidas de financiamento, disponibilização do acesso, por meio das cotas étnico-raciais e sociais, como vimos no Brasil, e também por universidades interculturais, com conteúdos específicos para povos indígenas, por exemplo”, afirmou. “Como única agência da ONU com mandato para o ensino superior, buscamos trabalhar para que esses alunos tenham acesso a uma educação de qualidade.” 


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Licenciaturas como prioridade 

Em sua fala, o ministro Camilo Santana também mencionou a necessidade de melhorar a qualificação docente. Ele lembrou do baixo desempenho em cursos de licenciatura, ao que o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Manuel Fernando Palácios da Cunha e Melo, reforçou que melhorar esse cenário é uma das prioridades do órgão.  

“Queremos aproveitar o ciclo que avalia as licenciaturas brasileiras em 2024 para introduzir novos instrumentos, produzir informação de maior valor para todas as instituições do setor público que planejam a formação de professores e avançar para territórios que até aqui não foram objeto de observação”, explicou. “Por isso faço um chamamento de colaboração com o Inep, para que esses instrumentos tenham participação direta de todos.” 

Parte dessa estratégia, enfatizou Palácios, inclui uma ação integrada envolvendo as IES para elevar a qualidade da formação de professores da educação básica. Por fim, ele destacou os esforços do Inep para aprimorar os processos de avaliação, considerados excessivamente lentos e fragmentados. “Nosso objetivo é estabelecer uma relação mais equilibrada entre as atividades de regulação e de avaliação”, concluiu. 

Público lotou auditório no primeiro dia do CBESP 2023. Crédito: Divulgação.

Desigualdades refletidas na educação 

Conforme o presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE), Luiz Roberto Liza Curi, quando se fala em gestão inovadora no ensino superior, é preciso entender que os gargalos no sistema educacional brasileiro refletem a desigualdade social e econômica do País. “O desafio não é fazer o estudante entrar na universidade, mas concluir a graduação”, provocou.  

Curi lembrou que o Brasil tem cerca de 47 milhões de estudantes da educação básica, mas são pouquíssimos os que conseguem cursar uma graduação. “Apenas 60% dos 47 milhões chegam ao ensino médio e, desses, 40% ingressam ou tentam ingressar na universidade, algo em torno de 870 mil. Depois, muitos evadem por não ter repertório cultural para seguir seus estudos”, lamentou o presidente do CNE. 

Para ele, as IES precisam assumir a responsabilidade de “reordenar a trajetória dos estudantes”.

“É preciso acolher os ingressantes com déficit de aprendizado, que são muitos. Reordenar a trajetória desses jovens é a única forma de oferecer a eles uma perspectiva de empregabilidade, de inclusão. Para isso, precisamos de uma gestão transformadora, deixarmos de ser conteudistas e nos atermos a currículos voltados para o futuro, não para o passado. E com acolhimento e respeito intelectual a quem entra na universidade”, completou Curi. 

#EducaçãoMaisForte 

Ao final da cerimônia, foi divulgado o lançamento da campanha #EducaçãoMaisForte. A iniciativa visa mobilizar a sociedade e os governantes para a importância das instituições de ensino privadas na educação brasileira.  

Cerca de 16 milhões de alunos brasileiros estudam em instituições particulares em todos os níveis. No ensino superior, 87% do total de faculdades, centros universitários e universidades formam e capacitam 75% dos alunos, o que representa cerca de 6,3 milhões de pessoas, conforme dados do Censo da Educação Superior.  

Confira o vídeo da campanha: 

Planejar é preciso 

Encerrando a noite, Celso Niskier e Daniel Castanho, vice-presidente da ABMES, participaram de uma conversa com Margarida Mano, vice-reitora da Universidade Católica Portuguesa, em que o tema foi a importância do planejamento estratégico para as IES. 

A educadora, que já desempenhou o cargo de ministra da Educação e Ciência de seu país, lembrou do início da década anterior, quando alguns países da Europa entraram em crise e passaram pelos “anos da troika”, como ficaram popularmente conhecidas as imposições da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI. 

“Foi um período difícil, eu estava na Universidade de Coimbra. Conseguimos sobreviver a isso por causa do planejamento, que nada mais é do que uma forma de nos organizarmos de forma estruturada para o futuro. Não sabemos o que vai acontecer, mas podemos construir cenários sobre o que verdadeiramente é importante”, disse. 

Mano também aludiu ao período de pandemia, destacando o quanto é importante pensar até mesmo em variáveis que normalmente seriam descartadas. “Era algo de baixa probabilidade, mas de alto impacto quando aconteceu.” 

O planejamento não é necessário apenas em situações de catástrofe. Nesse sentido, ela mencionou o avanço da inteligência artificial (IA), que requer uma estratégia diferente. “Não sabemos o quanto isso vai impactar, mas sabemos que vai. A forma como vamos lidar com essas ferramentas nos próximos cinco, seis anos, pode ser completamente diferente.” 

Nesse momento, Niskier, cujo discurso havia sido bastante elogiado pelos participantes do fórum, fez uma revelação: teve uma ajuda do ChatGPT para escrever o texto. “Utilizei prompts com questões que queria abordar, dei o tom e depois fiz algumas modificações”, admitiu. 

De volta à questão do planejamento, Margarida Mano ressaltou a importância de os educadores tentarem antecipar os cenários futuros. Mas alertou: não há como planejar tudo. “É preciso ter dois fatores em mente. Um deles é a definição de um foco. O outro é um horizonte temporal, o período em que esse planejamento vai ser executado”, explicou a educadora portuguesa. 

Realizado pela Linha direta e promovido pelo Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular, o CBESP continua nesta quinta-feira (25), com mais painéis transmitidos ao vivo pelo YouTube. Confira a programação completa aqui. 

Assista na íntegra a abertura do congresso:


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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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