Em uma placa de arduino, um leitor digital transforma o alfabeto português em braile por meio de código morse. A seguir, a codificação das palavras é registrada por pinos, que se levantam simultaneamente para que o deficiente visual possa tocá-los e fazer a leitura do texto.
Esse sistema de leitura foi criado por três alunos de ensino fundamental do colégio Vital Brazil, localizado na Vila Butantã, em São Paulo. “A ideia é mostrar que uma pessoa com deficiência visual pode ser autônoma sem ficar restrita apenas a obras publicadas em braile. Para isso, ela poderá usar recursos diversificados”, diz Matheus Sousa, um dos alunos responsáveis pelo projeto.
No modelo, existe também a opção de ouvir a descrição do documento, já que os pinos emitem sons em sequências que representam as letras do braile. “Como não trazem a entonação correta, muitos audiobooks não conseguem transmitir emoção ao leitor. Já o nosso sistema é capaz disso”, observa Matheus.
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A iniciativa dele e de seus colegas obedece à metodologia da aprendizagem baseada em projetos, que tem como objetivo desafiar os alunos na busca de soluções inovadoras que produzam melhorias na sociedade.
A aprendizagem baseada em projetos inicia a partir de um problema sem resposta fácil, que estimula a imaginação e incita os estudantes a saírem da posição de apenas ouvintes, deixando-os livres para montar, planejar e desenvolver seus planos, com o professor atuando como tutor.
Depois de definido o tema, começa o processo de pesquisa, estabelecimento de hipóteses e procura por recursos, no qual os alunos desenvolvem o trabalho em equipe, o protagonismo e o pensamento crítico. A metodologia também gera a integração de diferentes conhecimentos e suas aplicações na prática.
Aliar o ensino à prática no ensino básico, aliás, é o propósito do mais novo programa do Ministério da Educação (MEC). Divulgado no dia 6 de novembro, o Educação em Prática quer aproximar o ensino superior do básico.
Instituições de ensino superior (IES) parceiras da iniciativa deverão abrir suas portas, disponibilizando materiais e professores para que os estudantes ampliem seus conhecimentos, sempre com foco em suas habilidades e aptidões. A intenção é também que, por meio do programa, os alunos completem a carga horária do currículo escolar.
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Botando a mão na massa
Uma das principais iniciativas da escola Vital Brazil é a Mostra Científica-Cultural, na qual, ao longo de um ano, os alunos do 9o ano do ensino fundamental ao 2o ano do médio desenvolvem projetos nas áreas de humanas, exatas ou biológicas.
Os jovens pesquisadores escolhem os próprios temas que irão desenvolver. A seguir, elaboram pré-projetos com objetivos, hipóteses e planos de trabalho, executando-os por meio de experimentos, registros e leituras. “O professor é um orientador. Ele apenas direciona e leva o aluno para reflexão”, salienta Suely Corradini, diretora pedagógica do colégio.
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A mostra deu tão certo – já está na oitava edição – que o colégio criou, em 2019, o Prêmio InovaVital. A premiação englobou todos os alunos da instituição, desde o ensino infantil até o médio, e os estimulou a pensar em projetos a partir de problemas da sociedade.
Os estudantes cumpriram diferentes etapas da gestão de projetos, como pesquisas de mercado, entrevistas em campo, protótipo, teste e validação. No total, foram mais de cem ações desenvolvidas com temas que vão da sustentabilidade à educação.
A captação de energia solar tem se mostrado cada vez mais viável como alternativa sustentável. Pensando nisso, os alunos Aureo Alvarenga, Eric Dobashi e Tiago Leão, do 5º ano, desenvolveram uma placa de energia solar com capacidade de carregar um celular até a marca de 100%.
A placa funciona como um carregador portátil tradicional, que armazena a carga de energia, que, por sua vez, é repassada para a bateria do aparelho. A ideia é instalar o dispositivo no pátio do colégio com cinco entradas para conexão USB.
De outra parte, preocupadas com o descarte adequado dos resíduos produzidos por casas e edifícios, as alunas do ensino fundamental Júlia Gomes, Mariana Dias, Larissa Bento, Rafaela Oda e Pietra Miho criaram a Biorecicla.
Como funciona? Um sistema de tubulação direciona os resíduos por meio de uma máquina que os compacta e já os prepara para a coleta. O sistema pode reduzir em até cinco vezes o volume de material coletado. Com isso, diminui custos financeiros e a emissão de poluentes, à medida que baixa o fluxo de caminhões de lixo utilizados durante o processo de coleta.
“Em todos esses projetos, a parte teórica é trabalhada concomitantemente”, sublinha Suely. “Vamos mostrando aos alunos a importância de pesquisar e de ir buscar uma fonte”, complementa.
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Dentro da sala de aula
No Vital Brazil, a aprendizagem baseada em projetos também é praticada sem precisar sair da sala de aula. Na disciplina de inglês, fora as aulas regulares, há também as aulas de keep learning realizadas uma vez por semana. Nelas, são desenvolvidos projetos trimestrais interdisciplinares.
Longe das famosas listas de vocabulário ou materiais gramaticais, os projetos são pensados para fomentar a troca de experiências, a vivência de situações cotidianas e o desenvolvimento do pensamento crítico.
Para a diretora pedagógica do Vital Brazil, trabalhar com projetos não depende do porte, e sim da cultura da instituição. “No Vital, iniciamos pela formação do professor e depois avançamos para o trabalho com os alunos”, diz Suely Corradini. “É essencial o professor entender qual é o projeto e a cultura da escola.”
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