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O grupo americano Laureate anunciou a venda para a Ânima de seus ativos no Brasil, o que inclui instituições como UnP, UniRitter, Unifacs e Anhembi Morumbi (foto acima). O valor da transação foi de R$ 4,6 bilhões – montante composto por R$ 3,8 bilhões em dinheiro,  além da assunção de uma dívida líquida de R$ 623 milhões e a taxa de rescisão da Ser Educacional, de R$ 180 milhões.

O caminho até a venda

A Laureate International Universities havia informado ao mercado o interesse em se desfazer de todo o seu braço de educação ainda em 2020. Isso significava 875 mil estudantes em 25 instituições de 10 países como Brasil, Peru, Estados Unidos, México, Austrália e Reino Unido.

A Laureate Brasil é formada por 12 instituições. São mais de 50 campi em sete estados, além dos polos EAD. A rede inclui 267 mil estudantes espalhados por instituições como FMU e BSP – Business School, os centros universitários UniNorte, IBMR, UniRitter, UniFG e Fadergs, a Faculdade Internacional da Paraíba (FPB), a EAD Laureate e as universidades Anhembi Morumbi, UnP e Unifacs.

Os ativos que a Laureate pôs a venda no Brasil – e que a Ânima está prestes a obter. Créditos: divulgação.

Com um portfólio robusto, a Laureate Brasil se tornou um ativo cobiçado pelos grandes grupos – o que transformou a disputa em uma verdadeira briga de titãs. Além da Ânima, participaram da concorrência o grupo Ser Educacional, um dos maiores do Nordeste, e a Yduqs, dona da marca Estácio. A Cruzeiro do Sul também teria demonstrado interesse, mas sem ir adiante.

Leia mais: Pandemia acelera aquisições no ensino superior

Em 13 de setembro, um domingo, a Ser informou em fato relevante que havia comprado a Laureate Brasil, por aproximadamente R$ 4 bilhões.

Só que a transação tinha uma cláusula “go shop”. Isto permitiu que a Laureate aceitasse propostas mais atraentes – embora a Ser tivesse preferência em igualdade de condições. Do contrário, a Laureate encerrava o acordo, pagando multa contratual rescisória de R$ 180 milhões à Ser Educacional.

No dia seguinte, a Yduqs informou que tinha intenção cobrir a oferta.

Na mesma semana, a Ânima também entrou no páreo.

Especulou-se no mercado que, ao permitir o anúncio de compra da Ser, a Laureate “forçou” as demais interessadas a correr com suas propostas. Elas precisavam ser apresentadas até 13 de outubro.

A escolha pela Ânima

Conforme os dias passavam, e a data para a conclusão da venda da Laureate se aproximava, a Yduqs apareceu como favorita para a aquisição, devido ao fôlego financeiro. Para isso, a Yduqs chegou a apresentar um instrumento de comprometimento de crédito, no valor de até R$ 4 bilhões, além de uma comissão de descontinuidade independentemente do sucesso da oferta.

A proposta, no entanto, foi preterida. Entre outras razões, porque uma transação com a Yduqs poderia gerar problemas concorrenciais no Conselho Administrativo Defesa Econômica (Cade), arrastando a negociação por até um ano. Esse ponto é relevante porque os controladores da Laureate têm pressa em se desfazer do braço de educação.

Ao fazer sua oferta inicial, de R$ 4,42 bilhões, a Ânima salientou esse impasse. E, para se antecipar a possíveis questionamentos do Cade, incluiu em sua oferta a venda da FMU,  faculdade da Laureate localizada na capital paulista. Trata-se da mesma praça onde está a Universidade São Judas – uma das 15 marcas do grupo Ânima, que incluem Una, UniBH, HSM, Unisociaesc e Ebradi, entre outras.

Evento em 2019 na Universidade São Judas: se venda da Laureate for concluída, Ânima fortalece presença na região de São Paulo.

Leia mais: As 10 maiores instituições de ensino a distância no Brasil

No dia 21 de outubro, uma quarta-feira, a Laureate informou ao mercado que pretendia concluir a venda dos ativos para a Ânima e rescindir a negociação com a Ser Educacional. Mas a empresa de Janguiê Diniz, a oitava maior do setor, não aceitou a notícia calada e impetrou uma ação judicial que interrompeu as negociações.

A Ser alega que a Ânima não tem garantia firme dos bancos para levantar os recursos financeiros necessários para a aquisição, nem condições de suportar um financiamento elevado. Além disso, em um comunicado, a Ser afirma:

Houve divergências entre as partes em relação ao válido exercício do direito de go-shop e, em razão dessa divergência, o assunto será discutido judicialmente. Nesse sentido, a Ser entrou com pedido de tutela cautelar, em caráter antecedente a procedimento arbitral e obteve decisão liminar favorável, mantendo o Transaction Agreement, válido e eficaz.

A ação incomodou os executivos da Laureate. O grupo dono da Anhembi Morumbi reagiu em nota dizendo:

A Laureate pretende exercer vigorosamente seu direito de rescindir o contrato de transação com a Ser e concluir a venda de suas operações brasileiras de acordo com os termos da proposta superior.

O aceite da Laureate chegou à Ânima, em definitivo, na terça-feira, 27 de outubro.

Após a notícia, a Ser informou na manhã do dia seguinte que foi revogada a liminar que interrompeu as negociações entre a Laureate e a Ânima. Contudo, afirmava que iria pedir a instauração de um procedimento arbitral para tratar do assunto, que se “mantém certa de seus direitos e tomará todas as medidas cabíveis para garantir o efetivo cumprimento do Transaction Agreement”.

Embora a Ser tivesse desejo de levar o caso adiante, era improvável que o negócio saísse das mãos da Ânima. Os executivos da Ser e das demais envolvidas no processo, então, fizeram uma reunião que começou no dia 29 de outubro – e se estendeu pela madrugada. Por fim, chegaram a um acordo.

Comunicados da Ser Educacional e da Ânima Educação informam que a primeira desistiu do negócio e que receberá a devida indenização da cláusula “go shop”.

O valor deve ser pago pela Ânima, que ofereceu o pagamento em cash ou em ativos que por ora pertencem à Laureate – FPB e UniFG. A Ânima também cedeu uma opção de compra à Ser as seguintes instituições: UniRitter, Fadergs e IBMR. As duas propostas, porém, ainda estão sujeitas ao fechamento da transação entre Ânima e Laureate, bem como aprovação do Cade.

Já a FMU será negociada com a gestora de recursos Farallon, por R$ 500 milhões.

A venda da operação brasileira da Laureate para Ânima é só mais um capítulo na história das aquisições no setor de ensino superior, que aceleraram em 2020 – conforme mostrou reportagem do portal Desafios da Educação.

Leia mais: O ensino superior depois da pandemia

*Esta reportagem foi atualizada em 03/11/2020, às 16h05. 

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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