Uma pesquisa recente – produzida pela XR Association, grupo comercial fundado por empresas como Google, Facebook, Microsoft e Samsung – apontou que 86% dos entrevistados (investidores, fundadores de startups e executivos de tecnologia americanos) acreditam que, até 2025, as ferramentas digitais imersivas serão tão onipresentes quanto os smartphones.
Nessa perspectiva entram tanto recursos de realidade virtual (VR, na sigla em inglês) quanto de realidade aumentada (RA). Aqui, é importante diferenciá-las: enquanto a VR “leva” o usuário para dentro de um ambiente virtual – como um simulador de voo –, a RA “aumenta” a realidade adicionando elementos virtuais.
“A realidade aumentada acrescenta elementos sensoriais, como gráficos e sons, à realidade vivenciada pelo aluno, por meio de uma interface que pode ser um smartphone ou tablet”, explica Genisson Silva Coutinho, fundador da Algetec, empresa baiana especializada do desenvolvimento de equipamentos e laboratórios virtuais.
Um exemplo popular de realidade aumentada é o jogo Pokémon Go, que virou febre em 2016 e até hoje reúne fãs pelo mundo. Quando o usuário abre o aplicativo no celular, basta acionar a câmera para ter a chance de encontrar o monstrinho virtual no mundo real.
A vantagem da RA é que ela exige menos tecnologia quando comparada à VR – basta apenas um aparelho celular. Por isso, seu uso como ferramenta pedagógica tem crescido em todos os níveis educacionais – do ensino básico ao superior, mesmo a distância.
“Por razões de custo e facilidade de uso, a realidade aumentada, atualmente, tem até mais espaço do que a realidade virtual”, afirma Coutinho.
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RA na prática
No Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), em Porto Alegre, a realidade aumentada é parte da rotina de sete cursos da área da Saúde: Fisioterapia, Enfermagem, Nutrição, Odontologia, Farmácia, Biomedicina e Biologia. Segundo o professor de estrutura e função humana, Hermann Heinrich Husch, o recurso já é fundamental para o entendimento anatomia.
“[Com tecnologia aumentada] projetamos partes dos sistemas muscular, esquelético e visceral para visualizá-los melhor e treinar posições de trabalho”, ele conta.
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Na Medicina Veterinária da instituição, a implementação de RA é feita em parceria com o curso de Jogos Digitais, pois ainda é necessário desenvolver artefatos com modelagem 3D da anatomia animal.
“É um desafio multidisciplinar. Precisamos dessa parceria para definir questões técnicas e o nível de detalhes da modelagem das partes anatômicas”, explica o coordenador do curso de Jogos Digitais, Felipe Frosi.
O docente acrescenta que o desenvolvimento do conteúdo em realidade aumentada é dividido em duas partes. Uma equipe de alunos faz a parte gráfica, ou seja: produz elementos como a texturização e coloração para deixar o objeto o mais real possível.
Enquanto isso, outro grupo realiza a programação da funcionalidade em RA.
Os professores já consideram esse tipo de iniciativa imprescindível. “A implementação desses recursos faz com que o aluno esteja imerso em sala de aula. A atual geração tem facilidade com as tecnologias, impactando positivamente a aprendizagem. Não vejo os alunos de hoje em dia sem usufruir da realidade aumentada”, opina o professor Husch.
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Uma revolução na docência
A inserção de recursos como de realidade aumentada é capaz de revolucionar a prática docente, o que exige adaptação e treinamento de professores acostumados com modelos tradicionais de ensino.
“A tecnologia por si só não gera impacto. É importante que as pessoas se engajem. Os professores precisam se apropriar, e os alunos precisam entender que [a realidade aumentada] é importante na aprendizagem”, pondera Frosi, da UniRitter.
O terceiro elo dessa cadeia – ao lado dos professores e alunos – é a instituição. Escolas e universidades precisam investir na aquisição de equipamentos atualizados, ou desenvolvê-los internamente, pensando sempre na metodologia de aplicação e na capacitação dos agentes que colocarão em prática a inovação.
Na UniRitter, por exemplo, fornecedores e especialistas da própria universidade capacitam os professores para tornar eficaz a utilização da realidade aumentada.
Embora posa parecer desafiadora, a realidade aumentada funciona de maneira intuitiva, segundo o professor de estrutura e função humana, Hermann Husch.
“O docente tem que estar preparado para extrair o máximo do recurso em sala de aula. Assim como ele se prepara com a literatura científica, também se prepara com a tecnologia”, afirma.
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