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O papel da tecnologia na educação pública: entrevista com Lia Glaz

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A Fundação Telefônica Vivo promove, há 23 anos, a digitalização da educação pública no Brasil, oferecendo cursos gratuitos de formação continuada para professores. No final do passado, o braço social da operadora passou por uma troca de comando: após uma década no cargo, Américo Mattar deixou a função, sendo substituído pela executiva Lia Glaz.

A nova diretora-presidente é formada em Administração Pública pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas  (FGV-EAESP) e tem mestrado em Desenvolvimento Econômico e Político pela SIPA-Columbia University. Na Fundação Telefônica Vivo, já havia atuado na área de educação, promovendo o uso de tecnologia para apoiar o desenvolvimento de crianças e jovens no contexto do século 21.

Em entrevista ao Desafios da Educação, Lia fala sobre a importância da inovação nas salas de aula – algo que vai muito além do acesso da internet. Ela também defende a necessidade de promover uma cultura digital na educação brasileira.

Quando se fala em novas metodologias de ensino, qual é o papel da tecnologia?

Liz Glaz. Crédito: Divulgação.

Liz Glaz. Crédito: Divulgação.

Vemos a questão da tecnologia de duas maneiras. A primeira é entender a tecnologia como um meio mais instrumental, com o papel de apoiar os professores, por exemplo, em questões como a personalização do ensino. Trazer processos de gamificação, promovendo mais inovação e tornando o aprendizado mais interessante.

A segunda maneira é como objeto de conhecimento, que também é importante no contexto atual. Para isso, precisamos olhar para o currículo. Do ponto de vista mais de conhecimento de questões como programação, robótica, pensamento computacional, e até do ponto de vista da cidadania. Mas nas metodologias, o principal impacto está em realmente apoiar os professores, para tornar esse processo de aprendizado cada vez mais significativo para os alunos.

Hoje os estudantes são nativos digitais, enquanto alguns professores não têm essa aproximação tão estreita com a tecnologia. Como é possível lidar com essa diferença geracional em sala de aula?

A questão aqui é como entendemos a tecnologia no contexto escolar, sob uma perspectiva de primeiro olhar para como ela ajuda no ensino e na aprendizagem. Também é necessário olhar para a cidadania digital: temos questões como ambiente seguro, com uso de redes sociais, internet, fake news, entre outras questões nas quais os alunos estão imersos, mas não necessariamente têm consciência sobre isso. Nesse caso, o professor tem um papel fundamental, porque é o adulto ali e é quem deve fazer a mediação do processo todo.

Então, o desafio é entender como preparar esses professores para que sejam capazes de usar a tecnologia, a fim de melhorar os processos de ensino e aprendizagem para tornar a aula mais significativa. E como esse professor pode trazer esse nível de consciência com relação à cidadania digital, que é um processo superimportante.


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Em relação aos currículos dos cursos de licenciatura, quais mudanças podem ajudar a acompanhar esse processo?

Um levantamento do Centro de Inovação da Educação Brasileira (Cieb) mostra que a grande maioria dos nossos professores – cerca de 80% – estão no nível 1 ou 2 no uso de tecnologias.

De acordo com essa análise, eles não têm as habilidades digitais necessárias para o uso da tecnologia, nem como instrumental, nem para o ensino, salvo aqueles que são especializados na área. Esses dados levantam a questão da importância de que os cursos de licenciatura e de pedagogia comecem a incorporar nos seus currículos habilidades digitais como área do conhecimento.

Em questão de políticas públicas, a tecnologia nas escolas deve ser uma prioridade do governo, ou é preciso priorizar outras questões primeiro?

Se as mudanças na educação brasileira ocorrerem de forma sequencial, os alunos mais pobres ficarão para trás.

A tecnologia já faz parte da nossa vida e não tem como falar em melhoria da aprendizagem e da qualidade da educação, principalmente a educação pública, sem perpassar pela digitalização e pelo uso de tecnologia.

Inclusive, essa já é uma prioridade na visão do novo Ministério da Educação (MEC). Além disso, se tornou uma grande prioridade dos estados. O Brasil ainda trata a questão da tecnologia como algo de infraestrutura, algo relacionado a conectividade, hardware, o que não deixa de ser algo fundamental.

Mas apenas isso não basta. Os professores precisam estar preparados para o uso dessa tecnologia e os alunos precisam ter isso nos seus currículos. Esse processo já está na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A tecnologia aparece como uma das dez competências gerais, como cultura digital. E, no ano passado, o Conselho Nacional de Educação publicou um currículo de computação.

O próximo passo é garantir que gestores, professores e técnicos das escolas estejam aptos a gerir o uso dessa tecnologia para fins pedagógicos. Não apenas no caráter instrumental de consumo, e sim de forma a alavancar os resultados de aprendizagem.

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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