A contação de histórias remete há milhares de anos, quando foram feitas as primeiras pinturas em cavernas. A narração oral de acontecimentos, então, é uma prática ainda mais antiga. Histórias sempre foram usadas para informar, divertir, transmitir crenças, valores. E, claro, ensinar.
Mais recentemente, o termo storytelling surgiu para designar uma ferramenta que vai além da boa e velha contação de histórias. Esse poderoso método de comunicação incorpora estruturas e estratégias próprias, com o objetivo de aumentar o engajamento e a capacidade de absorção de conteúdos de alunos em todos os níveis de educação.
Nos últimos anos, enquanto o storytelling ganhava espaço em escolas e faculdades, a psicologia, a pedagogia e a neurologia listaram pelo menos uma dezena dos seus benefícios. Entre eles, a ativação da imaginação e do pensamento especulativo, o estímulo da atenção e da criatividade e o desenvolvimento das capacidades de interpretação e de relação interpessoais.
Em uma recente revisão bibliográfica sobre o tema, pesquisadores americanos concluíram que o storytelling torna a aprendizagem mais duradoura. Isso acontece principalmente por causa do sentimento emocional que as histórias despertam nos alunos.
Além da retenção de conhecimento no longo prazo, outro artigo, escrito por pesquisadores brasileiros, ressaltou o papel do storytelling como ferramenta de aprendizado ativo. Segundo a publicação, essa ferramenta incide positivamente sobre a autonomia dos estudantes na busca por soluções para problemas em diferentes contextos sociais.
Bases neurológicas
Paul Zak é diretor do Centro de Estudos Neuro Econômicos da Universidade de Claremont, nos Estados Unidos. Ao pesquisar os caminhos neurais de pessoas expostas ao storytelling, Zak concluiu que as narrativas induzem a produção de ocitocina, um hormônio que nos deixa mais colaborativos, gentis e compreensivos.
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Mas o que a ocitocina tem a ver com a aprendizagem?
Ela aparece em maiores níveis no sangue quando nos conectamos emocionalmente com os personagens de uma história. E esse contexto emocional aumenta a capacidade de memorizar informações e compreender conceitos complexos.
“Meus experimentos mostram que histórias guiadas por personagens com conteúdo emocional resultam em uma melhor compreensão dos pontos-chave que um orador deseja ensinar e permitem uma melhor lembrança desses pontos semanas depois”, Zak explica no artigo “Why your brain loves good storytelling” (Por que o seu cérebro ama um bom storytelling, em tradução livre).
Além disso, os elementos presentes na história mexem com diversas partes do cérebro. Narrativas que envolvam movimento, por exemplo, ativam o córtex motor. A ativação de várias partes do cérebro é benéfica para o processamento de informações e conexões que formam as bases do aprendizado.
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A aplicação do storytelling na educação
É possível aplicar o storytelling na educação de diversas formas. As mais tradicionais são a oral e a escrita, que podem ser conduzidas pelo professor com a participação dos alunos. Mas a aplicação da tecnologia educacional gerou novas possibilidades, como o digital storytelling e a gamificação.
Independentemente do método escolhido pelo professor, o mais importante é que os alunos estejam envolvidos no processo de construção de sentido da história, preenchendo lacunas a partir das suas perspectivas. É nessa compreensão ativa dos conceitos, e dos problemas apresentados pelas narrativas, que se encontra o poder do storytelling da educação.
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