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No Brasil, número de pessoas com Down chega a 74 no ensino superior

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Ana Rita Fernandes: formatura em Design de moda prevista para agosto de 2019. Crédito: Estácio/divulgação.

O número de pessoas com síndrome de Down que estão ou já estiveram em uma instituição de ensino superior (IES) é pequeno, mas vem aumentando no Brasil. A informação é do Movimento Down, que recolhe e atualiza os dados há mais de uma década com base no que é noticiado pela imprensa ou informado por pais, instituições e associações.

Entre 2018 e 2019, o crescimento foi de 48%. Desde que a potiguar Débora Seabra se tornou a primeira professora com síndrome de Down habilitada a dar aulas na América do Sul, em 2004, o Brasil teve pelo menos outras 73 pessoas com essa síndrome matriculadas numa IES.

“O problema é que não sabemos quantas pessoas se formaram”, diz Patricia Almeida, cofundadora do Movimento Down. “Teve gente que estudou com ajuda da mãe, que contou com apoio de um núcleo de inclusão ou de aluno-anjo. Muitos seguiram adiante, mas outros ficaram pelo caminho.”

O Brasil não tem política específica para atendimento ao aluno com Down no ensino superior. O Ministério da Educação (MEC), que no começo do ano extinguiu a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), sequer sabe informar a quantidade oficial dessas pessoas na faculdade. No Censo da Educação Superior, o grupo é classificado de forma imprecisa pelo termo “pessoas com deficiência intelectual” – o que, em 2017, representava um total de 2.043. A evasão não é calculada.

Entre as carreiras preferidas pelo grupo estão educação física, gastronomia e pedagogia, segundo o Movimento Down. A maioria dos estudantes (24%) reside no estado de São Paulo.

Tabela com distribuição por estados de alunos com Down no ensino superior. Crédito: Movimento Down.

Leia mais: 3 dicas para facilitar o desenvolvimento de estudantes com autismo

No Pará, três alunas se formam

A síndrome de Down é uma alteração genética caracterizada pela presença de três cromossomos, em vez de dois, no par 21 das células do organismo. Daí o nome científico trissomia do 21 e a data de celebração do Dia Internacional da Síndrome de Down, em 21 de março (21/3).

O traço comum aos indivíduos que têm essa disfunção cromossômica é o déficit intelectual. Baixa estatura e desenvolvimento físico mais lento também são frequentes. Síndrome de Down não é doença.

Amanda Falcão Pereira, com pais: formada em Ciências Biológicas. Crédito: Estácio/divulgação.

Amanda Falcão Pereira, de 22 anos, é uma das 270 mil que nasceram no Brasil com a alteração genética. A característica, porém, não a impediu de prosseguir os estudos. Graduou-se, em fevereiro passado, no curso de Ciências Biológicas pela Estácio, em Castanhal (PA).

Pereira fez o curso ao longo de quatro anos. “No início ela se sentia insegura e fazia as provas numa sala separada e sozinha, mas na metade do curso já fazia questão de estar ao lado da turma e acompanhar tudo”, diz a mãe, Mariza Falcão, numa entrevista à própria faculdade.

Na sala de aula e nas atividades, a aluna quase sempre estava acompanhada por um membro da família. Também recebeu acompanhamento pedagógico e psicológico da instituição. “Esse apoio foi muito importante.”

Quem também conquistou o diploma foi Marina Gutierrez Viana, de 19 anos. Ela tem síndrome de Down e se formou em Gestão de Recursos Humanos pela Estácio, em Belém. “Quero ser exemplo e mostrar para todos que podemos superar qualquer obstáculo quando nos esforçamos”, diz.

Marina Viana junto dos familiares, na colação: “Quero ser exemplo.” Crédito: Estácio/divulgação.

A instituição possivelmente terá uma terceira aluna com síndrome de Down formada ainda este ano – e também no Pará. Trata-se de Ana Rita Fernandes, 21 anos, atualmente no último semestre do curso de Design de Moda em outra unidade da Estácio na capital.

“O curso me deu uma independência maior, o que me fez acreditar que poderia ir mais longe”, diz Fernandes.

Inclusão é o caminho

A Estácio afirma seguir os critérios de inclusão e acompanhamento aos alunos com deficiência (física, sensorial ou intelectual), transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Isso inclui condições de acessibilidade arquitetônica e espaço de atendimento adaptado, além de palestras explicativas e aluno-anjo, que é a oferta de bolsas para estudantes que aceitam acompanhar os colegas com necessidades especiais.

“Outra questão importante é a capacitação dos professores, que muitas vezes não estão preparados para receber esses alunos”, explica Marinalda Santos, diretora da Estácio em Castanhal. “O que esperamos é chegar o dia em que a pessoa com deficiência irá entrar na faculdade como cada um de nós, com menos dificuldades.”

Escolas, faculdades e cursos privados não podem negar matrícula nem cobrar taxa-extra de alunos com síndrome de Down, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Esses estudantes também têm direito a provas adaptadas em concursos, vestibulares e no Enem.

“O caminho é a inclusão”, defende Patricia Almeida, do Movimento Down. Ela fala com propriedade. Primeiro porque tem uma filha adolescente com síndrome de Down e que enfrentou dificuldade numa escola especial, “onde as expectativas eram menos ambiciosas”.

A segunda razão é que todas as 74 pessoas com a disfunção cromossômica que entraram na faculdade, segundo seu levantamento, vêm de escolas regulares. “Nenhuma veio de instituição especial ou de Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).”

Almeida falou com o portal Desafios da Educação por telefone, poucos dias após o massacre em Suzano (SP) – onde dois atiradores invadiram um colégio estadual e abriram fogo, matando oito pessoas.

Prestes a encerrar a ligação, fez referência ao caso e perguntou: “Quer saber outra vantagem das instituições que se abrem à inclusão?” Ela mesmo respondeu. “Essas instituições são mais pacíficas, tolerantes e solidárias.”

Confira a série Inclusão e acessibilidade no ensino superior

Leonardo Pujol
Leonardo Pujol é editor do portal Desafios da Educação e sócio-diretor da República, agência especializada em jornalismo, marketing de conteúdo e brand publishing. Seu e-mail é: pujol@republicaconteudo.com.br

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