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Entre o combate à cola e a invasão de privacidade: o debate sobre métodos de avaliação online

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Muitas plataformas oferecem soluções de segurança que buscam evitar a trapaça em provas, mas qual é o limite dessa vigilância? Ela realmente é necessária?

Foto: Pexels

Em agosto do ano passado, em uma live com representantes do setor de ensino superior, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, defendeu a realização de provas presenciais para evitar fraudes. Na ocasião, o debate girava sobre os méritos das provas aplicadas virtualmente – prática adotada em escala devido à pandemia do novo coronavírus.

“Não creio que todos tenham essa disciplina de fazer uma prova sozinho em casa, com todas as condições para poder eventualmente num momento de necessidade de burlar a questão”, disse Ribeiro. “Mesmo nas [aulas] presenciais, ainda tem muita gente que usa esse expediente que, além de desonesto, não prepara o aluno como deveria.”

O comentário do ministro não é infundado. Pesquisas indicam que um em cada três alunos já trapaceou em avaliações online. A “cola” é um mal antigo e que, evidentemente, precisa ser combatido mesmo em tempos de ensino remoto. Mas a que preço?

Atualmente, existem soluções de segurança que buscam evitar a trapaça em provas, vestibulares e outras avaliações online. Há quem afirme que esses recursos se perpetuarão no pós-pandemia. O problema é que muitos alunos também se sentem incomodados com essa vigilância excessiva, falando até mesmo em violação de privacidade.

Vigilância online contra a “cola”

Se já era difícil identificar os estudantes que colavam em provas presenciais, imagine durante o ensino remoto? Saber se um aluno trapaceou ou não durante uma avaliação pode ser um enigma.

Longe dos olhos do professor, o aluno pode lançar mão de diferentes mecanismos de trapaça. A consulta na internet é a mais comum – e também a mais combatida. Hoje, as escolas e universidades podem utilizar softwares que bloqueiam o acesso a outros sites enquanto o aluno faz a prova.

Também existem sistemas mais sofisticados, capazes acompanhar os movimentos do aluno pela câmera do computador ou do celular. Se o estudante desvia o olhar por um longo período (para pesquisar a resposta de alguma pergunta em um livro, por exemplo), a plataforma emite um alerta e pode cancelar a prova.

Para questões discursivas, existem alternativas mais simples de evitar, ou pelo menos dificultar, o ato de colar durante uma avaliação online. São as ferramentas que detectam plágio em trabalhos acadêmicos. Elas podem ser usadas para identificar se o aluno copiou a resposta de outro lugar.

Leia mais: Tecnologia aperfeiçoa combate a fraudes acadêmica

Alguns softwares também suspendem temporariamente a função “copiar e colar” a fim de evitar que o aluno use um texto previamente redigido.

Outra alternativa é investir em questões que necessitem de raciocino lógico. Em regra, as plataformas de avaliação online criam provas automaticamente com base em um portfólio de milhares de questões.

Muitas dessas perguntas são validadas estatisticamente pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), o que gera equilíbrio de dificuldade e permite a aplicação de testes completos e de alto nível. Dessa forma, não basta simplesmente consultar a internet, o aluno terá que realmente saber resolver a questão com cálculos ou argumentos.

Boa parte das soluções nessa área são integradas ao ambiente virtual de aprendizagem (AVA ou LMS, na sigla em inglês).

lms ava

Quanto a autenticação da prova, um dos recursos de segurança usados em avaliações online é a identificação por QR Code, que garante confiabilidade de informações, provas e gabaritos. Além disso, alguns softwares geram assinaturas digitais dos alunos, o que atesta a realização da prova.

Invasão de privacidade

Ocorre que boa parte dessas ferramentas levantam um debate relevante sobre a privacidade dos alunos. No caso da plataforma que observa os movimentos do aluno, as câmeras precisam estar abertas e nem todos se sentem à vontade com essa exposição.

Mesmo na era das videochamadas, alguns relatam estar incomodados e intimidados com a sensação de que são espionados.

Outro ponto é que o aluno pode olhar para os lados por motivos justos e diversos e até por deficiência. Ou por se desconcentrar devido à falta de um lugar silencioso para fazer a avaliação. Nesses casos, sistemas de observação comportamental vão interpretar os movimentos como tentativa de fraude. Um erro da tecnologia que prejudicará o aluno.

Uma pesquisa realizada no começo da pandemia pela Educause, uma organização sem fins lucrativos com foco em tecnologia e educação, revelou que 77% das 312 instituições de ensino americanas entrevistadas estavam usando, ou planejando usar, testes online com algum tipo de monitoramento remoto.

Isso mostra que professores queriam (e provavelmente ainda querem) minimizar a trapaça. A dúvida é saber até onde isso os levará e se o objetivo da aprendizagem não deve ir para além do ambiente controlado.

Leia mais: Lições do coronavírus: os desafios de avaliar a aprendizagem remota

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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