Ensino Superior

O retorno às aulas presenciais em meio ao avanço da ômicron

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Sob impacto da variante ômicron, o número de pessoas infectadas pelo coronavírus no Brasil teve alta de mais de 600% na segunda-feira, dia 17 de janeiro, em relação aos 14 dias anteriores. Apesar de não acompanhar o ritmo das infecções, a média de mortes também aumentou. Nesse cenário, fica a pergunta: é prudente retornar às aulas presenciais?

Ao que tudo indica, a resposta é não. Para uma das maiores divulgadoras científicas do país, a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, o mais recomendável, hoje, é apostar em um modelo híbrido de ensino. A posição de Fontes-Dutra é baseada no avanço da ômicron, variante que é mais transmissível do que as suas antecessoras, como a delta.

No dia 18 de janeiro, em entrevista ao canal CNN Brasil, a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ethel Maciel, alertou que a ômicron não chegou ao seu pico e que as duas próximas semanas “serão difíceis”. O período coincide com o início do primeiro semestre letivo de 2022 em diversas instituições de ensino superior (IES).

A ômicron deve adiar o início do semestre?

Segundo o especialista em educação superior da +A Educação, Henrique Klein, o cenário atual é mais favorável ao setor na comparação com outras ondas do coronavírus.

“Se formos pegar um quadro médio da idade dos estudantes do ensino superior, poucos tinham a possibilidade de se vacinar no início do semestre passado”, lembra. “Hoje, todas as pessoas acima de 18 anos têm a oportunidade de estarem vacinadas e isso muda completamente a configuração para se pensar ou não o fechamento de universidades.”

“Nesse momento, eu não vejo qualquer discussão, pelo menos publicamente, sobre adiar o início do semestre letivo”, comenta o especialista. Para ele, o que provavelmente irá acontecer é o semestre começar de forma remota e, ao longo dos meses, voltar às atividades presenciais, caso a situação pandemia melhore.

Leia mais: 2022 será mais híbrido do que nunca

Além da alta de casos, o que gera incertezas é a falta de um direcionamento claro do Ministério da Educação (MEC) sobre o tema. A última resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre o retorno à presencialidade foi publicada em agosto do ano passado. Na época, o quadro era outro: o Brasil registrava o menor número de mortes por coronavírus em 2021. Sem orientação, as IES acabam usando a autonomia para tomar decisões.

Como ficam as atividades práticas?

No cenário atual, deve ocorrer uma reformulação do calendário, evitando as atividades presenciais no início do semestre. Já as tarefas laboratoriais contam com a ajuda de tecnologias imersivas, como laboratórios virtuais, para serem realizadas remotamente.

laboratorios virtuais labs

Em relação às configurações de ensino e aprendizagem desenvolvidas nos últimos anos, o ensino híbrido ganha força. “É uma oportunidade para trazer o melhor do presencial e do ensino a distância em prol de uma aprendizagem mais completa, melhor formatada, com recursos que não são possíveis de uma ou de outra forma isoladamente”, comenta Klein.

Leia mais: Hyflex: entenda o modelo que flexibiliza o ensino híbrido

E as novas matrículas?

O novo boom de infecções pode impactar no número de novas matrículas. Mas a repercussão negativa, em função do medo do contágio, deve ser menor que nos últimos semestres – justamente, em função do avanço da imunização em todas as faixas etárias.

Além disso, quem ainda tinha dúvidas sobre a matrícula, hoje, está menos resistente ao ensino a distância (EaD) e sabe que a presencialidade será retomada logo mais. “Essa perspectiva deve amenizar um pouco o impacto e fazer com que as pessoas se matriculem nesse semestre”, projeta Klein.

O momento nas federais

No Rio de janeiro, o aumento da incidência de casos de covid-19 em decorrência da variante ômicron e a epidemia de influenza levaram a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) a suspenderem as atividades presenciais até o dia 31 de janeiro.

Já a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) publicou, no dia 11 de janeiro, uma portaria que adia para 7 de fevereiro a data do retorno, ainda que restrito, das atividades presenciais. O documento destaca que o início do semestre letivo permanece em 17 de janeiro, conforme o calendário acadêmico.

A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) seguiu um caminho parecido. Considerando o alerta epidemiológico realizado pelo Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da instituição, as atividades práticas presenciais de ensino, pesquisa e extensão (exceto àquelas consideradas essenciais em cada área) foram suspensas por 30 dias.

No Nordeste, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) manteve a previsão do início do calendário acadêmico da graduação para o dia 31 de janeiro. A instituição destaca que conta com uma resolução que oferece aos cursos três formatos de oferta de disciplina, incluindo um 100% remoto, avaliando-se as condições de biossegurança.

Leia mais: EaD nas universidades públicas: como superar os obstáculos

O que acontece no exterior 

Quando se trata de pandemia, se costuma olhar para os Estados Unidos como uma janela para o futuro que acontecerá por aqui. Até porque o coronavírus chegou antes por lá.

Neste momento, para especialistas entrevistados pela BBC, os Estados Unidos parecem viver uma “tempestade perfeita”, com menos pessoas vacinadas, equipes de saúde exaustas, o inverno, a presença da variante delta (mais grave) enquanto a ômicron se espalha rapidamente.

Nesse cenário, várias IES devem operar de forma remota nas primeiras semanas do semestre. Cursos na Universidade de Yale, para alunos de graduação e pós-graduação, serão realizados remotamente entre 25 de janeiro a 4 de fevereiro. Outras universidades optaram pelo modelo virtual em janeiro, como Harvard, Stanford, Universidade da Pensilvânia e a Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Cuidados para quem volta ao presencial

As IES que desejam voltar ao presencial devem reforçar os cuidados sanitários, como alerta a biomédica Mellanie Fontes-Dutra. Além disso, é fundamental orientar a equipe administrativa, docentes e alunos.

Isso inclui orientações sobre quando testar, o que fazer em caso de infecção, como evitar a transmissão e a exposição ao vírus, manter os ambientes bem ventilados, usar máscaras de proteção adequadas e bem ajustadas e oferecer materiais didáticos reforçando a relevância dos cuidados e da vacinação.

A opinião de Fontes-Dutra é a mesma do Dr. Hans Kluge, diretor regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa. Kluge reiterou, recentemente, as recomendações do órgão para ambientes educacionais: ventilação, higiene e uso de máscaras faciais apropriadas.

“Para se pensar nesse retorno e em qual modelo usar, é indispensável acompanhar os indicadores da doença, como novos casos, óbitos e número de hospitalizações”, completa a cientista.

O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), o professor Heleno Araújo, se soma ao coro. Para ele, é fundamental dialogar com toda a comunidade acadêmica ao pensar sobre o retorno, além de garantir que todas as medidas de segurança sejam tomadas.

“Caso estas medidas se tornem impossíveis de se aplicar, que se suspenda (o retorno ao presencial) até que se dê conta”, disse Araújo em entrevista ao O Globo.

Leia mais: Quais são os modelos de ensino preferidos dos alunos?

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