NR-1 e saúde mental: o que muda para docentes e equipes nas IES

Redação • 15 de agosto de 2025

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    Muito se fala sobre a saúde emocional dos estudantes — e com razão. Mas quem garante suporte a quem forma gerações?

     

    São professores, tutores, técnicos e equipes administrativas que mantêm a rotina acadêmica em movimento, mesmo diante de excesso de tarefas, escasso reconhecimento e apoio insuficiente.


    A realidade é que não se trata de casos isolados, mas de um cenário cada vez mais visível no país.


    Panorama alarmante

     

    O Brasil vive uma epidemia de transtornos mentais relacionados ao trabalho. Em 2024, foram registrados mais de 470 mil afastamentos por transtornos mentais — um salto de 68% em relação a 2023, segundo o Ministério da Previdência Social. Trata-se do maior número da década.

     

    No setor educacional, os impactos são particularmente graves. A Revista Ensino Superior tem destacado o avanço do sofrimento psíquico entre docentes e demais profissionais das instituições de ensino superior (IES).

     

    Além da pressão por desempenho, eles enfrentam sobrecarga de tarefas, turmas numerosas, insegurança institucional e ausência de apoio psicológico. O resultado? Aumento do absenteísmo, da rotatividade e queda na qualidade da aprendizagem.

     

    De acordo com a Pesquisa sobre a Qualidade de Professores e Aprendizado no Brasil, da Fundação Getulio Vargas (FGV), os docentes são o fator intraescolar com maior impacto na aprendizagem dos estudantes: respondem por 65,7% do desempenho no ensino fundamental e por 47% no ensino médio.

     

    Isso significa que suas ausências por licença médica afetam diretamente tanto o aprendizado dos alunos quanto o cumprimento do calendário acadêmico das instituições.


    O mesmo vale para o ensino superior. Por isso, é preciso ficar atento. Principalmente agora.

     

    Uma nova exigência legal: a atualização da NR‑1

     

    Desde 26 de maio está em vigor a nova versão da Norma Regulamentadora No. 1 (NR-1), que estabelece as diretrizes do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) em todas as empresas do país. 


    A atualização da norma reconhece que o adoecimento mental no trabalho é um risco ocupacional que precisa de prevenção e gestão sistemática.


    Entre os fatores que passam a ser considerados estão:


    - Pressão por metas e resultados

    Cobrança excessiva por produtividade acadêmica, publicações científicas e desempenho institucional.


    - Sobrecarga de trabalho

    Turmas numerosas, acúmulo de funções administrativas e múltiplos vínculos empregatícios.


    - Conflitos interpessoais

    Dificuldades de relacionamento em equipes, choques de liderança e falta de canais adequados de mediação.


    - Assédio moral e desgaste emocional

    Práticas abusivas, competitividade tóxica e exposição a críticas desmedidas.


    - Falta de apoio organizacional

    Ausência de políticas institucionais de bem-estar, canais de escuta e acompanhamento psicológico.


    Esses fatores, antes muitas vezes atribuídos à esfera pessoal, passam a ser tratados como riscos ocupacionais que exigem identificação, prevenção e monitoramento.


    Para universidades e faculdades, significa que a gestão acadêmica deve integrar a saúde mental ao mesmo patamar de importância dado à segurança física.

     

    A obrigatoriedade, no entanto, só começa em 26 de maio de 2026. Até lá, as empresas terão um período educativo para ajustar seus processos às novas regras, sem aplicação de multas.

     

    O que muda para as IES

     

    Para atender à norma e, principalmente, cuidar da sua comunidade, as IES precisarão agir com planejamento e intencionalidade. Eis os principais passos:


    • Criar um comitê multidisciplinar, com representantes das áreas de segurança do trabalho, RH, jurídico, psicologia, medicina ocupacional e coordenações pedagógicas.


    • Mapear os riscos psicossociais que impactam diferentes funções — não só docentes, mas também equipes técnicas e administrativas.


    • Planejar ações de prevenção e mitigação, como rodas de conversa, treinamentos para lideranças, canais de escuta e denúncia, acolhimento psicológico e revisão da política de metas.


    • Monitorar continuamente os indicadores, ajustando o plano de ação com base em incidentes, ausências e feedbacks das equipes.

     

    Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), adiar essas medidas tende a agravar quadros de estresse, ansiedade e depressão. Isso compromete não apenas a saúde dos trabalhadores, mas a própria sustentabilidade e reputação das instituições.

     

    Mais que norma: uma agenda estratégica

     

    É preciso ir além da legislação. A saúde mental precisa entrar no plano estratégico das instituições. Promover ambientes mais humanos e acolhedores melhora o engajamento, fortalece a cultura institucional  e ajuda a atrair e reter talentos — diferenciais cada vez mais valorizados por estudantes e docentes.


    Como o setor de educação superior é intensivo em
    trabalho intelectual, a nova NR-1 pressiona gestores a valorizar a saúde mental como parte da gestão institucional, sob pena de responsabilização futura.

    Até o prazo estabelecido pela portaria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) n.º 765, há espaço para ensaiar boas práticas: programas de bem-estar docente, apoio psicológico interno e políticas de flexibilização de carga horária podem funcionar não só como adequação à norma, mas também como diferenciais de retenção de talentos em um setor marcado pela rotatividade.

     

    Dicas de leitura para cuidar da saúde mental

     

    Entre aulas, prazos, atividades administrativas e vida pessoal, é preciso equilíbrio emocional e boas estratégias para administrar o estresse. A leitura pode ser uma grande aliada, trazendo conhecimento, ferramentas práticas e novas formas de encarar os desafios.

     

    A seguir, algumas obras que podem ajudar nesse caminho:


    Saúde mental na escola – Gustavo M. Estanislau; Rodrigo Affonseca Bressan (Artmed)

    Revisita os transtornos mentais mais comuns na infância e adolescência, trazendo orientações práticas para a promoção da saúde mental, a prevenção de problemas e a diferenciação entre comportamentos esperados do desenvolvimento e sinais de transtornos.


    Vencendo o estresse, a ansiedade, a depressão e outros sofrimentos – Michael A. Tompkins (Artmed)

    Um manual prático de terapia cognitivo-comportamental, com exercícios simples para enfrentar ansiedade, depressão e estresse, lidar com pensamentos difíceis e fortalecer autoestima, autocompaixão e resiliência.


    O que te torna mais forte – Louise L. Hayes; Joseph V. Ciarrochi ; Ann Bailey (Artmed)

    Um guia baseado no modelo DNA-V, que combina terapia de aceitação e compromisso com psicologia positiva para ajudar a lidar com mudanças, cultivar hábitos mentais saudáveis e reduzir o estresse diante da incerteza.


    Não acredite em tudo que você sente – Robert L. Leahy (Artmed)

    Combina terapia cognitivo-comportamental e terapia de esquema emocional para ajudar a compreender crenças sobre as próprias emoções e adotar estratégias mais saudáveis para lidar com tristeza, raiva e ansiedade.


    Não deixe as emoções comandarem sua vida – Sheri Van Dijk (Artmed)

    Apresenta estratégias baseadas em terapia comportamental dialética e mindfulness para ajudar adolescentes a lidar com emoções intensas, encontrar calma e identificar o que traz satisfação e bem-estar no dia a dia.


    Vencendo a ansiedade e a preocupação – David A. Clark; Aaron T. Beck (Artmed)

    Manual com estratégias práticas da terapia cognitivo-comportamental para reconhecer gatilhos de ansiedade, questionar pensamentos que geram angústia e enfrentar situações desafiadoras de forma segura e gradual.


    Vencendo a ansiedade e a fobia – Edmund J. Bourne (Artmed)

    Guia prático com técnicas da terapia cognitivo-comportamental para enfrentar medos e reduzir a ansiedade, oferecendo estratégias passo a passo para diferentes transtornos, além de orientações sobre prevenção de recaídas e cuidados complementares

    Lidando com a ansiedade – Stefan G. Hofmann (Artmed)

    Reúne técnicas objetivas e de aplicação rápida — como relaxamento, mindfulness e reestruturação de pensamentos — para ajudar a reduzir a ansiedade e retomar o foco nas prioridades acadêmicas e pessoais.


    A solução mindfulness – Ronald D. Siegel (Artmed)

    Mostra como incorporar o mindfulness à rotina de forma simples e realista, com práticas que cabem no dia a dia e ajudam a lidar com pressões, manter o foco e fortalecer o bem-estar.


    Manual de mindfulness e autocompaixão – Kristin Neff; Christopher Germer (Artmed)

    Apresenta práticas de mindfulness e autocompaixão para reduzir a autocrítica, lidar melhor com desafios pessoais e profissionais e cultivar mais equilíbrio emocional no cotidiano acadêmico.


    Todas as obras indicadas fazem parte do selo Artmed, referência nacional na publicação de livros técnicos e científicos nas áreas de saúde, educação e ciências humanas.

     

    Os títulos podem ser adotados individualmente, mas ganham força quando inspiram ações coletivas nas IES.

    Por Redação

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