Cada aluno se adapta melhor a um tipo de aprendizagem. As formas de absorver o conhecimento variam conforme as competências e habilidades individuais – ou seja, não existe um modelo “certo” ou “errado”, e sim o que se adequa melhor ao perfil daquela pessoa.
O aprofundamento nos debates sobre a personalização do ensino tem mostrado que explorar diferentes abordagens ajuda a tornar esse processo mais fluido para os estudantes. É possível estabelecer práticas pedagógicas que estimulem as potencialidades individuais dos alunos e, ao mesmo tempo, promovam a integração entre eles.
Já falamos sobre o método Vark, proposto pelo pesquisador neozelandês Neil Fleming em 1992, o qual classifica os estilos de aprendizagem em quatro tipos: visual, auditivo, leitura e escrita e cinestésico. Neste artigo, abordaremos outro sistema, conhecido como o modelo de Kolb.
O ciclo de Kolb
Baseado em um ciclo, o modelo de Kolb começou a ser desenvolvido ainda na década de 1970. Em seus estudos, o professor universitário norte-americano David Allen Kolb buscava entender de que forma as pessoas aprendiam, não somente no âmbito escolar, mas também no contexto corporativo.
Para o pesquisador, os estilos de aprendizagem são uma condição duradoura e invariável, na qual os indivíduos compreendem as informações. O perfil de cada um seria definido por meio de comportamentos, interesses, aptidões e dimensões da personalidade, como destaca o artigo acadêmico “Estilos de Aprendizagem e desempenho acadêmico: um estudo com discentes dos cursos de Administração e Ciências Contábeis”.
Após anos de estudo, em 1984, Kolb estabeleceu um modelo de aprendizagem experiencial denominado Inventário de Estilos de Aprendizagem (Learning Style Inventory). Como aponta o artigo “Estilos de aprendizagem: um estudo comparativo”, ele é centrado no indivíduo, que desenvolve algumas habilidades de forma mais acentuada que outras.
Para saber qual é o seu perfil, a pessoa precisa passar por quatro estágios:
- Experiência concreta
- Observação reflexiva
- Conceituação abstrata
- Experimentação ativa
De forma sintética, pode-se dizer que a experiência concreta ocorre quando o indivíduo vivencia uma nova experiência. A partir disso, pensa sobre o que aconteceu (e por que aconteceu), o que representa a fase de observação reflexiva. Em seguida, tira lições desse episódio, de forma a saber como agir caso ele aconteça novamente – etapa considerada como a de conceituação abstrata. Por fim, através da experimentação ativa, coloca em prática os novos conhecimentos adquiridos.
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Perfis e habilidades
Com base nesse processo, Kolb identificou que as pessoas têm duas habilidades dominantes. Combinadas, essas competências originam quatro estilos de aprendizagem:
- Divergente
- Assimilador
- Convergente
- Acomodador
Conheça cada um deles:
Divergente – Alunos com esse perfil têm como habilidades predominantes a experiência concreta e a observação reflexiva. Conseguem enxergar diferentes perspectivas de um acontecimento e tendem a se sair bem em situações que exigem novas ideias. Preferem observar a fazer, usando a imaginação para resolver problemas. Estudantes com o estilo divergente preferem trabalhar em grupo e são receptivos a feedbacks.
Assimilador – A conceituação abstrata e a observação reflexiva são as principais características dos estudantes com esse perfil. Gostam de teorias com embasamento lógico e de reunir fatos e organizá-los de forma concisa e integrada. Este estilo é muito associado a carreiras ligadas à informação e à ciência. Em situações formais de aprendizagem, são alunos que preferem aprender por meios analíticos, como leituras e palestras.
Convergente – Esse perfil é mais inclinado à conceituação abstrata e à experimentação ativa. São pessoas que buscam a aplicação prática das ideias, gostam de resolver problemas e tomar decisões. O estilo de aprendizado convergente está associado a habilidades especializadas e tecnológicas. Aulas práticas e experiências em laboratório são as preferidas desses alunos.
Acomodador – Por último, temos as pessoas cujas habilidades principais são a experiência concreta e a experimentação ativa. O aprendizado é mais prático e não se baseia na lógica, mas na intuição e na busca de oportunidades e experiências. Os indivíduos com esse perfil não têm medo de correr riscos e se adaptam facilmente a mudanças. Atividades práticas e gamificadas atraem mais facilmente os alunos com esse perfil.
Em sala de aula
Tanto o ciclo quanto os perfis de aprendizagem sugeridos por Kolb são formas de ajudar o sistema educacional a lidar com diferentes perfis de alunos. Aplicar o questionário Kolb, como este, disponibilizado em português, pode ser um bom começo.
Mas o método não é limitante: estudantes com determinadas habilidades podem aprender de forma mais eficaz ao identificar seus estilos menos preferidos e pelo fortalecimento deles, como sugere o portal SymplyPsychology.
A missão dos educadores é conduzir os alunos através dessa jornada, adotando atividades, ferramentas e metodologias ativas que possibilitem explorar todas as habilidades dentro do ciclo. Nesse sentido, o modelo de Kolb pode se tornar um aliado na tarefa de tornar o ensino menos burocrático, com o estudante no centro do processo de aprendizagem.
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