Talvez ninguém tenha te falado isso ainda, mas tenho certeza que refletir sobre o assunto vai ser muito importante para você. Então vamos lá: o mundo está em constante mudança! E está mudando rápido!
Ops, isso não era uma novidade?
Brincadeiras à parte, nunca é demais lembrar que estamos em um mundo em que a transformação é mais rápida do que o entendimento sobre esta transformação.
Apesar do conceito de mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) ser antigo, ele caiu na “boca do povo” nos últimos anos principalmente ao se referir a velocidade com que o mundo mudava, do avanço tecnológico e a revolução digital. Tão logo as pessoas começaram a dominar esse conceito se situar e viver nesse contexto, adivinhe? Surge um novo conceito para ser compreendido, o mundo deixa de ser VUCA para ser BANI (Frágil, Ansioso, Não Linear e Incompreensível). Lá vamos nós novamente nos adequar aos “novos” tempos.
Essa é a realidade e dinâmica do mundo em que vivemos!
O impacto de toda essa transformação é uma mudança de comportamento das pessoas e consequentemente na sua forma de agir, interagir e consumir. Independente do cenário e contexto, é fácil identificar como essas três variáveis evoluem.
No contexto educacional, podemos identificar que as pessoas estão em busca de um aprendizado mais rápido e com retorno claro, objetivo e aplicável (é aí que entra o “Agir”). A aprendizagem pode ser de forma presencial, híbrida ou online, de acordo com a necessidade e aderência de cada indivíduo (é a forma de “Interagir” transformada). Os conteúdos precisam estar atualizados, em formato ainda mais dinâmico, adequado às diferentes formas de aprender e entre tantas características podem ser flexíveis (acompanhando a forma de “Consumir” dos tempos atuais).
No que diz respeito às formas de consumo destaca-se a pluralidade de oportunidades que existem para que os conteúdos sejam entregues de forma inovadora. Além de promover um maior engajamento e interação, principalmente entregando um aprendizado significativo e associado diretamente às demandas da prática profissional.
A partir desse olhar, o microlearning ganhou espaço e vem expandindo sua contribuição para o mundo da educação. Essa metodologia é muito difundida na educação corporativa trazendo como um dos principais benefícios o aprendizado fragmentado e direcionado a objetivos específicos.
O que está por trás da abordagem?
O aprendizado se dá por meio de pequenas partes de informação para que o conhecimento, habilidade ou técnica específica sejam explorados e utilizados na resolução de problemas do mundo real.
Por se tratar de um aprendizado fragmentado, outra característica marcante dessa abordagem é a agilidade do aprendizado. Ou seja, a aquisição do conhecimento não demanda mais do que 10 minutos de dedicação por tópico, divididos em unidades de 2 a 5 minutos.
A justificativa por trás dessa metodologia é a teoria da “curva do esquecimento” de Hermann Ebbinghaus, seus estudos mostram que a retenção do conhecimento é curta e normalmente as pessoas “esquecem” aproximadamente 80% do que aprenderam em até 1 mês. Isso baseado no volume de conteúdo a qual somos expostos, portanto, parece ser uma solução viável diminuir o volume de conteúdo a pequenas partes, assim podem gerar maior retenção de conhecimento.
Para desacelerar o processo de esquecimento, a repetição permite que a aprendizagem seja fixada com mais efetividade do que a simples reexposição ao material original. “A recordação repetida parece ajudar a lembrança a se consolidar em uma representação coesa no cérebro”, escrevem Brown, Roediger e McDaniel no livro Fixe o conhecimento: a ciência da aprendizagem bem-sucedida.
Ao observar suas características, o microlearning começa a aparecer como uma solução viável de metodologia para a educação formal. Principalmente se associarmos ele ao perfil de consumo dos estudantes, suas rotinas e necessidade de maior flexibilidade na hora do consumo dos conteúdos. Porém, é importante destacar que a metodologia possui algumas fragilidades.
Apesar de ser uma forma ágil de aprendizagem, um conhecimento muito específico não nos proporciona uma visão multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Essa é a maior fragilidade desta metodologia, quando há um conhecimento com maior nível de complexidade e interdependência é necessário uma maior tempo de dedicação para que o aprendizado seja efetivo e muitas vezes requer a prática.
Como tornar microlearning uma estratégia diferenciada no ensino Superior?
Constantemente estamos buscando modelos ideais de aprendizagem e alguma forma de encontrar a “fórmula/modelo mágica”. Nesse cenário, acabamos comparando modelos e metodologias e acabamos optando na maioria das vezes por um OU outro.
Por isso, não podemos descartar que esse é um caminho a ser seguido, mas olhando para as diferentes formas de aprendizagem parece incoerente acharmos que um método é melhor ou que substitui o outro na trilha de aprendizagem. É preciso entender que o fator indivíduo é determinante nessa equação e que cada um possui uma ou mais formas de aprendizagem, a depender de inúmeros fatores. Portanto, é preciso declarar que estamos na era do “E” e não a do “OU”, sendo assim, é possível associar a estratégia do microlearning com o macrolearning.
Dessa maneira, é possível potencializar o ensino através de estratégias diversificadas e que impactam diferentes perfis de alunos, além de contemplar as diferentes formas de aprendizagem em um modelo multimodal. E é sob esse olhar que podemos potencializar o processo de aprendizagem.
Normalmente encontramos um cenário com conteúdos sendo ofertados em formatos extensos de leitura, vídeos de longa duração, aulas expositivas com pouca participação, slides com material das aulas apenas com bullet points de contextualização ou carregados de texto que são fragmentos de artigos ou livros. Tudo isso e mais uma série de estratégias que geram pouca interação, engajamento e retenção dos estudantes é o que mais estamos vendo hoje em dia, seja no EaD ou no presencial.
Agora, imagine um outro cenário: os estudantes têm a oportunidade de aprender os principais conceitos da disciplina de forma ágil, objetiva e clara, sem a necessidade imediata de estabelecer uma relação de raciocínio crítico-reflexivo. Uma metodologia que o prepare para quando ocorrerem as interações com os professores, ele aproveite esses momentos para conectar o conhecimento conceitual (já absorvido) e a aplicação prática integrada aos conhecimentos conceituais (também já absorvidos).
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Qual cenário faz mais sentido utilizar a metodologia?
Acredito que o segundo cenário. E veja, não há uma exclusão quanto às demais estratégias ou metodologias de aprendizagem, há um direcionamento prévio e objetivo. É quase uma sala de aula invertida em formato ágil, podendo até ser usada ao vivo no início da aula.
Essa é uma opção para usar as duas metodologias de forma que se apoiem. A mesma lógica pode ser utilizada para aprendizagem de procedimentos, técnicas e cálculos específicos, entre outras.
O diferencial estratégico ao fazer uso dessa metodologia é:
– entender os objetivos de aprendizagem das disciplinas,
– identificar quais elementos são adequados para serem transpostos para o conteúdo
– estruturar um micro jornada de aprendizagem em pequenas unidades rápidas.
5 passos para desenvolver o Microlearning dentro de uma disciplina
1° – Faça uma análise crítica
Analisar a ementa e os objetivos de aprendizagem da disciplina para identificar suas características.
Perguntas que podem ajudar:
- É uma disciplina mais conceitual ou de aplicação?
- O que a disciplina deve entregar ao seu final?
- O que o aluno deverá saber fazer ou deverá ter aprendido ao final da disciplina?
2° – Identificação dos conceitos
Agora é a etapa de identificação dos conceitos que envolvem tudo o que será abordado na disciplina, para que a partir desses conceitos se estabeleça a forma de transformá-los em microlearning.
3° – Análise de interdependência entre os conceitos identificados
Na área da saúde, por exemplo, é comum que um conceito esteja diretamente relacionado com o outro, dessa forma, é realizada a conexão entre estes conhecimentos. Fica mais fácil apresentar o material de forma integrada.
4° – Descrição dos conceitos
Descreva esses conceitos em frases curtas de no máximo 160 caracteres (como se fosse um tweet, ou um X). Não há problemas se esse conceito se transformar em várias frases sequenciais, faz parte do processo.
5° – Hora de botar a mão na massa
Agora é a hora da criatividade, monte um material que pode ser um vídeo curto em formato de reels do Instagram ou Stories, pode inserir animações e até mesmo áudio descrição.
Pronto, você já sabe criar um conteúdo em formato de microlearning! Existem muitas outras formas de elaborar o material, que fique claro.
Características dos materiais
Normalmente esse conteúdo acabará tendo de 1 a 3 minutos inicialmente, você poderá revisá-lo para dar um pouco mais de robustez se achar necessário, e se houver relação direta com outros conceitos você poderá estabelecer etapas de aprendizagem, no qual um objeto de micro aprendizagem tem 3 a 4 etapas ou passos para conclusão.
Muitas vezes os estudantes entendem como aplicar o conhecimento, mas no momento de defender uma hipótese ou embasar seu conhecimento a parte conceitual acaba sendo esquecida. Neste contexto, o Microlearning se torna uma metodologia poderosa no processo de aprendizagem e “manutenção da aprendizagem”, caso haja necessidade de revisitar os conceitos para uma reciclagem, o que se torna menos desgastante.
Reforço que estamos na era do “E” e não do “OU”, portanto associe essa abordagem com outras metodologias para desenvolvimento dos conhecimentos interdisciplinares, multidisciplinares, transdisciplinares e aplicados.
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Muito interessante! Eu acho que os blogs são uma forma útil de ‘Microlearning’. Aprendi muito sobre minha profissão em blogs de ciência cognitiva e práticas baseadas em evidências. Eles são rápidos de ler e sempre aprendo algo que posso usar na sala de aula. Obrigado pelo post!