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Os desafios do pós-pandemia no ambiente de aprendizagem

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Mais do que um evento adverso, que ocorre a cada geração, a pandemia de covid-19 se revelou um acontecimento capaz de produzir transformações na vida de cada um de nós. Não poderia ser diferente com o ambiente de aprendizagem.

É o que mostra o educador norte-americano Doug Lemov no livro Reconectar – Como Criar uma Cultura Escolar com Sentido, Propósito e Pertencimento, lançado pela editora Penso – Grupo A, em outubro deste ano.

Lemov é diretor da Uncommon Schools, rede privada que congrega 54 escolas nos Estados Unidos, e já havia lançado o best-seller Aula Nota 10 (Teach Like a Champion), que chegou ao Brasil em 2010. Em seu novo livro, que escreveu em coautoria com Hilary Lewis, Darryl Williams e Denarius Frazier, ele analisa as sequelas emocionais e psicológicas deixadas pela pandemia e de que forma elas impactam o ambiente educacional.

Falta de confiança nas instituições

Certamente, os estudantes que retomaram as aulas não são mais aqueles de antes da crise sanitária. Alguns perderam entes queridos e, afora isso, a maioria ficou trancada em casas e apartamento durante meses, afastada dos colegas, sem atividades coletivas e interações sociais.

Além das lacunas de aprendizagem, o que se verificou com o retorno às aulas foi o aumento das taxas de indisciplina e dos índices de ausência, mas a verdade é que o rastro da pandemia está por toda a parte. “É possível que o primeiro ano pós-pandemia tenha sido mais difícil do que o período da própria pandemia”, anota Lemov.

Entre os problemas analisados, constam a crise de saúde mental com aumento da exposição às telas de celulares; a falta de confiança nas instituições; o desafio de equilibrar individualismo com os benefícios do coletivo, algo que é extremamente importante para as instituições, em especial para as que dependem de contratos sociais, como as escolas. Todas essas questões desaguam num denominador comum: a falta de senso de pertencimento dos estudantes.


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Uma pandemia dentro da pandemia

Contudo, os autores do livro Reconectar – Como Criar uma Cultura Escolar com Sentido, Propósito e Pertencimento constatam que havia outra pandemia dentro da pandemia. Talvez seja melhor dizer que essa outra pandemia já existia antes da covid-19 e que ela deriva, principalmente, do aumento vertiginoso do uso de mídias sociais e smartphones entre jovens e adolescentes. O resultado é uma acentuada diminuição do bem-estar social, como registrou a psicóloga Jean Twenge, que foi responsável por várias pesquisas sobre o tema ao longo da última década.

Para se ter ideia, de 2006 a 2016, o uso das mídias sociais entre adolescentes dobrou, passando de uma para duas horas diárias. Em meados dos anos 2010, já se observava que 97% dos alunos do último ano do ensino básico (percentual que subia para 98%, no caso das meninas) dos Estados Unidos usavam as redes sociais (vale salientar que, nesta época, não existia ainda o Tik Tok). Como diz a socióloga Sherry Turkle (outra especialista mencionada na obra de Lemov), ao avaliar o impacto das redes sociais em nossa vida pessoal: “é como se estivéssemos sempre em outro lugar”.

Organização e produtividade

Evidentemente, essa megaexposição às telas de celulares produz efeitos negativos. Em 1996, metade dos adolescentes lia por prazer. Em 2017, esse número tinha diminuído para apenas um em cada 10.

“Os jovens trocaram as relações sociais por relações virtuais, mas a um custo alto”, afirmam os autores do livro Reconectar – Como Criar uma Cultura Escolar com Sentido, Propósito e Pertencimento. De fato, o custo é bastante elevado. Em 2012, 18% dos adolescentes relatavam se sentir solitários, conforme pesquisa realizada em 37 países, citada por Lemov. Quatro anos depois, as taxas simplesmente haviam dobrado.

O novo livro de Lemov não se limita a apresentar constatações pessimistas, e sim propõe soluções para o futuro. De que forma?

  • Apresentando estratégias que estimulam o desenvolvimento de competências socioemocionais, dentro e fora da sala de aula;
  • Sugerindo amplificar a conexão entre os estudantes, aumentando a interação presencial e o tempo longe das telas;
  • Enfatizando a necessidade de concentração em tarefas de aprendizagem com diferentes níveis de exigência;
  • Criando uma sala de aula que honre o tempo e os esforços dos alunos, e que lhes mostre, com organização e produtividade, como eles são importantes.

Livro: “Reconectar – Como Criar uma Cultura Escolar com Sentido, Propósito e Pertencimento”

Editora: Penso

Ano: 2024

Páginas: 272

Preço: R$ 80,10 (impresso) e R$ 64,08 (digital)

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Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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