Vanessa Dlugosz é especialista em direito constitucional e mãe do Gabriel, 16 anos. Aluno do 8°ano em uma escola de Curitiba (PR), que precisou suspender as atividades presenciais em razão da pandemia, Gabriel tem síndrome de Down e começou a ter aulas remotas pela televisão no dia 06 de abril.
Mas tanto ele quando sua mãe enfrentam desafios no ensino remoto emergencial. “Não tem material adaptado, não tem aula adaptada, não tem acessibilidade. Começa-se a ver a desigualdade potencializada nesse período”, contou Dlugosz ao podcast Café da Manhã, do jornal Folha de S. Paulo.
Ela diz que o filho assistiu apenas duas aulas e se frustrou. Não conseguia entender o conteúdo. A mãe de Gabriel relata que tenta auxiliar o filho realizando atividades antigas, mas a falta de conhecimento pedagógico dela dificulta a aprendizagem de Gabriel. Ela é mãe, não é professora.
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A falta de acessibilidade das aulas remotas representa uma triste realidade: o ensino a distância não é para todos. Mas pode ser.
É possível adaptar as aulas para atender as necessidades dos alunos com deficiência e sem exigir muito, segundo a psicopedagoga Camila Léon. “O ideal seria o aluno ter momentos de atendimento individualizado com o professor ou em grupos menores.”
Doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Mackenzie, Léon diz que, a depender da severidade do quadro clínico, podem ser feitos ajustes no conteúdo disponibilizado, na forma de explicação e no uso de diferentes recursos.
A situação de isolamento físico é estressante para todos, inclusive para os alunos que têm alguma limitação. Por isso, a psicopedagoga fala que “é mais importante que os professores abram o diálogo com os alunos sobre suas emoções, suas rotinas e como estão as relações em casa”. Isso irá promover mais a interação aluno-professor, do que apenas o foco no conteúdo acadêmico.
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Formas de ensinar alunos especiais
As aulas remotas devem contar com momentos de estimulação, ludicidade e acolhimento em casa. “Existem recursos que favorecem o rompimento das barreiras e o acesso à educação”, afirma a psicóloga Waléria Henrique dos Santos Leonel.
Entre os recursos estão plataformas acessíveis, leitores de tela, aulas em libras para alunos surdos e materiais adaptados.
Especialista em atendimento educacional para educação especial e inclusiva, Leonel ressalta que antes do uso de qualquer tecnologia é importante conscientizar e incentivar a capacitação das pessoas envolvidas no processo. “A inclusão deve ser praticada em todas as modalidades de ensino e em todos os níveis.”
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Até este ponto, é importante que a escola capacite professores, pais ou responsáveis. Afinal, são eles os mais envolvidos na aprendizagem das crianças e jovens com deficiência durante o período de ensino remoto emergencial.
“Os pais ou responsáveis devem ser capacitados, de forma que alguém da família acompanhe a criança durante as aulas online”, afirma a neuropsicóloga Nádia Bossa. Da mesma forma, os professores devem receber capacitação para reconhecer as necessidades dos seus alunos especiais.
Outros profissionais podem estar envolvidos no acompanhamento da criança. Eles e os professores, justamente com os pais, trabalham juntos para encontrar mecanismos e formas para auxiliar o aluno. Assim, “os professores deverão preparar suas aulas com base na descrição do aluno feita pela equipe que o assiste”, diz Bossa.
Mas é importante lembrar que o planejamento da aula online – como na aula presencial – deve ter como objetivo estimular a descoberta de novas competências nesses alunos e não insistir e habilidades improdutivas.
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Marcelo Válio, advogado e especialista em Direito Constitucional, comenta que os pais podem exigir o suporte adequado nas aulas pela escola, pois é obrigação legal da entidade escolar. “A Lei Brasileira de Inclusão é expressa e diz que cabe à escola dar todas as condições à pessoa com deficiência, não podendo cobrar custos adicionais”, afirma.
Isto é, “não é o aluno que deve se adequar à escola, mas a escola se adequar ao aluno”.
De acordo com dados da Unesco, aproximadamente 15% da população mundial tem algum tipo de deficiência.
No Brasil, segundo o censo escolar de 2019, são 1,2 milhão de alunos na educação especial – específica para pessoas com deficiência. Os dados mostram que 93% desses alunos estão incluídos em classes comuns; 44% das escolas não possuem nenhum recurso de acessibilidade a crianças com deficiências.
No total, o Brasil tem quase 48 milhões de alunos matriculados no ensino básico.
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