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Enquanto as águas das enchentes assolam o Rio Grande do Sul, muitas instituições de ensino superior (IES) se mobilizam para arrecadar doações e oferecer abrigo às vítimas. 

A articulação é uma resposta à maior tragédia climática da história do Estado. Em poucos dias, cidades gaúchas acumularam chuva esperada para até seis meses.

De um total de 497 municípios, 446 (quase 90%) sofreram alguma consequência dos temporais e da cheia dos rios. A Defesa Civil informou que o número de atingidos passa de 2,2 milhões. 


Há demanda por acolhimento, cuidados de saúde aos desabrigados e pessoas impactadas, além de uma preocupação ainda maior com os moradores de áreas de risco.
 

Em um gesto de solidariedade e apoio à comunidade atingida, servidores e estudantes universitários tentam angariar recursos e donativos. Também realizam mapeamentos de prejudicados, fornecem análises e previsões do clima e participam de operações de resgate de animais. 

Conheça algumas ações de auxílio ao RS realizadas pela comunidade acadêmica.  

Espaços de acolhimento 

Em razão da crise provocada pelas enchentes, o Centro de Esporte e Lazer da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), em São Leopoldo, assumiu uma nova função. No lugar de sediar jogos e torneios, o complexo desportivo agora serve de abrigo para cerca de 1,6 mil pessoas. 

A instituição entrega seis refeições diárias — incluindo café da manhã, lanches matutinos e vespertinos, almoço, jantar e ceia. Disponibiliza, ainda, pratos adaptados para pessoas com restrições alimentares. São cerca de 2 mil refeições por turno, entre marmitas e lanches, preparadas diariamente no Laboratório de Gastronomia e Nutrição da universidade. 

Unisinos distribui cerca de doze mil refeições diárias no RS. Crédito: Unisinos/Divulgação

 O Câmpus I da Universidade Feevale também recebe famílias desabrigadas desde o dia 4 de maio. Localizado em Novo Hamburgo, cidade vizinha a São Leopoldo e distante 50 quilômetros de Porto Alegre, o ginásio foi organizado para acolher pessoas e pets.  

Desalojados que estejam doentes são encaminhados para o Centro Integrado de Especialidades em Saúde (Cies), no Câmpus II da Feevale, também em Novo Hamburgo. Já os animais são direcionados para o Hospital Veterinário Feevale (Hovet), em Campo Bom. 

Coleta e distribuição de doações 

Por meio do Comitê de Solidariedade, a Unisinos tem arrecadado recursos para a compra de alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal. A quantia é destinada à Defesa Civil dos municípios em situação de calamidade. As doações podem ser feitas por depósito em conta bancária ou via Pix. Outras informações estão disponíveis no site da universidade. 

De outra forma, a Universidade Feevale concentra doações e organiza a logística para a distribuição de medicamentos e insulina. Interessados devem entrar em contato pelo WhatsApp (51) 3584-7190 e enviar a receita médica. Solicitações podem ser feitas por abrigos e grupos comunitários, com retirada na farmácia do Cies, sujeitas à disponibilidade de estoque. 

Reparo gratuito 

A Unisinos e a Feevale também estão mobilizando uma ação para conserto de eletrônicos que foram danificados pelas águas. A iniciativa não se limita a consertar aparelhos. As universidades querem conscientizar a população de que, na maioria dos casos, os eletrônicos podem ser recuperados, mesmo se molhados. 

Comunidade pode levar seus equipamentos até o Câmpus II da Universidade Feevale para avaliação. Crédito: Feevale/Divulgação

Apoio psicológico e social 

Se todos são atingidos pelas alterações do clima, nem todos sofrem os impactos da mesma forma. Um estudo conduzido em 2023 pela Universidade de Melbourne, na Austrália, mostra que pessoas atingidas por eventos climáticos sofrem também efeitos na saúde física e mental. Especialmente aquelas em situação de maior vulnerabilidade. 

Diante da gravidade da tragédia, considerada a pior vivenciada pelo RS, diversos profissionais e professores prestam acolhimento psicológico às vítimas da enchente, bem como voluntários em resgates e abrigos. 

A maior parte dos alojamentos já conta com atendimento. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (SES), também faz parte do plano de ações de saúde mental e atenção psicossocial do RS o mapeamento e intervenção nos abrigos mantidos pelas IES. 

Pesquisa e desenvolvimento de soluções 

A divulgação científica também tem se mostrado decisiva para enfrentar a calamidade pública. Um exemplo é a plataforma Cheias no Rio Grande do Sul, desenvolvida em caráter emergencial e voluntário por diversos setores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). 

A iniciativa reúne dados sobre impactos nas cidades mais atingidas, fornece previsão de inundações e disponibiliza um mapa com locais de enchentes e pontos de ajuda para a população. As estimativas são feitas com base na observação de imagens de satélite. 

Mapa interativo mostra locais de abrigo e doações em Porto Alegre. Crédito: UFRGS/Reprodução

Mas a UFRGS não está sozinha. Diversas instituições estão convocando a população de todas as regiões do Rio Grande do Sul para mapeamento dos locais onde aconteceram deslizamentos de terra e que foram atingidos pelas cheias históricas dos diversos rios que banham o Estado.  

O objetivo é criar um “Mapa Cidadão” com informações fornecidas pela população, que servirão de base para estudos científicos e trabalhos técnicos. As imagens e localizações informadas serão cruzadas com dados e softwares especializados para atualizar modelagens no futuro. 

Participam da iniciativa: 

  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); 
  • Universidade do Vale do Taquari (Univates); 
  • Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc); 
  • Universidade Feevale; 
  • Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS); 
  • Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos); 
  • Universidade Federal Fluminense (UFF); 
  • Universidade de Caxias do Sul (UCS); 
  • Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul); 
  • Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRHidro). 

Educação e conscientização 

As inundações no Rio Grande do Sul exigem uma resposta ágil e eficaz, mas a proliferação de informações inverídicas coloca em risco a efetividade das ações de resgate e auxílio. Em vista disso, a UCS lançou um guia com instruções sobre a prevenção e o manejo das principais doenças advindas do cenário das enchentes. 

Material reúne informações sobre como preparar alimentos para doar, cuidados ao voltar para locais atingidos pela água dos rios, apoio emocional e riscos de contaminação. Crédito: UCS/Reprodução

O e-book aborda temas como cuidados com a casa, a comunidade, a água, os alimentos e o manejo de animais em desastres. Além disso, trata do apoio mental e emocional. A iniciativa tem a parceria da Sociedade Gaúcha de Infectologia e o suporte da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro.  

A Unisinos também elaborou um material com diversos procedimentos para populações afetadas por inundações tentarem recuperar seus lares com segurança. O conteúdo foi produzido pela equipe de Gestão de Pessoas da universidade em conjunto com outras áreas. Assim como se viu no combate à pandemia, trata-se de mais uma medida socioeducativa que reforça o papel da academia na gestão de crises humanitárias. 

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