Nas últimas semanas, o termo “etarismo” tem aparecido com frequência na mídia e nas redes sociais. Principalmente após a viralização de um vídeo em que Patrícia Linares, uma estudante de 45 anos, sofria preconceito em virtude da idade.
Nas imagens, colegas mais jovens de Linares questionam como poderiam “trancar a matrícula” dela no curso de Biomedicina da Universidade Unisagrado, em Bauru, no interior de São Paulo, e que a estudante já deveria “estar aposentada”.
Embora cada vez mais pessoas acima de 40 anos estejam voltando a estudar ou ingressando na graduação – hoje, há quase 600 mil estudantes nessa condição, o que representa um aumento de 171,1% de 2012 a 2021, segundo o Censo da Educação Superior –, o preconceito e a exclusão não são casos isolados.
O bullying e a exclusão
Uma pessoa que passou por um caso semelhante foi o gestor público e social media mineiro Ernane de Paula Pereira. Ele relata que voltou a estudar já adulto, tendo concluído o ensino básico por meio do supletivo. Aos 48 anos prestou vestibular para o curso de Jogos Digitais.
O que era para ser a realização de um sonho logo se transformou em um grande problema. “Eu era o aluno mais velho da turma e, na hora de dividir os grupos para um trabalho, fui eliminado por todos”, relembra.
À época, Pereira chegou a se queixar aos professores do isolamento, mas o problema não foi solucionado. Por isso, optou por trancar sua matrícula. “Eu sofri a rejeição até um momento em que me levantei na sala de aula e agradeci a cada um dos alunos por me negarem o direito de aprender”, afirma.
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Apesar das dificuldades que já havia enfrentado na graduação, ele optou por fazer vestibular mais uma vez, incentivado por seu chefe, para o curso de Gestão da Qualidade e Pública. No entanto, não esperava que a experiência seria um estopim para o surgimento de problemas psicológicos.
“Eu lembro que, já no dia de apresentação, eu era o mais velho da turma mais uma vez e ouvi de longe: ‘Ih, esse aí é doido’. Quando disse que era funcionário público, quiseram me incluir nos grupos. Mas a situação começou a piorar quando desenvolvi problemas com a diretora da instituição. Cheguei a desistir de tudo quando voltei a ser excluído”, relata.
Foi por meio do apoio da família, das coordenadoras do curso e do chefe – o mesmo que o levou a prestar vestibular – que Pereira retornou à universidade.
Dessa vez, conseguiu concluir o curso de Gestão, aos 52 anos. “Não fui convidado para o dia da diplomação, mas não me importei. Recebi o diploma com um número menor de pessoas, com mérito acadêmico, e fui aplaudido”, diz.
Hoje, ele é responsável por gerenciar as redes sociais de dois deputados mineiros e do seu antigo chefe, que assumiu o posto de vice-presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais. Além disso, mantém um blog onde compartilha seus trabalhos.
O que é etarismo?
O etarismo é definido como o preconceito em virtude da idade de uma pessoa, geralmente mais velha. Ele aparece de muitas formas: por meio de agressões verbais (como nos casos de Patrícia Linares e Ernane Pereira), exclusão e, até mesmo, violência física.
Além de estar presente nas universidades, o etarismo também é comum no mercado de trabalho. Isso porque muitas vagas deixam de contratar pessoas por considerá-las “velhas demais” e, portanto, “desatualizadas” ou “incapazes” de exercer determinada função, independentemente da qualificação do profissional.
Mudança de carreira: maior diversidade nas IES
De acordo com dados da pesquisa Work 2022: A Global Workforce View, realizada pelo instituto ADP Research em 17 países, 80% dos brasileiros consideram mudar de carreira. Entre os fatores determinantes para essa decisão, destacam-se a busca por realização pessoal e melhores oportunidades. O empreendedorismo também é visto como um propulsor.
Para alcançar esse objetivo, muitas vezes é necessário realizar uma nova graduação. Até mesmo para quem deseja abrir seu próprio negócio, cursos como o de Administração podem ser interessantes. Com essa tendência, a lógica é que pessoas recém-formadas no Ensino Médio tenham um convívio maior no meio acadêmico com pessoas mais velhas que eles. Uma troca de experiências na qual, sem dúvida, todos saem ganhando.
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