Metodologias de Ensino

Por que é tão “hard” ensinar soft skills

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Inteligência artificial, computação em nuvem, blockchain, robótica, big data: a automação e o desenvolvimento tecnológico é um caminho sem volta. E não há dúvida de que esses sistemas substituirão muitos humanos.

Um relatório da consultoria McKinsey, por exemplo, estima que cerca de 15% da força de trabalho global – o equivalente a 400 milhões de pessoas – podem perder seus empregos até 2030.

Colaboração: soft skills constituem habilidades sociais, emocionais e comportamentais. Crédito: Pixabay.

O alento é que esse mesmo relatório, e outros, apontam que a tecnologia tem enorme potencial para criar novos trabalhos. A expectativa é que haja uma demanda adicional de mão de obra que oscila entre 21% e 33% da força de trabalho global. Em números, entre 555 milhões e 890 milhões de empregos até 2030.

Futuro exige soft skills

As escolas estão em alerta para essa mudança de paradigma. E fazem um movimento (ainda tímido) de adaptação dos currículos para evitar a formação de indivíduos defasados e incompatíveis com o mercado de trabalho.

Além de incorporarem disciplinas na área de big data, UX design e programação, as instituições de ensino buscam adotar metodologias ativas que capacitam os alunos nas chamadas soft skills – habilidades comportamentais, sociais e emocionais.

A razão? O documento da McKinsey explica: “As atividades que irão se destacar terão habilidades difíceis de serem automatizadas, envolvendo capacidades emocionais e sociais, criatividade e alta capacidade cognitiva”.

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Em um ambiente laboral dominado por máquinas, atributos comportamentais, portanto, serão mais do que essenciais. (Não que já não sejam.)

Ocorre que, por muito tempo, acreditou-se que atributos assim eram inatos e dificilmente podiam ser aprendidos. Ledo engano. O surgimento de escolas, edtechs e plataformas especializadas em treinamentos de hard e soft skills – como Slash Education, Singularity University, Saint Paul, LinkedIn Learning, Minerva Schools, Perestroika, Gama Academy, Coursera, Udemy e Udacity – é prova disso.

Por outro lado, instituições mais tradicionais, como universidades e escolas de ensino básico, ainda enfrentam dificuldade para adaptar currículos às exigências do mercado.

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Por que tão difícil? Saiba 3 razões 

Tornou-se quase um clichê dizer que soft skills são as mais “hard” de ensinar. Por quê? Segundo Rodrigo Madeira, gerente da divisão brasileira da Symplicity, empresa de soluções de empregabilidade, existem pelo menos três grandes razões.

  1. “O primeiro desafio é obter consenso dentro da instituição ou da proposta pedagógica sobre essas habilidades – sobre o que é necessário desenvolver. Esse é o ponto de partida para ensinar soft skills”, diz Madeira.
  2. A segunda razão é a dificuldade em definir uma metodologia de ensino. Aqui, a decisão passa obrigatoriamente pela qualificação dos professores, de modo a serem capazes de abordar o fator comportamental como propulsor de desenvolvimento.
  3. Agora, o terceiro motivo pelo qual é tão difícil ensinar soft skills: avaliação. Estabelecer o sistema de mensuração da aprendizagem em disciplinas como matemática e robótica não é assim tão difícil. Mas, devido a subjetividade das emoções e do comportamento humano, não dá para dizer o mesmo sobre o ensino de comunicação, empatia e resiliência.

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Subjetividade vs. resultados

Para Luciana Lima, professora do Insper com formação em Administração e Psicologia, as respostas para o ensino e mensuração das soft skills está na neurociência.

“Caso deseje melhorar suas competências interpessoais, isso exigirá que a pessoa, além de compreender os conceitos, ative o sistema límbico e de recompensas intrínsecas no trajeto de mudança comportamental. Isso demanda bastante esforço, atenção e persistência”, afirma.

O autoconhecimento, aliás, é considerando o ponto de partida ideal para o desenvolvimento de soft skills. Demandas da era da trabalhabilidade, que incluem trabalho remoto, freelancer e sem carga horária fixa, vão exigir boa capacidade de gestão de si próprio. Mas, infelizmente, a habilidade ainda é negligenciada.

“Mesmo na adolescência, quais disciplinas levam o aluno a refletir sobre si? E quando chega na graduação: mais e mais estímulos técnicos são exigidos. Nada contra aspectos técnicos, mas não serão eles que sustentarão as decisões de carreira nem dos processos seletivos”, diz a professora do Insper.

Rodrigo Madeira, da Symplicity, aponta que as empresas estão em um processo bem mais avançado de reconhecimento e aplicação das soft skills do que instituições de ensino superior, por exemplo.

“Os empregadores entendem que a questão técnica é mais fácil de ensinar. Por isso preferem contratar um novo colaborador que tenha atitude, valores e competências alinhadas com a organização, que é algo muito mais profundo e difícil de mudar”, afirma.

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