Gostaria de ter acesso a estudos que “comprovam” que os alunos bem avaliados no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) não fazem parte dos milhões de desempregados com ensino superior no Brasil.
Também gostaria de saber se os cursos mais bem avaliados no Enade colaboram com soluções estratégicas e científicas para benefício do país.
Outras questões me vem à mente após a divulgação dos novos resultados do Enade: é correto afirmar que as instituições de ensino federais se saem melhor no exame porque têm os melhores alunos – muitos provenientes de escolas privadas, aliás?
E até quando aceitaremos que alunos de instituições particulares continuem a se rebelar e a realizar o Enade sem comprometimento, prejudicando o desempenho geral da IES? Talvez por muito tempo ainda…
Tenho refletido muito sobre os modelos de avaliação, especificamente no Ensino Superior. Via de regra, as avaliações têm um caráter quase sempre punitivo, em vez de construtivo.
Leia mais: Por que a OCDE “reprova” o modelo do Enade
Como chegamos até aqui? Bem, um dos problemas do nosso sistema universitário é que muitos alunos seguem estudando ao decorar histórias, fórmulas, perguntas e respostas.
Outro problema é que as avaliações muitas vezes cobram conceitos que nunca serão utilizados. Assim, os estudantes não desenvolvem as tão importantes soft skills, habilidades que incluem criatividade, resiliência, comunicação e argumentação, por exemplo.
Pensando nisso, fico pensando por que não convertemos o Enade aos desafios atrelados ao desenvolvimento do Brasil. Em vez de mobilizar milhares e milhares de seres pensantes para preencher gabaritos, o país poderia estar produzindo algo baseado no conhecimentos dos alunos.
Leia mais: Por que os rankings falham ao medir a qualidade da educação
Seria incrível se ao invés do Enade tivéssemos um hackathon (maratona de desenvolvimento tecnológico) – ou hacklab – que valorizasse o que os alunos de fato aprenderam nos seus anos de estudos.
Tenho certeza que os estudantes poderiam colaborar para os diversos desafios e problemas da sociedade. Além disso, um hackathon permite que os estudantes aprendam a trabalhar em grupos – afinal, não é a nota individual do Enade que garante ao aluno ser um bom ou mau profissional.
Enquanto “reformas” como essa não ocorrem, precisaremos enfrentar os dados que se repetem: conceitos altos em sua maioria para o ensino público, notas medianas para o ensino privado.
E sobre a afirmação do ministro Abraham Weintraub, que diz estudar uma mudança de legislação para punir estudantes que não tenham bom desempenho na prova, bem… sem comentários.
Leia mais: Mais do que personalizar a aprendizagem, é preciso humanizar a educação
Ótima reflexão Fernanda. Infelizmente aiinfa seguimos perseguindo um modelo falido que joga milhares de bacharéis no mercado com pouca (ou nenhuma) competência para o mundo do trabalho e toda complexidade social que o envolve.
… ou, o que é pior Nívia… as vezes somente aqueles que tem a “maior nota” é valorizado… e não os mais criativos, os mais inovadores, os mais pró-ativos… 😉
Há muita divagação de idéias, mas quanto a primeira pergunta do artigo não existe indicador do Enade para avaliar “o futuro desemprego do estudante”. E também uma pesquisa nesse sentido tem valor simplesmente estatístico (seria só para brincar com matemática) porque as variáveis independentes que influenciam o desemprego são inúmeras e tem pouca ou nenhuma relação com o modelo de aplicação ou avaliação de resultados do ENADE. Como verdadeiramente foi exposto o aluno não tem motivação para fazer esse exame e um curso (lembrando que a escala de faixas do ENADE é dos cursos e nao dos alunos) numa faixa 1 pode ter excelentes alunos, assim como um curso na faixa 5 pode ter péssimos. A interpolação realizada no ENADE para comparar os cursos é uma Normal logo só se consegue em um grau muito delicado comparar cursos da mesma área em uma mesma aplicação. Não tem como comparar exames de anos diferentes por exemplo, isso porque a interpolacao é baseada em uma média das notas do curso da area naquela aplicação, assim se uma IES em um ano foi mal avaliada e investe horrores em estrutura, capacitação, etc e fica na esperança de ter resultados melhores pode se decepcionar porque basta que as demais IES tenham melhorado um pouquinho mais que ela para ela ainda na média ficar na mesma classificação ou piorar. O Relatório da OCDE como mencionado é apenas o que ele diz um crítica e por sinal também recheado de interesses alheios a educação. Não apresenta proposta de solução ou como fazer melhor, nesse sentido esse trabalho é incompleto e tecnicamente não pode ser levado a sério. Finalmente chegamos na parte do Hackaton. Todos que comentam sobre o ENADE acham que o INEP devia fazer diferente uma operação nacional onde se tem 550.000 inscrições, mais de 1000 IES, em 27 estados, envolvendo correios, gráfica, policia militar. Mas da mesma forma que o ENADE, como a IES irá obrigar a participação dos seus estudantes em um Hackaton? Como assegurar que esse Hackaton será nacional? O que fazer com as IES que não tem estrutura (vide relatório CPC) para organizar ou participar de um Hackaton? Como convencer as IES a sistematicamente todos os anos organizarem esse evento? O custo desse Hackaton ficaria para quem? Qual a metodologia para coletar os resultados? E aqui entra um detalhe partindo do implícito no texto de que a adesão a um hacketon seria maior( estamos falando de algo em torno 550.000 inscritos por exame hoje), fazer um hackaton nacional necessitaria de uma estrutura para comportar essa quantidade de alunos divididos em grupos ou se optado por uma solução distribuída teríamos várias sedes onde estariam ocorrendo os hackatons nacionais, o que traz novamente a indagação que metodologia aplicar para avaliar os diferentes hackatons? Como garantir a comparabilidade entre as diferentes edições? Não estaríamos trocando 6 por meia-dúzia? além de trazer uma complicação logística muito maior? Outro fato é que o ENADE é uma obrigação legal vem da lei do SINAES o hackaton seria mais um evento na rotina dos estudantes porque enquanto não mudar a lei as IES terão a obrigação de participar do ENADE. Eu vejo idéias asssim com muita frequencia, mas como dito no relatorio da OCDE não existe nada igual ao ENADE, e não é porque é ruim, é porque não é Facil organizar em escala nacional um evento onde todas as IES participam e ainda ter uma significativa participação dos estudantes, é claro que está muito aquém do que o Brasil deseja e é por isso que recebe tantas críticas, mas a verdade é que NINGUEM (Todos pela educação, OCDE, mídia especializada, Ex-secretários executivos da educação, ex-presidentes do Inep, etc) apresentou durante a “extensa” vida do ENADE uma solução viável melhor da que se tem hoje. A crítica pela crítica é vazia.
Entendo perfeitamente suas colocações Sergio… talvez devessemos aprender com a NASA… que desde 2012 promove o “International Space Apps Challenge da NASA” e desde então é o maior hackathon global do mundo, envolvendo milhares de cidadãos usando os dados abertos da NASA para criar soluções inovadoras para os desafios que enfrentamos na Terra e no espaço. (https://www.spaceappschallenge.org/)
Deixo claro que não fiz a crítica pela crítica… acredito que tenho o direito de me manifestar, provocando quem tem o “poder”, para que saia da “caixa” e pense em algo viável, pragmático, que seja de fato agregador para as IES, seus alunos, o mercado e o nosso país… sem levantar barreiras que extermine as possibilidades, antes mesmo de serem prototipadas…
Quem sabe, possamos começar não substituindo o ENADE… mas, fazendo algo como era o Desafio Nacional Acadêmico… só que com foco no Ensino Superior, gerando uma grande ação mobilizadora, voluntária, as instituições e os alunos, certamente se engajariam a participar… Seria o verdadeiro “DNA do Brasil…”