O modelo de trabalho com uma carga horária de 32 horas semanais – ou seja, quatro dias por semana – está cada vez mais tangível. O movimento 4 Day Week está realizando uma pesquisa com mais de 70 empresas do Reino Unido, com o objetivo de entender se é possível ter semanas com menos dias úteis.
Segundo constatações preliminares do estudo, cerca de 86% dos entrevistados disseram que manteriam a política de quatro dias da semana após o término do teste. A maioria das empresas reportou que a produtividade permaneceu a mesma ou melhorou.
Nos Estados Unidos, a tendência chegou às escolas. Cerca de 660 instituições de ensino básico, em 24 estados, adotaram quatro dias de aula por semana antes mesmo da pandemia, de acordo com o Brookings Institutions.
A semana de quatro dias também virou estratégia para atrair e reter professores. Após o baque da crise sanitária e o número crescente de casos de burnout, os docentes buscam maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.
Mas sob a perspectiva das instituições de ensino superior (IES) essa transformação também é viável?
Instituições já adotam semanas de quatro dias
A faculdade D’Youville College de Nova York possui 2.800 estudantes e foca na formação de profissionais para a área da saúde. Durante o verão de 2021, a instituição testou a semana de 32 horas para o seu quadro de colaboradores não docente – pouco menos da metade dos seus mais de 300 funcionários.
Por enquanto, foi apenas uma experiência. Mas a presidente da D’Youville, Lorrie Clemo, ressalta que há boas hipóteses para a semana de quatro dias se manter. “O nível de entusiasmo entre os nossos colaboradores está acima da média”, conta, em entrevista ao portal Times Higher Education.
Outras iniciativas optaram por estender a semana mais curta para professores e alunos das instituições de ensino. É o caso da Universidade de Mobile, no Alabama. Por lá, os estudantes são encorajados a passar as sextas-feiras como voluntários na comunidade, a socializar com colegas de turma, a fazer estágios ou a trabalhar para pagar a sua educação.
Para os funcionários, “a semana acadêmica de quatro dias representa uma oportunidade de equilíbrio”, disse, também para a Times Higher Education, Chris McCaghren, o reitor da Universidade de Mobile.
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Prós e contras
Segundo a 4 Day Week, as semanas com quatro dias são uma boa medida para lidar com os crescentes casos de ansiedade e burnout, além de contribuir para o meio ambiente.
Apesar disso, Joe Ryle, diretor de campanha da 4 Day Week UK, ressaltou, em entrevista à Insider, que não se pode ter a ilusão que apenas uma redução de dias resolveria todos os problemas inerentes ao trabalho.
“Apenas comprimir a carga horária de cinco dias para quatro, não resolve o esgotamento do local de trabalho, stress, excesso de atividades ou problemas de saúde mental. Também, não pode ser usado como desculpa para uma redução de salários”, afirma.
No âmbito acadêmico, por exemplo, Gregor Gall, associado de investigação afiliado da Universidade de Glasgow, advertiu que muitos docentes “consideram impossível fazer todo o seu trabalho no prazo de quatro dias, dado que não o conseguem gerir em cinco dias de oito horas e assim trabalhar à noite e aos fins de semana, e não tirar todas as suas férias”, explica.
Ou seja, a migração para uma semana de quatro dias requer muito estudo e análise. Trata-se de uma intensa reconfiguração das estruturas de trabalho e estudos em voga hoje. Porém, há quem defenda que os prós da iniciativa se sobressaem aos contras.
“Estudantes e acadêmicos do ensino superior têm horários mais livres e flexibilidade suficiente para atender às suas próprias necessidades e as dos seus filhos”, destaca Paul Hill, fundador do Centro de Reinvenção da Educação Pública da Universidade de Washington-Bothell.
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