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Chegada do Direito EaD transforma cursos jurídicos presenciais

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A chegada do Direito a distância (EaD) vai transformar o ensino superior após a pandemia, como projetou, ainda em maio, em entrevista ao Desafios da Educação, a coordenadora de consultorias da Plataforma A, Natalia Améndola. Hoje, fica claro que um dos principais impactos vai acontecer nos cursos jurídicos presenciais.

Historicamente, a inovação encontrou barreiras na área. Segundo a coordenadora do curso de Direito da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Ana Luiza Berg Barcellos, as dificuldades de reinvenção estão ligadas às origens dessas graduações no Brasil. Criadas no século 19, foram influenciadas pelas escolas jurídicas de Coimbra, em Portugal.

“O ensino com bases europeias se consolidou por aqui, sendo enraizada nas academias brasileiras”, explica. “Isso prejudicou a compreensão sobre a necessidade de mudanças. Romper com convenções culturais é um processo longo que exige entender o que pode ser mantido e quais práticas podem ser agregadas para viabilizar uma formação jurídica atenta à atualidade”, completa.

A superação dessas barreiras, a evolução do EaD e a aplicação de tecnologias educacionais em cursos como o Direito estão entre os temas do EAD TALKS: Revoluções – Do legado à transcendência digital no Ensino Superior. O evento, online e gratuito, foi oferecido pela Plataforma A para marcar o Dia Nacional do EaD.

O impacto da tecnologia

Barcellos, da UCPel, concorda que a liberação iminente do Direito EaD pode mudar uma realidade estabelecida há séculos. “Sem dúvida, os cursos a distância serão inspiradores para a adoção de tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, agregando mais qualidade aos presenciais”, afirma.

Um exemplo são os laboratórios virtuais de práticas jurídicas. Também conhecidos como Núcleos de Prática Jurídica Eletrônicos (NPJ-e), eles permitem que os alunos acompanhem casos reais e simulados no ambiente online. As plataformas ainda viabilizam a produção de documentos que geram evidências para avaliação in loco do Ministério da Educação (MEC).

Conforme o presidente da Comissão de Educação Jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Minas Gerais, Emerson Luiz de Castro, os cursos de Direito ainda vão sofrer muitos impactos da tecnologia. Até porque o dia a dia da advocacia e o perfil dos advogados estão em transformação.

“A tecnologia tem provocado uma forte ruptura no setor – uma mudança de paradigma que, inclusive, virtualizou audiências, reuniões com clientes e fez andar até mesmo a fila de pedidos para a abertura da graduação em Direito na modalidade a distância, ainda inédita no sistema federal de ensino”, afirmou, recentemente, ao Desafios da Educação.

Depois de anos parada, a autorização para oferta de cursos de Direito EAD começou a andar. Diversas instituições de ensino superior (IES), como a UCPel, passaram pela avaliação do MEC. As primeiras turmas devem começar as aulas em 2022, o que vai movimentar a captação de alunos no Brasil.

Leia mais: Ferramentas do EaD no ensino presencial: tecnologia em todas as modalidades

Mais espaço para o EAD

Conforme Améndola, da +A Educação, o Direito EAD vai trazer mais gente para o ensino superior e provocar uma migração entre modalidades. Parte das vagas será preenchida por egressos em busca de uma nova graduação, parte por alunos de cursos presenciais noturnos.

Para atrair esse público, investir em tecnologia é apenas o primeiro passo. As IES devem observar como o comportamento dos estudantes está mudando. Pesquisas como o Observatório da Educação Superior: análise dos desafios para 2021 mostram uma forte preferência pelo ensino híbrido.

Não por acaso, muitos dos futuros cursos de Direito EaD estão levando isso em conta na organização dos seus currículos. A maioria das atividades acontecerá online, mas sem abrir mão da presencialidade em determinados dias da semana.

As graduações jurídicas presenciais também começam a se valer desta tendência, apostando no modelo híbrido. Uma saída é aproveitar que todos os cursos superiores – exceção à Medicina – podem oferecer 40% da carga horária a distância.

Foi o que fez a UCPel ao reformular o curso presencial de Direito durante uma adequação às novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) da carreira. Os estudantes conseguem aproveitar o melhor dos dois mundos – online e presencial – e ganham uma formação mais atualizada.

“Nesse formato, os alunos constroem habilidades e competências para a inserção no universo contemporâneo das carreiras jurídicas, o que exige um profissional dinâmico e atento à revolução tecnológica que atinge o Direito”, afirma Barcellos.

Leia mais: À medida que o vírus diminui, o ensino híbrido cresce nas IES

Redação
A redação do portal Desafios da Educação é formada por jornalistas, educadores e especialistas em ensino básico e superior.

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