O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico que se manifesta na infância e tende a atrapalhar o desempenho dos alunos em sala de aula. Por isso, é importante conhecer os sintomas da TDAH – desatenção, inquietude, impulsividade – para identificar casos e ajudar os estudantes do ensino básico ao superior.
Um estudo do Programa de Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade (Prodah), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas, encontrou uma prevalência 5,8% de TDAH em jovens entre 12 e 14 anos. O que coloca o Brasil dentro do patamar internacional, com ocorrência entre 4% e 5% em crianças em idade escolar.
Isso significa que em uma turma de 25 alunos, pelo menos um tem TDAH. Conforme o coordenador-geral do Prodah, Luis Augusto Rohde, embora haja focos de superdiagnóstico em escolas particulares de classe econômica mais alta, há um subdiagnóstico de TDAH em termos de saúde pública no Brasil.
Como o transtorno frequentemente acompanha a pessoa durante a vida adulta, o cenário tende a se repetir durante o ensino superior. Algumas universidades dispõem, inclusive, de serviços de apoio psicopedagógico que orientam tanto o aluno quanto o professor.
O papel do docente, nesse contexto, é indispensável. “O diagnóstico exige que os sintomas ocorram em diversos ambientes. Como uma criança passa metade da vida dela em sala de aula, o professor está em posição privilegiada para reconhecer sinais em alunos com TDAH”, afirma Rohde, organizador do livro recém-lançado Guia para Compreensão e Manejo do TDAH da World Federation of ADHD.
A palavra-final cabe a área médica, após uma avaliação. Mas para Cloves Amorim, o professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), além de momentos de “devaneio” é possível identificar outros sintomas.
“O aluno com TDAH normalmente é aquele que esquece as tarefas, que troca o material, que não segue as orientações prescritas no plano de ensino, que tem dificuldades de interações sociais, estando sempre mais isolado”, diz Amorim.
A identificação de casos de TDAH associados à hiperatividade é mais fácil e, portanto, mais comum. Mas nem sempre o déficit de atenção está associado ao excesso de agitação. “Existe uma proporção alta de predominância de desatenção sem hiperatividade, principalmente em meninas”, acrescenta Rohde.
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Os impactos da TDAH
Nem todos os alunos com TDAH terão problemas em sala de aula. Segundo a psicopedagoga Yasmini Sperafico, dificuldades de aprendizagem são constatadas em cerca de 50% dos estudantes. A escrita costuma ser a habilidade mais afetada.
Os sintomas causam prejuízo nas funções executivas e de planejamento. Ou seja, o aluno não consegue traçar etapas para executar tarefas. Essa distração o leva a cometer pequenos erros que comprometem o resultado final – erro comum em exercícios de matemática, por exemplo.
“Pessoas com desatenção predominante são as mais prejudicadas com o baixo desempenho escolar”, diz Sperafico. Já os casos que incluem hiperatividade podem atrapalhar a dinâmica de toda a turma.
Algumas mudanças simples em sala de aula, no formato das tarefas e nas avaliações, podem minimizar ou eliminar essas dificuldades. Listamos abaixo cinco dicas para melhorar o desempenho escolar e universitário de pessoas com TDAH.
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5 dicas para o professor
Organize a sala de aula: em primeiro lugar, deixe sala de aula limpa visualmente. Não use muitos estímulos, como cartazes e avisos, pois eles podem causar desatenção. Também é importante investigar a melhor distribuição das classes. Normalmente, a recomendação é colocar o aluno com TDAH próximo a professora. Mas nem sempre esse é local mais adequado. É importante deixá-lo longe das janelas ou em pontos com excesso de estímulos.
Seja flexível nas avaliações: propicie um ambiente tranquilo e solicite que o aluno com TDAH confira as respostas antes de entregar uma prova. Se necessário, conceda mais tempo para que concluir atividade.
Outra opção é realizar a avaliação em sala específica. Em atividades de matemática, por exemplo, considere todo o processo, não apenas o resultado. É comum o aluno com TDAH dominar o conteúdo, mas cometer pequenos deslizes na execução de cálculos.
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Prefira orientações e atividades curtas: durante as explicações de conteúdos, prefira orientações curtas, diretas e claras. Esteja próximo: passar na mesa (carteira) do aluno para retomar explicações ou detalhar o que ele precisa fazer em cada atividade também ajuda. Certifique-se de ser objetivo em cada tarefa.
Diversifique as estratégias de ensino: realize atividades em duplas, respostas orais, trabalhos com apoio de tecnologias. Atividades de ensino mais ativas do que contemplativas favorecem alunos com TDAH. Inicie a aula pelas atividades que requerem mais atenção, deixando para o final do turno aquelas mais agradáveis e estimulantes.
Material de apoio: quando for utilizar material de apoio impresso, utilize uma letra maior e coloque menos atividades por folha.
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*Com reportagem de Luiz Eduardo Kochhann
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