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O papel das IES no enfrentamento à crise climática

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Em 2018, Scott McAulay era estudante do último ano de Arquitetura na Universidade de Strathclyde, na Escócia, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um relatório alertando que o mundo tinha 12 anos para impedir mudanças climáticas catastróficas e irreversíveis.

O estudo afirmava que os edifícios eram responsáveis ​​por 20% das emissões globais de gases de efeito estufa relacionadas com a energia. Logo, os setores de arquitetura e construção precisavam de rever rapidamente as suas práticas.

Enquanto assistia as aulas, Scott teve uma sensação desanimadora: seus professores sequer falavam sobre aquele problema. A preocupação dele se justifica — e se fosse hoje seria ainda maior.

Cinco anos depois, as mudanças climáticas se agravaram. Julho de 2023, por exemplo, foi o mês mais quente da história. Os dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Serviço Copernicus da Comissão Europeia também apontam que um novo período marcado pelo aumento incomum das temperaturas se aproxima. Ou seja, a situação vai piorar ainda mais.

Enchentes no Sul do País deixou cidades inteiras destruídas. Crédito: Guilherme Hamm/Secom.

A crise climática

Enchentes, ciclones, queimadas e calor extremo. As últimas semanas, no Brasil, foram marcadas por diversos eventos climáticos que fizeram um assunto se tornar notícia e preocupação: ebulição global.

O termo foi criado para designar a nova fase de destruição do planeta Terra. Usada por especialistas e cientistas, a expressão alerta sobre os riscos e a gravidade da aceleração do processo de aquecimento global.

A má notícia é que não há como mais reverter as mudanças climáticas. A boa é que existem meios de lidar com esses desastres ambientais — e as instituições de ensino superior (IES) têm papel importante nisso. Alguns exemplos internacionais são a prova.


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Crise climática e ensino superior

Em 2019, a York St John University iniciou um projeto de pesquisa para descobrir o que os estudantes sentiam em relação as mudanças do clima. A descoberta foi que a preocupação era grande e até avassaladora – e que muitos se sentiam intimidados pela sua escala e gravidade.

Essa preocupação, no entanto, vem junto com uma cobrança: qual é o papel das IES no enfrentamento da crise climática?

Em entrevista à revista Times, Walter Leal, chefe do Departamento de Gestão das Alterações Climáticas da Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo, explica que até recentemente a abordagem da crise climática dentro das IES só aparecia em cursos específicos de pós-graduação.

“O estudo das alterações climáticas foi durante décadas uma questão para as Ciências Naturais e, mais tarde, para a Engenharia e outras disciplinas com base científica”, diz. Mas, como os efeitos do aquecimento global se tornaram mais visíveis nos últimos anos, o entendimento de como lidar com o problema também na graduação se tornou mais nítido.

Uma abordagem interdisciplinar

Já existem exemplos de faculdades de Direito, Medicina, Literatura, Economia e muitas outras que estão incorporando o tema em seus currículos. Essas IES também procuram entender como a crise climática transformará o mercado de trabalho.

Mesmo assim, muitos estudantes não aprendem sobre questões ambientais em suas profissões. E existem obstáculos para cumprir esse tipo de aprendizagem dentro dos currículos mais tradicionais. É por isso que o caminho defendido por especialistas não é apenas integrar o desenvolvimento sustentável no ensino superior, mas sim formar profissionais para um mercado de trabalho que lide com as questões climáticas.

As instituições de ensino superior têm o papel de formar os profissionais do futuro. Por isso, todo aluno interessado em uma carreira relacionada ao meio ambiente deverá ser capaz de adquirir os conhecimentos necessários durante a sua graduação.

Mas para além disso, as IES devem garantir que todos os estudantes aprendam as habilidades necessárias para enfrentar a crise climática dentro das suas áreas académicas e profissionais escolhidas. É neste cenário que especialistas defendem que os currículos de todos os cursos devem abordar o impacto que as mudanças do clima têm na economia, na sociedade e nas pessoas.

Aprendizagem baseada em projetos

Outra forma das IES abordarem sobre a crise climática é por meio da aprendizagem baseada em projetos (ABP), em que funcionários, estudantes e outros membros da comunidade possam colaborar. Com essa abordagem, as pessoas trabalham juntas para resolver problemas da comunidade, apresentando e testando ideias.

No início de 2022, a York St John University decidiu investir na metodologia. A ideia era os alunos usarem seus conhecimentos e habilidades para ajudar a resolver problemas reais da instituição ou da comunidade local. Um dos principais projetos foi a elaboração do sistema de alimentação da universidade. Aproximadamente 800 estudantes de diferentes cursos trabalharam juntos na iniciativa.

Abordagens como essa oferecem aos alunos a oportunidade de experimentar processos de aprendizagem social colaborativos com resultados tangíveis. E incentivam as IES a direcionar recursos e conhecimentos para a resolução de questões locais e climáticas.


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