A educação a distância é a pauta do momento. Com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), um sem número de escolas e IES recorreu ao ensino remoto para tentar seguir o ano letivo.
A mudança exigiu adaptação rápida por parte dos professores, o que levanta debates e questionamentos: os professores estão preparados para lecionar além do formato tradicional? Para fazer um bom currículo de EAD, basta transferir o conteúdo do modelo presencial para o ambiente virtual?
Leia mais: Gestores analisam as lições do coronavírus e os desafios das faculdades brasileiras
Em primeiro lugar, é preciso entender a diferença entre ensino remoto de emergência e EAD.
“O ensino remoto praticado atualmente [na pandemia] assemelha-se a EAD apenas no que se refere a uma educação mediada pela tecnologia. Mas os princípios seguem sendo os mesmos da educação presencial”, afirma Renata Costa, professora de tecnologia do centro universitário Brazcubas.
Para Costa, a educação a distância pressupõe o apoio de tutores de forma atemporal, carga horária diluída em diferentes recursos midiáticos e atividades síncronas e assíncronas. E isso não é, exatamente, o que está sendo feito durante a quarentena.
“Não existia um plano de contingência educacional ou administrativo para casos assim. Muitas das entidades educacionais brasileiras não estavam preparadas tecnologicamente, nem teoricamente.”
Além de lecionar na Brazcubas, Renata Costa também é consultora de EAD. Ela afirma que que ainda há muita resistência das instituições e dos professores com a educação online.
Leia mais: Por que há professores que ainda resistem ao ensino online?
Muitas vezes observamos o uso do ambiente virtual de aprendizagem [AVA ou LMS, na sigla em inglês] como um repositório de materiais, algo similar ao xerox. O AVA pode proporcionar muito mais.
Costa acrescenta: “A instituição deve incentivar o uso dos recursos interativos desse ambiente para que ele se torne uma extensão da sala física – aí, sim, podemos começar a pensar em EAD”.
Mais EAD e menos ensino remoto
O maior desafio desse “ensino remoto de emergência” recai sobre os educadores. Como adaptar os conteúdos, as dinâmicas de sala, as aulas expositivas e as avaliações – sem prejudicar o processo de aprendizagem? Como manter os alunos interessados e engajados? A tarefa é ainda mais complexa para aqueles que atuam em áreas distantes da tecnologia ou que lecionam para crianças.
Segundo Costa, é papel da instituição de ensino apoiar e instruir o professor. “Espera-se apoio técnico e regras objetivas e definidas para o formato do modelo remoto de aula”, comenta. Para a consultora, o amparo garante a confiança do docente e continuidade dos cursos.
Leia mais: Coronavírus: 5 dicas para os professores que vão migrar para a EAD
Escolas e universidades costumam oferecer workshops de ambientação digital para suas equipes durante o ano letivo, mas é fundamental que, nesse período de quarentena, as os times de TI estejam integralmente disponíveis para auxiliar os funcionários com as atividades remotas.
As instituições também devem estimular a troca de conhecimentos digitais e metodologias entre os professores.
O ideal é tentar estabelecer um padrão no uso das plataformas de ensino online e das redes sociais pelo corpo docente. Roteiros de aula, exibições de vídeos autorais, lives em redes sociais, uso de softwares independentes e a comunicação com os alunos devem ser feitos de acordo com o posicionamento de cada instituição. É importante que as turmas também estejam cientes dos formatos adotados e possam dar feedbacks à IES.
Leia mais: Avanço social depende de uso qualificado de tecnologia na educação
4 Dicas: como otimizar e aproveitar as aulas
Dentro do combinado com as escolas e universidades, os professores podem utilizar estratégias para tornar o conteúdo mais interessante e garantir a proximidade com os estudantes.
1) Criar um canal no YouTube: Ainda que seja possível compartilhar vídeos no LMS da instituição, pode ser válido abrir uma conta no YouTube. O envio dos vídeos costuma ser mais simples e veloz, e a plataforma permite que os alunos se inscrevam no canal, recebendo notificações sobre novas aulas todas as vezes que a acessarem.
2) Diversificar os materiais: Cada pessoa aprende de uma maneira diferente. O truque é apostar em pelo menos três formatos para alcançar o maior número possível de alunos. Ao invés de publicar dois textos em sequência, é recomendável mesclar com conteúdos em vídeo e em áudio, por exemplo.
Leia mais: Vai dar aulas a distância? Aqui estão 5 plataformas que você pode usar
3) Manter o espírito de grupo: Com o isolamento social, as turmas estão afastadas. Preservar a sensação de pertencimento a um grupo aumenta o engajamento e permite que os estudantes esclareçam dúvidas entre si. É possível criar um grupo da disciplina em aplicativos de mensagens instantâneas, realizar reuniões por videoconferência e lives nas redes sociais, sempre incentivando os comentários.
4) Aproximar conteúdo e realidade: Estabelecer ligações entre o conteúdo aprendido em aula e o cenário de isolamento social gera identificação. A dica é explorar o tema da pandemia sempre pelo lado positivo, propondo soluções e reflexões para o futuro e proporcionando que os alunos tragam as suas experiências para o ambiente estudantil.
Leia mais: Como a China pôs 240 milhões de crianças e jovens a aprender pela internet
A educação a distância ganhou protagonismo em um momento de crise, não há dúvidas. Mas, para a professora Renata Costa, podemos ressignificar esse período construindo novas perspectivas para a educação brasileira.
No último ano, 1,5 milhão de alunos participaram de cursos superior no formato EAD no Brasil, de acordo com o censo da Abed, a Associação Brasileira de Educação a Distância. Esse número será acachapante em 2020, considerando o cenário atual.
“Se antes alguns profissionais acreditavam que modelo online não impactaria o quadro educacional em que estamos inseridos, agora eles precisam repensar essa certeza”, afirma Costa.
Leia mais
>> 5 conselhos para coordenadores pedagógicos durante a Covid-19
>> 5 dicas para os professores que vão migrar para a EAD
>> 5 sugestões para os alunos que vão estudar a distância em tempos de coronavírus
>> Como os pais podem apoiar o estudo dos filhos durante a quarentena
Realmente não é EaD, o termo que pensadores da educação usa para essas situações é ENSINO REMOTO EMERGENCIAL. Comentei um pouco sobre isso no texto que repercutiu bastante no meio https://www.paulotomazinho.com.br/a-aprendizagem-nao-pode-parar
*usam
https://www.semesp.org.br/inovacao/noticias/semesp-indica-a-aprendizagem-nao-pode-parar/
E quanto à infraestrutura da faculdade? Continuamos pagando o valor incluso na mensalidade mesmo não utilizando? EAD = Ensino a distância, ponto.
Na Tecnologia da Informação tudo que é Remoto significa que não é presencial, ou seja, é feito a distância (exemplo do acesso remoto: quando alguém, através de uma rede, acessa um computador que está, fisicamente, em outro local). Nesse caso, os dois termos, tecnicamente, tem o mesmo significado.
Na prática, EaD (Educação à Distância) é toda modalidade de educação que não existe interação presencial entre alunos e professores, podendo ser realizada por livros (MOBRAL), aulas prontas e gravadas (Telecurso) ou mesmo por aulas remotas (ao vivo e personalizadas, como está acontecendo agora).
Concordo que não tem como comparar uma aula gravada de modo genérico, com uma aula ao vivo. Mas também entendo que é um erro afirmar que aula remota não é EaD, pois uma está “dentro” da outra.
Suas considerações a respeito do significado dos termos para área de TI está correta. Entretanto quando se trata de Educação a Distância versus Educação Presencial, estamos falando em legislações nacionais sancionadas pelo MEC, as instituições de ensino presencial continuam sendo regidas pelas legislações referentes à educação presencial. Dizer que estamos aplicando a modalidade EaD em cursos presenciais, significa que a partir de então as instituições seriam submetidas às legislação da EaD, o que não é verdade.