O feedback é essencial para múltiplas relações dentro das instituições de ensino superior (IES). Criar um ambiente aberto ao diálogo impacta, por exemplo, na performance dos colaboradores e no aprendizado dos alunos.
A seguir, o Desafios da Educação explica como desenvolver uma cultura do feedback nas IES a partir de quatro fatores – e, por fim, como essa prática pode gerar resultados positivos em sala de aula.
Criando a cultura
Em artigo publicado na Harvard Business Review, o coach executivo e instrutor na Stanford Graduate School of Business, Ed Batista, definiu quatro passos para construir e colocar em prática uma cultura rica em feedback.
Confira, abaixo, quais são eles:
1) Segurança e Confiança
Para dar e receber um feedback sincero, as pessoas precisam sentir segurança e confiança. Isso não significa evitar o confronto ou oferecer apenas apoio. Significa estar altamente sintonizado com os colegas.
É importante que a equipe se conheça para além dos compromissos de trabalho e que a o ambiente seja seguro para falar sobre emoções. Além disso, o feedback deve acontecer apenas quando as pessoas estiverem preparadas para recebê-lo.
2) Equilíbrio
Segundo uma pesquisa realizada na Universidade de Ghent, na Bélgica, o feedback positivo promove o autodesenvolvimento. Para isso, o feedback deve combinar uma crítica honesta com comentários verdadeiramente significativos.
Para estabelecer o equilíbrio entre os retornos positivos e negativos, a dica é oferecer algum feedback positivo… e parar por aí. Muitas vezes, o feedback positivo é usado para amortecer o golpe antes das críticas, mas essa prática degrada o valor do elogio e o torna vazio.
Nesse sentido, uma saída é elogiar o esforço – não a habilidade. Uma pesquisa da professora de psicologia da Universidade de Stanford, Carol Dweck, sugere que elogiar esforços persistentes, mesmo em tentativas fracassadas, ajuda a desenvolver resiliência e determinação. Por outro lado, elogiar talentos e habilidades resulta em aversão ao risco e sensibilidade aos contratempos.
3) Rotina
Um feedback integrado à rotina diária das equipes é a melhor maneira de normalizar a comunicação dentro da IES. Se o feedback acontece apenas em avaliações de desempenho ou quando algo dá errado, ele nunca será uma parte orgânica da cultura organizacional.
Muitas vezes, o feedback pode ser simples e rápido, sem muita preparação. Inclusive, quando houver segurança e equilíbrio na equipe, é possível realizar um feedback crítico para grupos maiores, o que faz com que todos aprendam com as questões em discussões.
4) Responsabilidade Pessoal
A equipe precisa saber que os líderes também estão tentando melhorar em dar e receber feedback. Pedir a opinião do grupo – colegas, superiores e subordinados diretos – sobre como o retorno está sendo dado é fundamental.
Ou seja, transparência é uma palavra-chave. Líderes e equipe não podem apenas esperar pelo feedback. Eles devem solicitá-lo explicitamente para, de fato, criar uma cultura de comunicação.
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Impacto na aprendizagem
Em artigo publicado recentemente, Naomi Winstone, especialista em avaliação e feedback, professora de Psicologia Educacional e diretora do Surrey Institute of Education, caracterizou a cultura do feedback no ensino superior a partir da análise das estratégias adotadas por 134 universidades do Reino Unido.
A autora explica que o processo e a prática do feedback não ocorrem em um vácuo contextual: as maneiras pelas quais o feedback é feito são influenciadas por fatores intrapessoais e interpessoais, bem como pelos ambientes em que um indivíduo trabalha.
Esses fatores interagem para criar culturas de feedback que representam crenças, valores e repertórios de prática compartilhados dentro do ambiente educacional. Ou seja, a cultura organizacional da IES impacta diretamente na forma como os professores se relacionam e como aprendem a dar feedbacks aos alunos, o que influencia na aprendizagem.
Entretanto, a análise da prática nas universidades britânicas revelou a presença majoritária de um feedback passivo, com a transmissão unidirecional de informações do professor para o aluno.
Para ter foco no aprendizado, defende Winstone, o feedback em sala de aula deve ser um processo de mão dupla, no qual a participação dos alunos é fundamental para o sucesso. “Para mudar para culturas de feedback focadas no aprendizado, deve-se considerar como os papéis e responsabilidades dos alunos são posicionados tanto na política quanto na prática pedagógica”, sugere.
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