Incentivar os estudantes a agirem com responsabilidade e ética frente aos recursos naturais é uma das diretrizes da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Mas trabalhar a sustentabilidade na escola vai além da educação ambiental. É possível, ao mesmo tempo, utilizar a criatividade dos jovens para encontrar soluções eficientes para problemas complexos – uma demanda cada vez maior da sociedade.
Um grupo de adolescentes da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, é prova disso. Recentemente, Clara da Silva Brum (19 anos), Maria Eduarda Prado Viegas (19 anos) e Thielly Kailany de Freitas dos Santos (18 anos), então estudantes do 4º ano do curso técnico de Química, criaram um protótipo de bioplástico desenvolvido a partir do caroço da manga.
O projeto ficou entre os mais votados na categoria Júri Popular na 8ª edição do Solve For Tomorrow, chamado no Brasil de “Respostas para Amanhã”. Trata-se de um Programa de Cidadania Corporativa da Samsung que, somente por aqui, já envolveu mais 165 mil estudantes, 22 mil professores, 5 mil escolas públicas e 8.113 projetos inscritos.
Eureca!
A ideia para o projeto surgiu em meio a um cenário de incentivos e oportunidades. De acordo com a professora de Química e orientadora do grupo, Schana Andréia da Silva, a escola é intimamente ligada às questões ambientais, fomentando a conscientização em diferentes momentos.
“Todos os anos são desenvolvidos projetos na área de sustentabilidade, que a escola incentiva através de palestras e durante as disciplinas”, afirma Silva. “A Mostratec (reconhecida feira de ciências da instituição) é um grande incentivo, pois muitos alunos querem participar, e os projetos da área ambiental têm grande visibilidade.”
O produto vencedor do Solve For Tomorrow começou a ser pensado no final de 2020, com a observação e pesquisa de problemas do cotidiano. A escola conta com uma disciplina de projeto de pesquisa. Nela, os alunos aprendem sobre metodologia científica e elaboram um plano de investigação, desenvolvem um projeto e, no final, fazem um relatório e uma apresentação dos resultados.
Nesse contexto, uma das alunas descobriu que o caroço da manga é rico em fibras. A princípio, a equipe pensou em desenvolver uma solução para a indústria têxtil, com a produção de fios para roupas. Com o tempo, as estudantes perceberam que essa também seria uma solução inteligente e sustentável para resolver um dos maiores problemas no segmento de polímeros: as embalagens descartáveis de alimentos, bastante utilizadas em serviços de delivery.
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Ciência na prática
O desenvolvimento da embalagem de bioplástico acontece da seguinte maneira: o caroço da manga é lavado, seco, triturado e então misturado a um amido termoplástico – conhecido como amido desestruturado ou amido plastificado. Assim, é possível gerar uma embalagem do formato desejado. Segundo Silva, o protótipo está em etapa de otimização e serão realizados testes para aperfeiçoá-lo.
A embalagem produzida a partir da fibra do caroço da manga é ideal para embalar alimentos secos, de verduras a hambúrguer e batata frita. “Já realizamos diversos testes, inclusive o de degradação no solo para verificar o processo de decomposição. Após o uso do material, ele pode ser reutilizado, reciclado ou descartado”, explica a docente.
“Soluções criativas para temas relevantes da sociedade são destaques nas edições do Prêmio Respostas para o Amanhã. Isso reforça a importância da preparação dos alunos para os desafios da atualidade, com acesso a uma educação inovadora que contribua com a reflexão, o protagonismo e a resolução de problemas”, afirma a gerente de cidadania coorporativa da Samsung Brasil, Isabel Costa.
A ideia de sustentabilidade deve ser incluída na estrutura de gestão e ser aplicada todos os dias, tornando-se parte da cultura da escola. Inclusive, a UNESCO Brasil e o Ministério da Educação se uniram para produzir uma série de materiais pedagógicos, a fim de divulgar a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) e a Agenda 2030 para estudantes do ensino fundamental.
O objetivo da EDS é incluir questões-chave sobre o desenvolvimento sustentável no ensino e aprendizagem. E, dessa maneira, incentivar mudanças de comportamento que garantam um futuro com integridade ambiental, viabilidade econômica e justiça social.
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