O governo federal anunciou, no início de julho, que pretende extinguir até 2026 a prova física do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). E que, por isso, a partir do ano que vem, substituirá gradativamente o atual modelo por outro, digital.
O teste inicial será feito com 50 mil estudantes, em 15 capitais brasileiras, nos dias 11 e 18 de outubro de 2020 – duas semanas antes da aplicação em papel.
O novo modelo, segundo Abraham Weintraub, atual ministro da Educação, dará celeridade ao Enem. “A pessoa pode receber a prova inteira, já corrigida, assim que der o enter final”, disse.
A prova digital também poderá recorrer a questões com vídeos, infográficos e games.
Em entrevista ao jornal O Globo, Tadeu da Ponte, fundador da empresa de avaliação Primeira Escolha, indica outras possibilidades: “[Na versão em tela] você sabe qual foi o tempo que o aluno gastou para fazer cada uma das questões, é possível dar um tempo separado para cada área”.
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Mas antes, outra adaptação
A educação brasileira tem até 2020, mesmo ano em que começa o Enem digital, para se adaptar à nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). As escolas deverão ofertar até cinco trilhas de aprendizagem entre as quais o aluno poderá escolher para se aprofundar: matemática, linguagens, ciências da natureza, ciências humanas e ensino técnico.
Na inscrição ao Enem, o candidato deverá selecionar a prova de acordo com o caminho que seguiu. O problema é que as instituições de ensino não são obrigadas a oferecer todas as trilhas, o que demanda a formulação de várias versões do exame.
Para o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo Enem, essa é mais uma justificativa para a digitalização. “Imagine o quanto aumentaria o custo e a complexidade para fazer essa diversidade de provas [físicas]”, disse Alexandre Lopes, ao jornal O Globo.
Vale lembrar que a ideia do MEC é aplicar a prova em instituições de ensino, não em casa. A realização também vai depender das habilidades digitais do aluno, o que traz obstáculos.
“Hoje o aluno está muito mais inserido via celular. Tem pouco acesso técnico, pouca formação do trato com o computador, com coisas simples como formatar um texto, por exemplo”, explicou Felipe Cabral, diretor do Centro de Ensino Médio 404, à Agência Brasil.
Segundo dados do Enem 2018, sete de cada dez inscritos não têm acesso à internet em casa. Dos entre os 5,5 milhões de participantes, 2,3 milhões afirmaram não ter computador.
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O governo federal não descarta a possibilidade de falhas e prevê reaplicação em casos de problema logístico ou de infraestrutura. O trabalho ficará a cargo de uma empresa contratada para a aplicação da prova digital.
Segurança
A prova digital é mais segura do que a realizada em papel. Mas não é isenta de riscos à segurança dos dados dos candidatos.
Evitar fraudes no sistema eletrônico – visado por criminosos que roubam informações e vendem à pessoas interessadas – é outra questão relevante.
“Tem que ter certeza de que do momento em que se liga o computador, em que é feita a prova, ao momento em que as provas são armazenadas e processadas, essas informações sejam criptografadas”, aponta Renato Leite, fundador do Data Privacy Brasil, também em entrevista à Agência Brasil.
Tadeu da Ponte, que também atua como coordenador dos processos seletivos do Insper, recomenda o monitoramento com câmeras que captam áudio e o uso de algoritmos de inteligência artificial (evitando a contratação de fiscais para análise de imagens e sons), como forma de detectar “cola” e fraudes.
O Enem digital é um projeto arquitetado desde 2009 pelo Inep para reduzir os custos. Enquanto em 2019 a aplicação do exame (100% físico) custará pelo menos meio bilhão de reais, a implementação do projeto-piloto em 2020 deve sair por cerca de R$ 20 milhões.
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