O Brasil tem 105.842 crianças com algum tipo de transtorno mental matriculadas em classes comuns, segundo o censo escolar de 2018. O número de alunos autistas é indefinido, mas uma coisa é certa: criar uma escola acolhedora para crianças com autismo exige dedicação de toda comunidade escolar.
Qualquer aluno possui características próprias, assim como capacidades e dificuldades singulares. Com os estudantes com transtorno do espectro autista (TEA) não é diferente. Cabe à escola respeitar e acolher esses alunos da melhor forma possível.
A falta de informação e de profissionais treinados, no entanto, ainda é um problema dentro da sala da aula.
Leia mais: Inclusão: os desafios de ensinar alunos especiais durante a quarentena
Diante desse cenário, a psicopedagoga Érica Rezende Barbiere decidiu utilizar sua experiência como mãe de crianças com TEA para ajudar as escolas da sua cidade a terem uma cultura acolhedora com os seus alunos autistas.
O Projeto Autismo na Escola foi iniciado em fevereiro de 2017 em Rondonópolis (Mato Grosso) e já conseguiu alcançar as escolas com alunos autistas da cidade, além de municípios e estados próximos. O projeto inclui palestras, distribuição de cartilhas educativas e dinâmicas em grupo. Até a chegada da pandemia, as atividades eram realizadas presencialmente com educadores e estudantes.
Além de levar informação sobre o espectro autista, o projeto ensina como professores e alunos devem se comportar diante de situações delicadas. O projeto também disponibiliza o material usado nas dinâmicas, para que os participantes possam multiplicar a ideia em outras ocasiões.
Outra pesquisa, feita por aluna de mestrado na USP, evidenciou também o potencial do uso da gamificação e da psicologia na alfabetização de crianças diagnosticadas com TEA.
Leia mais: 3 dicas para facilitar o desenvolvimento de estudantes com autismo
Educação de alunos autistas na prática
O Ministério da Educação – baseado na Constituição de 1988, que estabelece o direito de todos à educação –, regulamentou em 2008 o atendimento educacional especializado, que atende alunos com algum impedimento físico, intelectual, mental ou sensorial, alunos com transtornos globais no desenvolvimento e alunos com altas habilidades.
Crianças autistas devem ser matriculadas no ensino regular. As escolas devem oferecer atendimento especializado, proporcionando o acesso e as condições adequadas para uma educação de qualidade. O professor com aluno com TEA em sala de aula tem direito, por lei, a um atendimento nesse nível.
Esse atendimento complementa a formação dos estudantes da classe, além de identificar e elaborar recursos pedagógicos e de acessibilidade, considerando as necessidades específicas do aluno com TEA.
Saiba mais: Autismo – guia essencial para compreensão e tratamento
Na Escola Estadual Maestro Antonio Mármora Filho, em Mogi das Cruzes (SP), uma professora que atua no atendimento especializado pela secretaria estadual de educação de São Paulo (SEESP) iniciou em 2018 o acompanhamento com um aluno de 14 anos com TEA.
A professora articulou o conteúdo curricular do aluno com diferentes estratégicas, como jogos, animações, simuladores, infográficos e atividades realizadas com materiais construído pelo próprio estudante. A proposta pedagógica foi incentivar o trabalho da escrita, leitura e raciocínio lógico matemático.
Desde o início do acompanhamento, a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno apresentaram melhorias, principalmente na sua comunicação escrita e oral. Além disso, sua interação com a comunidades escolar foi ampliada. Agora, ele consegue participar de eventos e excursões escolares sem a presença dos pais.
Criar uma relação de confiança com a criança, estimular os seus pontos fortes, manter contato direto e buscar o apoio da instituição e dos pais são alguns dos pontos importantes no momento de desenvolver uma cultura acolhedora para os alunos autistas.
Leia mais: 3 dicas para facilitar o desenvolvimento de estudantes com autismo
A série Atypical, disponível na Netflix, também pode oferecer várias dicas importantes sobre o trabalho de inclusão com adolescentes portadores do TEA. A ficção conta a história de uma garoto autista em seu último ano do colegial e aborda temas como preconceito e inclusão.
No clássico programa infantil Vila Sésamo, no ar desde 1972, uma personagem autista está em suas histórias há três anos. Julia é uma menina de 4 anos. Uma de suas criadoras é Leslie Kimmelman, que usou a própria experiência como mãe de uma criança autista para montar a personagem.
Segundo a newsletter MaterNews, uma das principais preocupações dos criadores é mostrar que Julia, como outras crianças com TEA, tem seu jeito específico de ser e de manifestar o transtorno. A iniciativa é parte do projeto See Amazing In All Children, por enquanto disponível apenas em inglês.
E assim, aos poucos, a comunidade autista vai ganhando representatividade. E conquistando os direitos básicos. A conquista mais recente é a criação da carteira de identificação da pessoa com transtorno do espectro autistaciptea), criada por lei federal em janeiro de 2020.
A carteira garante atenção integral, pronto atendimento e prioridade de atendimento em serviços públicos e privados, principalmente nas áreas de saúde, educação e assistência social. Além disso, a carteira promove o acesso à informação, que é a maior barreira existente no processo de inclusão de crianças com TEA, dentro e fora da escola.
Comments