As faculdades comunitárias ficaram conhecidas durante a pandemia de covid-19. Principalmente no início de 2021, quando o Brasil viveu o pior da crise e nada menos que 16 estados da federação entraram colapso, com taxas de ocupação de 100% na maioria dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI).
Uma das situações mais graves ocorreu no Rio Grande do Sul, cuja taxa de ocupação na rede hospitalar pública chegou a 110%; na privada, 134%. Diante da calamidade, a Urcamp (Centro Universitário da Região da Campanha), localizada na cidade de Bagé, decidiu ampliar a quantidade de leitos clínicos do seu hospital universitário.
A Urcamp não é a única instituição comunitária de ensino superior (ICES) que prestou serviços à população durante a pandemia. E, assim como outras tantas, os seus projetos destinados à sociedade não se limitaram à crise sanitária.
Faculdades comunitárias
As instituições comunitárias de ensino superior foram regulamentadas no Brasil somente em 2013. No entanto, elas existem há muito mais tempo, desempenhando um papel importante na formação de profissionais brasileiros. A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1966, já consideravam as “escolas comunitárias” como formatos educacionais brasileiros.
O estado de Santa Catarina, foi um dos primeiros a ter ICES. Criadas em década de 1970 por iniciativa das próprias comunidades, que se organizaram para facilitar o acesso ao ensino superior em diferentes regiões, essas instituições foram grandes responsáveis pelo desenvolvimento regional. Atualmente, a Associação Brasileira das Instituições Comunitárias de Educação Superior (Abruc) reúne 68 faculdades.
As ICES não são instituições públicas e nem privadas – ou seja, não têm um dono. Elas são mantidas pela sociedade civil e contribuem para o desenvolvimento do País por meio da oferta de educação de qualidade.
Uma faculdade comunitária de serviço completo inclui quatro elementos:
- Vários serviços de apoio integrados através de organizações sem fins lucrativos, empresas e instituições de ensino superior;
- Envolvimento ativo da família e da comunidade;
- Aprendizagem ampliada e enriquecida, que pode incluir atividades extracurriculares;
- Parcerias colaborativas entre pais, alunos, administradores escolares e líderes comunitários.
Embora esses quatro pilares, como são chamados, ajudem a definir as ICES, elas não devem ser padronizadas, pois cada uma atende a comunidades e necessidades diferentes.
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Como funcionam as ICES?
Uma das principais dúvidas em relação as ICES é em relação às mensalidades. Apesar de haver cobrança sobre os cursos ofertados, elas não têm fins lucrativos, como dispõe a Lei Federal 12.881/2013. Dessa forma, todos os recursos adquiridos são reinvestidos na própria universidade.
Como as instituições comunitárias não têm um dono, todos que fazem parte deste ecossistema se beneficiam de alguma forma. Por isso, de acordo com a legislação, elas devem proporcionar à comunidade serviços proporcionais aos recursos obtidos do poder público, como saúde, cultura, esportes, educação, comunicação, trabalho e tecnologia.
Também é dever delas implantar programas permanentes de extensão e ação comunitária voltados à formação dos estudantes e ao desenvolvimento da sociedade. Uma das características dessas faculdades é que os projetos de pesquisa precisam ter ênfase nos benefícios para a comunidade ou ao desenvolvimento regional.
Para os estudantes, o benefício está na tradição e na qualidade de ensino. Quem estuda em uma ICES, além da proximidade com a sociedade civil, tem, na maioria das vezes, um diploma reconhecido pelo mercado de trabalho. Outro ponto positivo é que ao fim da graduação o profissional estará apto para enfrentar desafios dentro da sua área de formação, já que teve oportunidades práticas no decorrer do curso.
Parceria com empresas
Uma característica das instituições comunitárias é que alguns de seus cursos de graduação são oferecidos em convênio com empresas. É o tipo de parceria em que todos saem ganhando: aluno, faculdade, empresa e sociedade. A aproximação com o setor produtivo permite que a ICES ofereça uma formação alinhada à atual demanda do mercado de trabalho, quanto as empresas solucionam problemas de mão de obra com profissionais recém-saídos do ensino superior e, consequentemente, mais qualificados e competitivos.
A Uniamérica (Centro Universitário União das Américas), de Foz do Iguaçu (PR), foi a primeira instituição de ensino da América Latina a oferecer cursos semipresenciais integrados com o mercado de trabalho. “Em vez de fazer um polo EaD (educação a distância) em uma casa ou em uma salinha alugada, por que não levar a sala de aula para o setor produtivo?”, provoca Ryon Braga, reitor da Uniamérica, em entrevista ao Desafios da Educação.
À semelhança da Uniamérica, a Urcamp fez parcerias com 415 empresas e 175 pessoas de comunidades, como líderes de bairro. A instituição também desenvolveu a plataforma de projetos integradores Sou I, onde os empresários compartilham problemas cuja solução é desenvolvida pelos alunos.
A proposta foi criada em 2017, quando a Urcamp decidiu que precisava inovar a metodologia de ensino com o objetivo de aproximar a instituição das necessidades reais do mundo fora do campus. Uma necessidade cada vez mais urgente diante do desenvolvimento econômico e social do Brasil.
Para além do ensino
A pandemia mostrou o que já se sabe há muito tempo: as instituições de ensino superior (IES) servem como centros de recursos que vão além do ensino e da aprendizagem. Essa tendência é reforçada por pesquisas que demonstram que as faculdades comunitárias ajudam a aumentar a frequência e as taxas de graduação dos alunos.
Ao abordar uma série de questões relacionadas aos problemas sociais — desde a fome até aos cuidados de saúde — as instituições de ensino estão eliminando barreiras que impedem os estudantes de aprender habilidades socioemocionais. Dessa forma, os alunos se tornam profissionais e seres humanos mais empáticos e preocupados com o próximo.
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