O avanço das tecnologias educacionais, impulsionado pela necessidade do ensino remoto ou híbrido durante a pandemia, abriu caminho para uma aprendizagem mais flexível e adaptável.
A mudança se alinha à percepção de que as particularidades dos estudantes (suas histórias de vida e seu contexto social, por exemplo) têm impacto determinante no processo de aprendizagem. E, cada vez mais, a personalização da jornada se mostra uma tendência quando falamos em instituições de ensino superior (IES).
Esse foco no estudante não é exatamente uma novidade. Muitos autores, incluindo grandes nomes como Paulo Freire, já defenderam a importância de uma educação menos massificada.
A inovação, agora, está na possibilidade proporcionada pela tecnologia de promover a personalização do ensino em grande escala.
Vantagens da personalização
A aprendizagem personalizada parte do princípio de que os alunos não aprendem da mesma maneira, nem têm a mesma bagagem, interesses ou ritmo. Com isso, a diferença passa a ser vista como um ponto a ser valorizado, e não evitado ou minimizado.
Conforme o artigo “Ensino superior em tempos de pandemia: personalização, envolvimento, autonomia e novas estratégias de aprendizagem”, publicado recentemente por um grupo de pesquisadores brasileiros, a diversificação de estratégias didáticas utilizando tecnologias digitais é fundamental para o desenvolvimento não só da aprendizagem individual, mas também coletiva e emancipadora – como propunha Freire.
As vantagens de uma aprendizagem personalizada e centrada no aluno são muitas e evidentes: como uma roda que se retroalimenta, ao proporcionar uma aprendizagem mais significativa e duradoura, a personalização gera estudantes mais engajados e interessados, que, por sua vez, abandonarão menos o processo de ensino e aprenderão mais e melhor.
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Por onde começar
Com o acesso a repositório de conteúdos e diversas ferramentas educacionais, é possível criar trilhas de aprendizagens e currículos mais flexíveis e abertos às escolhas dos estudantes.
Assim, a personalização proporciona oportunidades para que os alunos reflitam sobre sua própria aprendizagem e definam propósitos ou metas para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Ao iniciar a personalização de um curso, uma das primeiras estratégias é mapear diferentes interesses e formas preferidas de aprendizagem dos alunos. Isso pode ser feito por meio de formulários ou mesmo rodas de conversa.
Em seguida, é preciso definir quais metodologias usar e como trabalhar os conteúdos em sala de aula. É aqui que desponta o uso das tecnologias.
Ao usar ferramentas digitais, o ensino personalizado encontra ainda mais formas de dialogar diretamente com as necessidades individuais dos alunos, uma vez que oferece estratégias focadas em atender diferentes públicos.
O papel da tecnologia
Segundo o artigo “O ensino personalizado: algumas investigações”, publicado na revista “Educação: Teoria e Prática”, existem vários tipos de adaptação de conteúdo que podem ser feitas para promover a personalização do ensino.
Aqui, iremos destacar o papel das tecnologias. Com elas é possível construir objetivos, modelos e conteúdos diferenciados para cada usuário. Deixa-se de trabalhar no modelo “todas as coisas para todas as pessoas”, atendendo aos usuários de acordo com suas necessidades.
Nesse sentido, uma das principais estratégias é a adaptação do conteúdo. Ou seja, moldar o mesmo material para vários formatos diferentes. Além disso, existe a navegação adaptativa com métodos e técnicas específicas, que servem para facilitar a vida do aluno, induzindo-o a realizar determinado caminho no sistema, formando um percurso intuitivo.
Porém – e esse é um ponto importante – a personalização só é possível se o professor conhecer o funcionamento do sistema e estiver capacitado para desenvolver materiais a serem utilizados nele. Ou, no mínimo, estiver habilitado para fazer a curadoria de conteúdos.
“O docente assume um novo papel de mediador, pois é ele que poderá criar diferentes caminhos para o conteúdo e atividades que serão oferecidos para o aluno, podendo chegar a diversas trilhas de aprendizagem para o mesmo conteúdo”, ponderam Rodrigo Otávio dos Santos e Roberta Galon Silva, autores do artigo.
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3 metodologias para personalizar o ensino
Além do uso da tecnologia, é preciso pensar metodologias pedagógicas nas quais o uso dessas soluções faça sentido, seja na sala de aula física ou não. Na lista de possibilidades que as IES podem explorar para personalizar o ensino, aparecem metodologias ativas como:
1. Cultura maker
No método conhecido como cultura maker, o aluno pode experimentar novos pontos de vistas na resolução de um problema, por meio de uma perspectiva prática. Desse modo, estimula a criatividade, a dinamicidade e a resolução de problemas, além do trabalho em grupo.
2. Método PBL
A aprendizagem baseada em problemas é representada no Brasil pela sigla ABP, mas também é conhecida pela sigla em inglês PBL (problem based learning). Trata-se de uma abordagem pedagógica na qual os estudantes iniciam sua atividade partindo de um problema de qualquer área do conhecimento, real ou simulado, buscando em grupo sua solução.
Pelo método PBL, é possível chegar a mais de uma resposta correta. Por isso, ele pode ser muito útil em situações nas quais é necessário unir diferentes alunos, com diversas personalidades e dificuldades, em um mesmo projeto ou trabalho.
3. Sala de aula invertida
A sala de aula invertida é um modelo de ensino em que os métodos tradicionais são invertidos, incluindo a tecnologia em atividades fora de sala de aula e trazendo, para dentro dela, o dever de casa. Dessa forma, o aluno assume uma posição ativa em seu processo de aprendizagem, enquanto o professor se torna um facilitador, em vez de ser a fonte de todo o conhecimento.
Ao transformar o modelo tradicional, o método da sala de aula invertida faz com que os alunos estudem em casa, em seu próprio ritmo, se comunicando com colegas e professores por meio de discussões online. Para complementar, engajamento e motivação são estimulados pelo professor em sala de aula.
Um aspecto importante, seja qual for a metodologia ou tecnologia usada, é a necessidade de diversificar os métodos e as avaliações utilizados no curso para abarcar os perfis de estudantes.
É preciso considerar, por exemplo, que existem pessoas que se sentem mais à vontade em pequenos grupos; algumas, em grupos maiores; há as que gostam mais de aprender fazendo; outras, apenas ouvindo; entre outras variações, como explica a publicação “Futuro do Ensino Superior: Tendências, Perspectivas e Questionamentos”, da Fundação Getulio Vargas.
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