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Avanço social depende de uso qualificado de tecnologia na educação

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O surgimento das escolas capazes de “educar” em massa, os conteúdos pré-estabelecidos de forma hierárquica e disciplinada, o mestre detentor do saber, os alunos obedientes e enfileirados são práticas e conceitos derivados da primeira Revolução Industrial (1760 a 1860). De lá para cá, o mundo do trabalho mudou bastante – muitas coisas para melhor.

Mas, infelizmente, essas revoluções pouco causaram impacto na educação.

É claro que nossa educação é diferente daquela criada em 1830 pela Prússia, berço do ensino público. Os professores não têm varas em mãos, a hierarquia é quase nula, a lousa divide espaço com recursos multimídias e o lápis e o papel são, em grande parte, substituídos por telas e teclados. Só que chegou a hora de ir além.

A educação precisa de uma inovação disruptiva. Como diz Clayton Christensen, guru mundial da inovação, o avanço social só será possível com o uso disseminado e qualificado da tecnologia na educação. Precisamos de uma nova escola que dialogue com os jovens, os engaje e os auxilie no desenvolvimento de competências e habilidades úteis para o mercado de trabalho 4.0. E ao que virá depois.

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O novo mantra da educação

Todos já ouvimos a previsão de que, no futuro, parte da mão de obra humana será substituída por máquinas. Segundo o relatório The New Work Order, desenvolvido pela Foundation for Young Australians (FYA), em 2017, seis de cada dez estudantes estão aprendendo profissões que serão substituídas por robôs em até 15 anos.

Devido à automação, pelo menos 70% dos cargos ocupados por jovens podem desaparecer até 2037.

Diante desse cenário, a FYA recomenda que as instituições estimulem o empreendedorismo e o desenvolvimento de habilidades digitais por parte dos alunos. O foco no “aprender a aprender” é o novo mantra da educação.

Leia mais: Peter Kronstrøm: “O lifelong learning é o futuro da educação”

Nossos jovens não precisam tanto conteúdo (muitas vezes mutável e facilmente pesquisável no Google). Precisam de competência para seguir aprendendo, pesquisando, solucionando problemas e trabalhando em grupo.

Isso já é uma realidade em diversas instituições ao redor do mundo. Impulsionadas pela tecnologia, pelas exigências do mercado e de alunos desestimulados, as escolas e universidades adotam novos modelos pedagógicos – cujos pilares são a personalização do ensino, estímulo à experimentação e a combinação entre a sala de aula presencial e online, conhecida como ensino híbrido.

Educação 4.0

Esse movimento é o que se convencionou chamar de Educação 4.0.

O termo “4.0” surgiu na Alemanha, em 2012, para identificar fábricas que utilizam recursos como inteligência artificial (AI, na sigla em inglês) e a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) em seus sistemas de produção.

Da mesma forma, a Educação 4.0 também utiliza ferramentas e plataformas digitais. Aos professores, essas plataformas oferecem recursos como big data (softwares capazes de interpretar dados). Aos alunos, os softwares podem adaptar o ensino e promover uma aprendizagem personalizada.

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A ideia central é valorizar a experiência do estudante, torná-lo protagonista do processo de aprendizagem e engaja-lo ao máximo. O foco está no “aprender fazendo”. Aqui, entram as metodologias ativas, que é um modelo que prioriza o autodesenvolvimento e a construção de valores, conhecimentos e habilidades a partir da vivência de diferentes atividades e problemas práticos.

Mão na massa

A partir dessa visão nascem os “makerspaces”. Eles são laboratórios de experimentação, equipados com diversos recursos – de serrotes e cortadores de madeira até impressoras 3D e softwares de programação. Esses ambientes propiciam a elaboração de produtos e projetos, incentivando a criatividade e a tolerância ao erro por parte dos alunos.

Alunos de Engenharia de Controle e Automação da PUCPR aplicam a teoria em aulas práticas. Crédito: divulgação.

Desse diferencial surge a horizontalidade do conhecimento. Tal característica é fundamental para a Educação 4.0, onde a dinâmica professor-aluno rompe com o modelo tradicional, dando lugar à colaboração. Assim, o papel do professor se transforma: ele deixa de ser um transmissor de conhecimento para ser um mediador.

Os educadores, contudo, não estão ameaçados com essa tendência. Ter um professor que saiba explorar o potencial das tecnologias educacionais torna as aulas mais atrativas, dinâmicas e eficazes, criando uma aproximação entre discente e docente, melhorando o desempenho de ambos.

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Um professor é muito mais do que um mero retransmissor de informações e avalista.

O papel do professor

Em Teaching in the machine age, Thomas Arnett diz que os professores treinam e orientam os alunos, abordando fatores emocionais que afetam sua aprendizagem e fomentam habilidades como pensamento crítico, resolução de problemas complexos, comunicação e gerenciamento de projetos.

No entanto, para assumirem verdadeiramente esse lugar de mentores dos alunos, os professores precisam ter outras competências. São elas:

  • Saber projetar
  • Promover engajamento
  • Promover inovação
  • Personalizar o ensino
  • Ter autoconhecimento e estimula-lo nos demais

Como dito por Marcos Piangers e Gustavo Borba no livro A escola do futuro, a perspectiva das competências e do desenvolvimento profissional do professor estão diretamente ligadas às novas capacidades que os alunos devem conquistar para o século 21.

O papel do educador se amplia ainda mais, passando a ter uma atividade projetual: é preciso criar um projeto (aula) que se adapte a cada um dos alunos e gere resultados.

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Ou seja, criar momentos capazes de fomentar habilidades que serão necessárias aos profissionais do futuro, tais como:

1. Resolução de problemas complexos
2. Pensamento crítico
3. Criatividade
4. Gerenciamento de pessoas
5. Coordenação de grupo

Permita-me acrescentar mais três pontos a essa lista, citada pelo estudo The future of the jobs, produzido pelo Fórum Econômico Mundial em 2016:

6. Empatia
7. Espiritualidade
8. Generosidade/Senso de responsabilidade em relação à sociedade.

Cabe à escola, através de seus gestores e professores, garantir o desenvolvimento das próximas gerações. Cabe à escola garantir que todo o conjunto de competências será desenvolvida no alunado. Cabe à escola aproveitar as oportunidades que a tecnologia proporciona. A Educação 4.0 está aí. É hora de desenvolver o melhor em cada um de nós.

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Adriane Kiperman
Adriane Kiperman é diretora editorial do Grupo A Educação e membro do Conselho Editorial do portal Desafios da Educação e das Revistas Pátio.

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