O mercado educacional está passando por grandes mudanças. Esse movimento é refletido nas próprias ofertas de graduações do ecossistema privado de ensino. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), mais de 500 cursos presenciais foram fechados em 2022.
Em contrapartida, a educação a distância (EaD) vem conquistando mais espaço e credibilidade dentro das instituições de ensino superior (IES). O Censo da Educação Superior de 2021 mostrou que em apenas um ano houve um acréscimo de 23,3% no número de ingressantes na EaD.
Nessa equação ainda há espaço para o hibridismo, que se tornou uma alternativa para a presencialidade de estudantes durante a vigência das medidas de distanciamento social durante a pandemia de Covid-19. Nesse cenário, também se destaca a queda nos cursos de licenciatura presenciais.
Segundo especialistas ouvidos pelo site Valor Econômico, o cancelamento dos cursos presenciais está relacionado a uma combinação de fatores que também explicitam os desafios do setor:
- Falta de interesse dos alunos nessa modalidade, principalmente após a pandemia;
- Crise financeira que levou estudantes a migrarem para o formato on-line, que tem mensalidade menor;
- Redução drástica do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies);
- Graduações com metodologias e conteúdo desatualizados, que acabam afastando os alunos, em especial os mais jovens.
EaD e ensino híbrido tomam a frente
Desde de 2017 a EaD passou a contar com uma legislação própria. Isso facilitou sua adesão nas IES, o que já estava no radar devido a diversos fatores que tornam a modalidade mais viável, como menos custos fixos com professores e infraestrutura.
Os cursos a distância também são vistos com bons olhos pelos estudantes, em razão das baixas mensalidades e da flexibilidade do ensino.
“Os cursos híbridos também têm estado entre as opções para consolidação da qualidade e estabilidade do ensino superior no futuro”, pontua o presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Celso Niskier.
Para ele, a abordagem híbrida permite uma versatilidade no presencial e na EaD. Por essa razão, deve ser o modelo principal daqui para frente. “Com isso em mente, temos que trabalhar para construir essa nova perspectiva”, orienta Niskier.
Desde 2019, uma portaria do Ministério da Educação permite que 40% da carga horária dos cursos presenciais seja ofertada a distância. A medida garante o funcionamento de graduações híbridas mesmo antes da pandemia. Contudo, ainda não há uma regulamentação específica sobre o ensino híbrido.
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Baixa procura por licenciaturas
Outra redução brusca foi percebida nos cursos de licenciaturas presenciais. Em setembro de 2022, o Instituto Semesp, ligado à entidade homônima, divulgou um relatório que mostrou que o Brasil pode sofrer um apagão de até 235 mil professores nas redes de educação básica nos próximos anos.
O motivo é a diminuição no número de matriculados nessa área em comparação com as outras. Entre 2010 e 2020, o aumento de ingressantes em licenciaturas foi de 53,8%. Nos demais cursos, o número de calouros cresceu 76%.
Porém, na EaD há uma tendência de crescimento de ingressantes nos cursos desse tipo. Segundo o Censo da Educação de 2021, cerca de 77% dos estudantes de licenciatura optaram por cursos EaD.
Perspectivas de mercado
O avanço da educação a distância e do ensino híbrido permite construir um cenário diferente para as IES daqui para frente. O primeiro passo para um processo de transição para esses modelos é analisar o número de alunos em cada área e curso e entender se vale a pena investir na graduação para aquele momento e naquela região.
“Avaliar o número de alunos por ano é necessário para identificar se ao longo dos anos esse número está diminuindo ou aumentando. Esse ponto é de extrema importância e de caráter decisivo para uma instituição abrir ou não este curso na sua área de abrangência”, explica o consultor em gestão educacional Ryon Braga, em artigo no LinkedIn.
Outro ponto interessante é a promoção da qualidade da EaD. Metodologias que dialoguem com as mecânicas da educação a distância são o caminho para que a modalidade tenha êxito no desenvolvimento dos alunos.
Além disso, o perfil do aluno da EaD é diferente do presencial. Ao conhecer profundamente seu público-alvo, as IES têm mais chances de entregar um ensino de qualidade.
Por fim, é necessário investir em estruturas que possibilitem um modelo híbrido. Além dos espaços físicos, as IES devem dar atenção aos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), para que eles consigam incentivar uma aprendizagem significativa de forma conjunta.
“Temos que lutar no Brasil para que se preserve um ecossistema de instituições que façam as coisas da sua maneira, mas que não deixem a excelência de lado”, ressalta Niskier.
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