O Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UniÍtalo) não tem um campus convencional. Tem, claro, laboratórios e salas bem equipadas, mas também uma área verde extensa, piscina semiolímpica e até pavões circulando livremente pelo pátio localizado em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo (SP).
“Mais do que um ambiente de estudos, oferecemos um espaço de convivência e lazer, e queremos nos diferenciar por ele”, diz Priscila Simões, vice-reitora da UniÍtalo.
A estratégia não é sem razão. A UniÍtalo está entre as várias pequenas e médias instituições de ensino superior (IES) que sofreram com a retração da economia, a menor disponibilidade do Fies e a agressividade dos grandes grupos educacionais. Se 2013 a empresa tinha 12 mil matrículas, hoje esse número está reduzido à metade.
Leia mais: A aposta das faculdades para compensar a perda de alunos no 2° trimestre
Adequar-se à velocidade, à volatilidade e à concorrência do mercado é uma exigência para qualquer empresa. Mas para empresas familiares, como a UniÍtalo, o desafio pode ser maior. Tradicionalmente, essas companhias são mais conservadoras e estáveis.
“As famílias que administram negócios tendem a ser boas operadoras, elas têm um bom produto e acham que se fizerem tudo certo, ficarão bem”, provocou John Davis, professor da área de family business do MIT, em visita ao Brasil no ano passado. “Isso não é mais verdade”, continuou, “você pode fazer tudo certo e ainda assim ser ultrapassado por tendências e oportunidades”.
A UniÍtalo tenta não desperdiçar oportunidades. Foi uma das primeiras empresas, por exemplo, a integrar o Consórcio STHEM Brasil – iniciativa que reúne universidades, companhias privadas e organizações governamentais para fomentar o ensino e a aprendizagem em ciência, tecnologia, humanidades, engenharia e matemática. Moderna, a instituição também não deixa de usar metodologias ativas, modelos pedagógicos que fazem do estudante o protagonista no processo de aprendizagem. E praticamente todos os currículos são baseados em projetos, com disciplinas que conversam entre si.
Terceira geração
O principal porta-voz da UniÍtalo, hoje, é Marcos Vinicius Cascino, neto do fundador. Formado em administração, ocupa o cargo de chanceler há 15 dos seus 38 anos.
Em seu perfil no LinkedIn, descreve-se como responsável pelo planejamento e liderança nas ações estratégicas da corporação, assegurando a saúde financeira e solidez econômica. “Em especial por tratar-se de uma organização sem fins lucrativos, garantindo, assim, o reinvestimento e crescimento de forma sistemática e saudável.”
Crescer a empresa de forma saudável sempre foi o lema de seu avô, o professor Pasquale Cascino. Imigrante de Verbicaro, Itália, Cascino foi o primeiro italiano a empreender no ramo educacional brasileiro. O ano era 1949. Ele tinha 26 anos quando abriu a Instituição Educacional Prof. Pasquale Cascino (Iepac), de ensino primário.
Ao longo da década de 1950, a Iepac ampliou a oferta, com aulas voltadas ao ginasial e à formação técnica. Em 1972, mudou de ramo e de nome. A Faculdade Ítalo Brasileira ingressava no ensino superior com as graduações em Administração e em Ciências Contábeis.
Leia mais: Por que algumas universidades são melhores no uso de tecnologia educacional?
Mais 20 anos passaram. O mercado estava em expansão e a instituição, também. Daí a necessidade de um novo espaço, que comportasse o crescimento. Em 1994, a IES adquiriu o espaço atual – um terreno de 17 mil metros quadrados em Santo Amaro, onde ficava uma antiga fábrica.
“Por ele próprio [o fundador] ser um visionário, determinou que investiria em uma faculdade estruturada na inovação, no senso estético e no acolhimento”, rememorou o filho Marcos Antonio Cascino, hoje reitor da UniÍtalo.
Pasquale Cascino, o fundador, faleceu em 2003, aos 80 anos. Daí que o neto Marcos Vinicius, com então 23, assumiu as responsabilidades da empresa. O herdeiro tinha menos idade do que o avô, quando este empreendeu. Mas, como todo membro da geração Y, havia estudado mais, era mais globalizado e tinha mais treinamento. Três anos depois, uma portaria do Ministério da Educação (MEC) permitiu que a faculdade virasse centro universitário.
Atualmente, a UniÍtalo oferece 20 graduações e outras dez opções de pós presenciais. Entre os cursos mais tradicionais estão Educação Física, Pedagogia, Filosofia, Administração e Enfermagem. As aulas ocorrem nos três turnos normais e, inclusive, na madrugada. A maioria dos alunos mora nos bairros vizinhos e nas cidades do entorno, como Taboão da Serra, Embu das Artes e Imbu Guaçu.
E como prova de que, mesmo septuagenária, a empresa acompanha as transformações digitais, a tendência de crescimento no ensino a distância é acompanhada de perto. Tanto que, recentemente, inaugurou dois polos de EAD: um em Altamira, no Pará, e outro em Itabirito, Minas Gerais. Os programas são mantidos em parceria com a Universidade Serra Dourada e a Faculdade Alis, respectivamente. Seguirão expandindo?
“Em São Paulo, não”, garante Priscila Simões, da reitoria da UniÍtalo. “Mas em outras cidades do Brasil, sim.”
Confira a série Gestão Familiar
Comments