A Universidade de São Paulo (USP) é a melhor do país, segundo o Ranking Universitário Folha 2018 (RUF), divulgado em outubro. Em sua sétima edição, o levantamento avaliou 196 universidades brasileiras do setor público e privado.
A USP voltou ao primeiro lugar após perder a liderança, por dois anos consecutivos, para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – que nesta edição ficou em segundo lugar. Na terceira e quarta posição estão, respectivamente, a federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Campinas (Unicamp). A Universidade de Brasília (UnB) e a federal pernambucana (UFPE) são as únicas instituições fora do eixo sudeste-sul na lista das dez melhores do RUF.
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O ranking universitário da Folha, no entanto, revela bem mais do que uma lista com as melhores IES. Aponta, por exemplo, que uma em cada três universidades não atende aos requisitos legais para ser considerada como tal.
Segundo o Conselho Nacional de Educação, pare receber o título de universidade a instituição deve oferecer ao menos dois programas de doutorado e quatro de mestrado. Além do mais, um terço dos professores deve ter dedicação integral à instituição – fomentando a atuação em ensino, extensão e pesquisa.
Entre as instituições que não atendem a um ou mais requisitos, estão a Universidade Estadual de Roraima (Uerr), a Universidade de Cuiabá, Anhanguera de São Paulo e Universidade Norte do Paraná.
As melhores do setor privado
O RUF mostra que dentre as universidades privadas, as melhores são confessionais. Ou seja, IES ligadas a igrejas ou religiões. Quem ocupa as primeiras casas de classificação são as PUCs (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e do Paraná. Em seguida aparecem a Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, e a Unisinos, do Rio Grande do Sul. A melhor IES privada com fins lucrativos é a Universidade Nove de Julho (Uninove), sediada na capital paulista.
Ainda sobre as instituições particulares, os cursos mais bem posicionados são os de psicologia, administração e direito. Motivo? A teoria ensinada em sala de aula é aplicada à vida real. “Na psicologia, temos a clínica, que é uma extensão da universidade onde os alunos podem estagiar”, explicou à Folha o assessor da pró-reitoria de graduação da PUC-SP, Paulo Pereira.
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Para o assessor da pró-reitoria de graduação da universidade, Paulo Pereira, os resultados positivos são possíveis porque os professores são incentivados a implementar atividades de simulação de problemas reais do cotidiano.
Caso parecido acontece na faculdade do Hospital Israelita Albert Einstein, em que os discentes, já no segundo semestre, passam a estagiar em hospitais e unidades básicas da rede. Tal prática faz da instituição, com seus 270 alunos, uma das dez melhores privadas em enfermagem.
A primeira colocada cai em rankings globais
Para conseguir voltar a encabeçar a lista, a USP teve que driblar a crise que vem assolando as instituições de ensino superior do país. Conseguiu se manter como líder em pesquisa e em percepção do mercado de trabalho e, ainda, melhorou em fatores como o impacto de cada publicação de seus docentes.
Apesar disso, USP (e outras IES) tem caído em rankings globais de ensino superior. A principal razão da debacle é que as escolas de outros países produzem mais e mais rápido que as brasileiras.
Evasão é impossível de calcular
Outra informação relevante do ranking universitário da Folha é que, no Brasil, é impossível de calcular a evasão. As instituições de ensino não compilam (ou não divulgam) esses dados de evasão – e tampouco se debruçam sobre mas causas da perda dos estudantes.
É diferente de um dos principais indicadores do ranking universitário nacional mais antigo do mundo, feito desde 1983 pelo jornal U.S.News. Na lista norte-americana, esse indicador vale 22% da nota recebida pela universidade. Quanto menos alunos “perdidos” ao longo dos anos, mais pontos a instituição recebe.
O RUF tentou processar essa informação a partir de um levantamento do Inep-MEC (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, do Ministério da Educação). Mas esbarrou em problemas.
“Os dados mostram que, dos 2,5 milhões de alunos que entraram, em 2010, em graduações presenciais e a distância no país, 877,6 mil se formaram em 2015. O que aconteceu com mais de 1,6 milhão de estudantes que não terminaram o curso no qual entraram? Não se sabe. Não dá para saber quantos mudaram de carreira –e para onde foram. Os dados também não informam o que aconteceu em cada graduação das cerca de 2.400 instituições do país”, descreve a reportagem da Folha.
Quando o RUF tentou fazer essa conta, descobriu que os cursos que mudaram de nome no sistema do MEC “sumiram” dos dados – e os alunos que entraram nessas graduações específicas foram contabilizados como desistentes.
“Os dados disponíveis não permitem uma análise aprofundada do que está acontecendo no ensino superior do país. Quais cursos têm maior desistência? Em quais instituições? E quais escolas conseguem, afinal, reter o aluno e formá-lo no tempo esperado?”, questiona a reportagem.
“Sem essas informações, o país faz políticas públicas com os olhos vendados.”
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