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Nicho ou escala: definindo o melhor modelo para sua IES

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Você já ouviu falar na “síndrome” do pato?  A expressão faz menção a pessoas ou instituições que não têm um foco definido e acabam por não ter sucesso em nenhuma área.  Afinal, o pato corre, nada e voa, mas não desempenha  bem nenhuma dessas atividades.

Foi assim que o cientista digital Maurício Garcia, conselheiro acadêmico do Inteli, classificou, em sua palestra no GEduc 2023, as instituições de ensino superior (IES) que não optarem claramente por um modelo de negócio. Para ele, é preciso escolher entre focar em um nicho ou investir em escala.

A discussão surge em um momento crítico para as IES privadas. Em 2022, o ticket médio do ensino superior foi o menor já registrado pela plataforma Educa Metrics. Em média, os estudantes estavam pagando R$ 733,00 em cursos presenciais. Ao mesmo tempo, segundo levantamento do Instituto Semesp e da Workalove, menos de 30% dos jovens que desejam se matricular em um curso de graduação pretendem pagar integralmente as mensalidades.

Por que investir em nicho?

Uma das opções para as IES que desejarem manter a lucratividade e se adaptarem às novas demandas do mercado é o investimento em um nicho. Nesses casos, Garcia alerta, em seu LinkedIn, que “o caminho é subir a mensalidade, focar em áreas de alto valor agregado e implantar efetivamente metodologias pedagógicas inovadoras”.

O investimento em nicho é comum em universidades que focam na segmentação para conquistar seu público. Nesses casos, as IES procuram oferecer cursos de graduação em campos de conhecimento bem específicos, o que as leva a se tornarem referências nas áreas escolhidas. Alguns exemplos de instituições que optaram por esse modelo de negócio são:

  • Faculdade Getulio Vargas (FGV), especializada em administração pública e privada;
  • Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), com foco em cursos de comunicação;
  • Fucape Business School, que busca preparar seus alunos para o mundo dos negócios;
  • Instituto Nacional de Telecomunicações, que oferece cursos de diversas engenharias e também de tecnologia.

Essa é uma escolha que funciona bem, por exemplo, para a área de Medicina, se forem levadas em consideração as necessidades citadas por Garcia. Afinal, é um curso de alto valor agregado. Em 2020, as mensalidades variavam entre R$ 5.210,00 e R$13.066,67, com um ticket médio de R$ 8.462,61.

Muitas IES que focam na área investem em metodologias diferenciadas, como a aprendizagem baseada em problemas. Essa estratégia estabelece um foco na autonomia do estudante e sua imersão na prática profissional, sendo uma opção que se opõe às tradicionais aulas expositivas e que pode melhorar o engajamento dos estudantes.

A estudante de Medicina Ana Julia explicou recentemente em suas redes sociais como funciona a metodologia na instituição onde ela estuda. Confira:

@ana.resume

Explicando como é a metodologia de ensino PBL na minha faculdade de medicina ☺️ #estudos #faculdadedemedicina #medicinapbl #pbl #estudantemedicina

♬ som original – Ana Julia Weber

Alguns exemplos de IES que utilizam a metodologia de aprendizagem baseada em problemas são a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), a Faculdade de Ciências Médicas de São José dos Campos e a Escola Superior de Ciências da Saúde.


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Por que investir em escala?

O modelo de negócios em escala vai na contramão da especialização da IES em determinada área do conhecimento. A ideia, aqui, é apostar em franquias e/ou na ampla oferta de cursos de graduação.

Quem optar no investimento em escala precisará, segundo Garcia, investir em inteligência artificial. “Os bots vão inundar a EaD e reduzir em 50% o custo docente”, afirma. Investir em tecnologia é um diferencial, principalmente para a captação de alunos da geração Z.

Esse modelo de ensino, inteiramente digital, já é adotado por grandes corporações. E algumas empresas estão crescendo cada vez mais com a abertura de franquias e polos EaD.

Um bom exemplo é a Universidade Estácio de Sá. A IES iniciou a oferta de ensino online em 2009. Em 2015, passou a ter 45 polos de educação a distância. Em 2018, esse número saltou para 600. Atualmente, são mais de 2 mil polos, oferecendo mais de 440 cursos.

No entanto, não é necessário ser uma IES de grande porte como a Estácio para investir no modelo de escala. O Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai (Unideau), fundado em 2004 e elevado a centro universitário pelo Ministério da Educação em 2020, oferece cursos presenciais e a distância em polos localizados em municípios no interior do Rio Grande do Sul. Outras IES que investiram nesse formato são a Atitus Educação e a Universidade do Vale do Itajaí.

Em qual modelo investir?

Não é possível afirmar com certeza se um ou outro modelo de negócios é melhor. A escolha por nicho ou escala depende das expectativas de cada instituição de ensino e do formato que mais se adequa a suas necessidades e seus interesses.

Além de avaliar o valor das mensalidades – essencial para a rentabilidade de qualquer negócio no ramo educacional – é importante estar atento a outras questões. Entre elas, alternativas para captar recursos.

“Todos devem pensar em novas fontes de renda, como consultorias, parcerias, projetos, startups, filantropia etc.”, explica Garcia.

Prestar atenção às demandas do mercado é fundamental. Em um mundo no qual o avanço da tecnologia exige mudanças nas relações laborais e proporciona o surgimento de novos ofícios, outras funções cairão em desuso e, portanto, terão menos procura.

Na hora de escolher quais cursos serão ofertados pela IES, isso precisa ser levado em consideração. Afinal, saber como evitar prejuízos também é uma forma de investir no futuro.


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