Gestão educacional

5 tendências pedagógicas para acompanhar em 2023

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Você já se perguntou se os modelos, os conteúdos e as práticas pedagógicas aplicadas até o momento ainda são relevantes para atender às demandas dos estudantes?

Você acredita que eles ainda serão válidos durante todo 2023 e nos próximos anos?

Quando paramos para refletir sobre os impactos que a transformação digital vem impulsionando nas relações humanas e, consequentemente, na educação, não temos dúvidas de que uma abordagem unidirecional de ensino não faz mais sentido.

Isso significa que, em um mundo em constante mudança, as instituições precisam acompanhar as principais tendências e abordagens educacionais. Não como um mero modismo metodológico, mas com o objetivo de tornar o processo de aprendizado mais flexível, acessível, interativo e, sobretudo, convergente com as necessidades formativas dos estudantes da contemporaneidade.

Já sabemos que a tecnologia irá orquestrar boa parte dessas tendências, mas há outras áreas que também precisam ser desenvolvidas.

Para ajudar neste processo, selecionei cinco tendências pedagógicas que serão amplamente estudadas, debatidas e incorporadas nas instituições educativas no ano letivo de 2023. Confira!

Alunos da escola estadual Raymundo Sá, no município de Autazes, interagem virtualmente com professores e alunos durante aula a distância. Tendênncia deve ganhar ainda mais  força. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

Aprendizagem ubíqua

Em uma sociedade tecnocêntrica como a nossa, o real e o virtual coexistem e se complementam, afetando não somente as relações humanas, mas também os processos educativos.

Vale esclarecer que a aprendizagem ubíqua, também conhecida como U-learning, é resultado de um processo ancorado no acesso aos conhecimentos por meio de dispositivos móveis, não dependendo necessariamente de um profissional no momento específico da apropriação para mediar a aprendizagem.

O objetivo desta abordagem pedagógica é promover o desenvolvimento pessoal e profissional por meio de um cenário autônomo e de autoaprendizagem no qual os estudantes permaneçam envolvidos e engajados em todo o processo.

Com internet e as tecnologias cada vez mais acessíveis e melhores, nos conectamos facilmente com o restante do mundo. Embora estejamos fisicamente em um lugar, podemos ser levados para vários outros ao mesmo tempo, ampliando consideravelmente nosso repertório.  Por isso, a aprendizagem ubíqua é uma forte tendência educacional.

Ela atende às necessidades de apropriação rápida de conhecimento, é altamente escalável, acessível (pois os estudantes conseguem obter informações sempre que quiserem) e ainda respeita as singularidades de tempo e ritmo de aprendizagem.

Vale um conselho? Já estamos sendo amplamente impactados pela mobilidade e pela ubiquidade. Instituições que querem se manter relevantes precisam incorporar aos processos educativos momentos significativos que complementam e ampliam as experiências de aprendizagem por meio de uma abordagem ubíqua.


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Objetos e recursos de aprendizagem com base na economia da atenção

Vocês lembram de Herbert A. Simon? Ele foi ganhador de um prêmio Nobel e há mais 50 anos defendeu a teoria da “economia da atenção”. Nessa abordagem (ainda mais relevante para os tempos atuais), Simon já alertava para o desafio de lidar com o infinito fluxo de informações, juntamente com a necessidade de conseguir atrair e capturar a atenção das pessoas nesse contexto.

A economia da atenção é uma abordagem que trata da necessidade de gerenciar a quantidade de informações por considerar a atenção humana um elemento escasso.

Explico: um sistema de informação de grande capacidade, como as redes sociais, por um lado, democratiza o acesso a uma grande quantidade de informação. Entretanto, por outro, cria um problema na mesma proporção: por termos a atenção limitada, logo escassa, essas mesmas quantidades significativas de informações não são apropriadas na mesma intensidade de que são produzidas e disponibilizadas.

Não é à toa que um dos maiores desafios para gestores e docentes de instituições educativas é conseguir o engajamento dos estudantes, visto que este fenômeno tem impactado diretamente os indicadores de sucesso e permanência.

Sabemos que estilos de vida cada vez mais digitais afetam a capacidade de manter o foco por longos períodos. Não adianta reunir e disponibilizar um conjunto grande e variado de recursos e objetos se eles não estão pensados e organizados pedagogicamente para serem capazes de real apropriação.

Ao selecionar, produzir e fornecer objetos e recursos de aprendizagem com base na economia da atenção, leva-se em consideração que esses níveis de atenção são influenciados pela motivação, humor, relevância, sentimento de pertencimento, clareza de propósito, envolvimento com a tarefa, valor percebido no tema ou material.

Por isso, entender como propor experiências de aprendizagem capazes de captar e manter a atenção e o engajamento é uma forte tendência pedagógica para o próximo ano.

Vale considerar o avanço pedagógico não está na oferta de LMS ou outros ambientes cada vez mais poderosos no que tange ao armazenamento e disponibilização de conhecimento, mas em produzir e ofertar recursos e objetos de aprendizagem que são organizados, sistematizados e disponibilizados por meio de itinerários formativos que levem em consideração a capacidade de aplicação da atenção dos estudantes nos quais recebem estes inputs.

Cursos baseados em coorte

O tempo destinado para aprendizagem será cada vez menos gasto em salas de aula físicas para serem gastos em salas de aulas digitais. Naturalmente, isso ocasionará em uma mudança na prestação de serviços educacionais, incluindo suporte técnico, livros e materiais didáticos, recursos e objetos de aprendizagem.

O grande desafio estará em manter a interação, a conexão entre pessoas e a aprendizagem em grupo, levando em consideração todos os benefícios já conhecidos.

Para responder a este desafio é que a aprendizagem em coorte está deixando de ser uma tendência e se tornando uma abordagem cada vez mais presente no cenário atual. Mas você sabe o que é a aprendizagem em coorte?

Esse tipo de curso se baseia em uma modelagem pedagógica com base na telepresencialidade ativa, projetada para um grupo específico de estudantes que compartilham interesses e objetivos comuns e se reúnem para estudar – o famoso curso “nichado”.

Assim, aprendizagem baseada em coorte é uma abordagem pedagógica em que um grupo de pessoas inicia e termina um curso simultaneamente e, portanto, pode participar de uma comunidade enquanto aprende algo.

A interação com o criador do curso e com os colegas torna-se o componente chave do processo de aprendizagem e, por isso, este modelo será a próxima geração em cursos de educação on-line.

Para garantir o diferencial de oferta dos cursos em coorte, acredito que além de atividades ativas, conteúdo atualizado e aplicável, podemos mesclar momentos de masterclass, com desafios criativos. Trazer profissionais externos para ampliação de repertórios e networking e criar meetups virtuais são exemplos de atividades que podem fazer parte do itinerário formativo.

Novas arquiteturas pedagógicas

Para quem não conhece, vale a conceitualização: a arquitetura pedagógica é um conjunto de premissas que representa e orienta a forma como se organiza o currículo. Se materializa nas práticas pedagógicas, criando interações entre professores, estudantes, conhecimento e objetos de aprendizagem.

Acredito que, como gestores e professores, precisamos ofertar uma prática pedagógica pautada na educação ativa, on-line e híbrida.

Curadoria de conteúdo, trilhas de aprendizagem, competências digitais, equipes multidisciplinares, ferramentas para potencializar a aprendizagem, práticas inovadoras e atividades extensionistas são necessidades da educação contemporânea e precisam estar sistematizadas por meio de novas arquiteturas pedagógicas.

Novos modelos de certificação

Se a microcertificação por competências já era uma tendência em ascensão no Brasil devido à necessidade de melhorar e acelerar o processo de desenvolvimento de carreira, para 2023 e os próximos anos, iremos observar a criação de novos modelos de certificações.

Certificações por badges, selos de qualidade com atualizações permanentes, são modelos que atestam o desenvolvimento de habilidades específicas e que serão aproveitadas no mercado de trabalho, mas também que engajam e motivam o próprio estudante a seguir aprendendo.

Como podemos observar, mesmo em termos práticos, nossas salas de aula e modelagens de ensino estão evoluindo e se atualizando a cada ano que passa. Mas como qualquer tendência, vale um olhar criterioso em relação aos benefícios e resultados antes de adotá-las e inseri-las na realidade educacional.


Thuinie Daros
Thuinie Daros é diretora de planejamento acadêmico na Vitru Educação (Mantenedora da Uniasselvi e Unicesumar. Palestrante e facilitadora de workshops sobre temáticas que capacitam profissionais a aplicar metodologias ativas, promover a criatividade, explorar abordagens híbridas de educação, incluir tecnologias educacionais e incorporar a pedagogia de futuros em suas práticas pedagógicas e dentro do contexto empresarial (formação de líderes). Autoras de diversos livros na área de inovação educacional.

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1 Comment

  1. Excelente artigo!

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