Metodologias de Ensino

Por que as habilidades socioemocionais fazem a diferença na formação dos médicos

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Imagine a seguinte cena: você chega a uma consulta, o médico pouco conversa ou faz exames, prescreve alguns remédios e chama o próximo paciente. Em 15 minutos, você está do lado de fora do prédio, frustrado e com a certeza que jamais voltaria – e nem tomaria os remédios prescritos. Afinal, como esse profissional poderia saber o que você tem?

Essa história, infelizmente, acontece com frequência. Isso porque as habilidades socioemocionais, muitas vezes, ficam em segundo plano na qualificação para a prática médica. Desenvolvê-las nos alunos é, portanto, um dos principais desafios dos cursos de medicina em instituições de ensino superior (IES).

Segundo o diretor médico da plataforma Jaleko-Artmed, Felipe Magalhães, é preciso, cada vez mais, entender o paciente, participar da sua vida e tratá-lo como um personagem ativo no processo terapêutico. Os resultados aparecem em desfechos clínicos positivos.

“Essa história de ‘você vai tomar esse remédio, fazer essa cirurgia, pronto e acabou’ é coisa do passado”, afirma. “Hoje, o paciente deve ser informado sobre a sua doença e participar, na medida do possível, das tomadas de decisões”, completa Magalhães.

Para construir uma nova relação entre médico e paciente, é necessário lançar mão de (nem tão) novas abordagens. Especialmente, aquelas que envolvem as tais habilidades socioemocionais, ou soft skills. Entram na lista, por exemplo empatia, saber ouvir e valorizar os conhecimentos dos pacientes.

Saber ouvir é fundamental

Na maioria das especialidades da medicina, as competências de comunicação são o elemento central. Elas servem, por exemplo, para que o médico conheça a fundo seus pacientes

“O paciente entender a própria doença e escolher se tratar impacta muito mais na qualidade de vida do que prescrever o remédio mais moderno”, explica Magalhães. “É preciso entender como a pessoa vive para saber se vai conseguir cumprir as prescrições. Não é só um organismo doente, existe todo o contexto de como ele se relaciona com o mundo.”

Pode parecer simples, mas não é. O conhecimento médico é sofisticado, e a necessidade de atualização é constante. Nesse cenário, é papel dos cursos de medicina dar mais relevância às habilidades socioemocionais.

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A boa notícia é que as soft skills não são um dom, como muita gente pensa. Elas são passíveis de ensino e treino. Ou seja, é possível, por exemplo, aprender a ser mais empático, resiliente, comunicativo, crítico e flexível.

Entretanto, não há uma única maneira de dar fim a esse gargalo na formação médica. Na visão de Magalhães, da Jaleko-Artmed, o ensino das habilidades socioemocionais deve permear o aprendizado prático – e não ser apartado dele.

“Fazer os estudantes se apaixonarem pelo lado humano tanto quanto por entrar em uma sala de cirurgia é um grande desafio. A melhor maneira da universidade ensinar sobre essas habilidades é fazê-las funcionar em sintonia com as atividades técnicas, pois assim elas ficam mais próximas da realidade”, afirma.

Leia mais: Saiba como desenvolver na sua IES o internato, etapa obrigatória em um curso de Medicina

A importância do senso crítico

É importante que os futuros médicos dominem línguas estrangeiras. A profissão exige atualização constante em um mundo onde a maioria dos artigos da área são publicados em inglês. O que leva diretamente ao próximo ponto: a capacidade de análise dos trabalhos científicos.

“Depois que você sai da faculdade, não tem mais a ajuda dos professores para interpretar dados acadêmicos. Durante a pandemia de Covid-19, vimos muitos médicos interpretando estudos de péssima qualidade sem perceber os erros”, aponta Magalhães.

Aqui, portanto, está mais um desafio para as IES. Os cursos de graduação em medicina têm que preparar os alunos para o entendimento da lógica científica. Isso passa, por exemplo, por identificar qual tipo de pergunta uma pesquisa está abordando e qual é a qualidade da sua resposta.

“Esse senso crítico é fundamental para se manter atualizado e não ser manipulado por agentes que têm interesses muito específicos, às vezes econômicos, às vezes políticos”, ressalta Magalhães.

Leia mais: O papel da residência na formação médica

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