Metodologias de Ensino

Na prática: como implementar um currículo personalizado no ensino superior?

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Vivemos em um mundo no qual os estudantes conseguem ter acesso a informações o tempo todo. Por isso, não é absurdo dizer que ensinar sem um currículo personalizado não funciona mais — e que os alunos estão menos propensos a aceitar uma abordagem educacional que seja padrão  para todos.

A futura geração de profissionais atuará em locais de trabalho que oferecem carreiras mais adaptáveis ​​e ágeis do que nunca. Assim, a mudança para um currículo adaptável não só melhora o desempenho desses alunos, mas proporciona uma perspectiva de vida que vai além conhecimento acadêmico tradicional.

Na teoria

Personalizar o currículo significa colocar as necessidades de cada aluno em primeiro lugar. Isso irá permitir que ele acesse os materiais e estude no seu próprio ritmo.

Com ferramentas de autoavaliação, os próprios estudantes podem garantir que compreenderam completamente cada tópico das aulas. Alunos que desejam estudar mais rápido não ficam entediados esperando que os colegas os alcancem, enquanto aqueles que demoram um pouco mais não ficam para trás ou perdem a motivação, pois aprendem em seu próprio ritmo.

Algumas características do currículo personalizado:

  • Diferenciação instrucional: os docentes podem adaptar a instrução, o conteúdo e as atividades de acordo com as necessidades dos alunos;
  • Protagonismo dos alunos: compreensão das características individuais dos estudantes, como seus estilos de aprendizagem, interesses e experiências prévias;
  • Feedback contínuo: oferecer retorno de modo regular e consistente permite que os alunos compreendam seus pontos fortes e de melhoria.
Apesar de ser uma abordagem importante, a aplicação do currículo personalizado pode ter desafios na prática. Crédito: Divulgação UFRJ

Apesar de ser uma abordagem importante, a aplicação do currículo personalizado pode ter desafios na prática. Crédito: Divulgação UFRJ

Os desafios do currículo personalizado

Na teoria, as estratégias acima são muito eficazes. Mas alguns fatores, como o número de estudantes em sala de aula e a carga horária dos professores, parecem incompatíveis com a prática de um currículo personalizado.

E os desafios não param por aí. Como desenvolver uma aprendizagem personalizada para cada estudante? Como monitorar e avaliar? E, talvez uma das maiores dificuldades: como capacitar os docentes?


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Em artigo publicado pelo EdSurge, com tradução e edição do portal Desafios da Educação, o co-fundador da escola charter (escola mantida com recursos públicos, mas cuja gestão é privada), Randy Weiny, explica que, mais do que personalizar, é necessário humanizar a educação.

“Se olharmos com a devida atenção para as individualidades de cada aluno, veremos que não estamos nos movendo rápido o suficiente. Ainda não entendemos como operacionalizar a aprendizagem personalizada em grande escala”, afirma.

Para Weiny, concentrar os esforços em honrar a humanidade de cada estudante pode ajudar a fomentar melhores resultados.

Na prática

Mas, afinal, como aplicar um currículo personalizado na prática?

A primeira coisa a se fazer é conversar com todos os professores, coordenadores e gestores da instituição de ensino. Entender e debater juntos a finalidade do projeto, suas características, como ele será implementado e o papel de cada um dos responsáveis é de suma importância.

Depois, é preciso traçar um plano de ação para conduzir a abordagem de forma mais orgânica possível: escolher quais serão os métodos, se a IES vai usar plataformas digitais, como serão feitas as avaliações iniciais, diagnósticos e como a instituição vai mensurar as melhorias no desenvolvimento dos alunos.

A seguir, é necessário mapear diferentes interesses e formas preferidas de aprendizagem dos alunos. A avaliação individual é muito importante, pois é a partir desses resultados que os educadores conseguem criar uma rotina personalizada para cada estudante.

Essa etapa pode ser realizada por meio de formulários ou mesmo rodas de conversa. Vale destacar que nem tudo é função do professor. Os coordenadores de curso, por exemplo, têm papel fundamental nesse levantamento de dados.


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Tecnologia como aliada

É importante utilizar as ferramentas tecnológicas adequadas para monitorar o progresso dos estudantes. E, mais uma vez, pensar em suas necessidades individuais.

“A tecnologia adaptativa pode ajudar os alunos com deficiência a aproveitarem ao máximo seus materiais de estudo e a se comunicarem com sucesso com professores e colegas de classe”, afirma a presidente do Instituto Singularidades e ex-diretora de Educação do Banco Mundial, Claudia Costin.

Ela explica que estudantes com uma ampla variedade de requisitos e origens se beneficiam do ensino personalizado. Ou seja: cada pessoa vem de um contexto diferente, teve um ensino diferente e, consequentemente, aprende de um jeito diferente.

“Mesmo com tempo limitado ou horários desafiadores, eles podem trabalhar em ambientes variados graças ao ritmo próprio. Podem acessar materiais de estudo em casa, nos intervalos do trabalho ou no transporte público, graças aos smartphones e wi-fi”.

A presidente do Instituto Singularidades diz ainda que a tecnologia pode ser usada para mapear exatamente onde estão as lacunas de aprendizagem e direcionar um material com curadoria do professor. Ou seja, quando o assunto é currículo personalizado, o docente se torna um curador de conteúdo.

A inteligência artificial (IA) oferece oportunidades adicionais para a personalização da aprendizagem. Por exemplo: os docentes podem usar plataformas que utilizam banco de dados para ajustar o conteúdo e as atividades com base no desempenho e nas necessidades de cada aluno.

Recursos interativos, como vídeos, simulações, jogos educacionais e realidade virtual também fornecem experiências de aprendizagem envolventes. Os docentes podem selecionar e adaptar essas ferramentas para atender às necessidades específicas dos alunos.

Metodologias de ensino

As metodologias ativas também são aliadas do currículo personalizado. Um dos principais exemplos é a sala de aula invertida, método de ensino em que o conteúdo passa a ser estudado em casa, e o dever de casa é feito em sala de aula.

Nessa metodologia, o aluno assume uma posição ativa em seu processo de aprendizagem, enquanto o professor se torna um facilitador, em vez de ser a fonte de todo o conhecimento.

A sala de aula invertida faz sentido na aplicação de um currículo personalizado porque faz com que os alunos estudem em casa, em seu próprio ritmo, se comunicando com colegas e professores por meio de discussões online.

Outro exemplo é a aprendizagem baseada em projetos (ABP). Pela abordagem é possível chegar a mais de uma resposta para o mesmo problema.

Nesse tipo de metodologia o aluno pode experimentar novos pontos de vistas na resolução de um problema, por meio de uma perspectiva prática. Por isso ela é muito útil em situações nas quais é necessário unir diferentes alunos, com diversas personalidades e dificuldades, em um mesmo projeto ou trabalho.


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