Por Rafael Korman
Como estimular o desenvolvimento de habilidades empreendedoras em uma zona rural de Bali, na Indonésia? Como resolver o problema da retenção dos estudantes em disciplinas a distância em Benin, Nigéria?
Perguntas que partem de contextos diferentes do Brasil podem inspirar respostas e soluções para nossos problemas. Aliás, para a cadeia da educação como um todo. Daí a importância de reunir pesquisadores dos cinco continentes no 21º Fórum Acadêmico do Século 21, realizado em novembro na Harvard Medical School. Dentre os temas abordados, três pontos em comum:
Transição lenta para o uso das tecnologias digitais
Apesar do estímulo do mercado e das instituições de ensino, ainda há muita dificuldade de popularizar as ferramentas digitais na sala de aula. Para o professor Luke Mawer, da Higher Colleges of Technology (United Arab Emirates), o sucesso na implementação depende de as crenças dos professores estarem alinhadas com as iniciativas tecnológicas.
Sundaram Ramachandran Santhanam, presidente da Association of International Mathematical Education and Research (Índia), diz que a chave está em combinar o uso de metodologias ativas, como storytelling, alinhadas a aplicativos, como o Geogebra – o que se mostrou efetivo em criar interesse em um grupo de alunos de 13 a 15 anos em matemática.
Além disso, Kingsley Ukaoha, da University of Benin (Nigéria), ressaltou a baixa cultura da educação a distância e seu efeito negativo, a evasão. Como solução, Ukaoha sugeriu resgatar as influências culturais das tradições de contação de histórias usadas no país e aliá-las às técnicas de ensino híbrido.
Leia mais: 9 benefícios da tecnologia no ambiente de ensino
Aposta no desenvolvimento das habilidades sociais com metodologias ativas
Pensamento crítico e resolução de problemas foram termos contumazes ao longo das apresentações. As pesquisadoras Cathy Chase e Victoria Markham, da Manchester Fashion Institute (Reino Unido), apostam em um modelo desenvolvido por elas, nesse sentido, para implementar a aprendizagem experiencial através da colaboração para estudantes da Geração Z.
Da University of Cape Town (África do Sul), Jacqueline Yeats estimulou o pensamento criativo ao introduzir o componente da aprendizagem ativa em um curso de Direito por meio da gravação de pequenos vídeos no celular.
Outro exemplo é o desenvolvimento de habilidades empreendedoras em uma zona rural de Bali, na Indonésia, realizado pela professora Gusti Agung Ayu Pramitasari, da Charles Darwin University (Austrália). De acordo com o trabalho, crianças residentes que tiveram acesso a atividades de empoderamento e autoconfiança tiveram mais chances de superar as dificuldades curriculares e extracurriculares. Pramitasari argumenta que, nesse contexto, a estratégia da educação não-formal é mais adequada do que a formal.
Leia mais: Uma matriz de competências digitais para a cidadania
Desafios no ensino multilíngue
Quais são as dificuldades enfrentadas por alunos cuja língua materna é diferente do idioma do país em que estudam? De acordo o estudo realizado por Arnel Genzola, da Jilin University-Lambton College (China), a ansiedade e o medo de cometer erros aparecem como os maiores entraves no desenvolvimento das habilidades de comunicação dos alunos sino-estrangeiros.
Já Anna Bayburdyan, da American University of Armenia (Armênia), defende que atividades interativas na aprendizagem de uma segunda língua, mais do que decorar regras gramaticais, é essencial para sentir avanço na aprendizagem e ganhar motivação.
Leia mais: Fluência (só) em inglês não pode ser vista como diferencial
Sobre o autor
Rafael Korman é visiting-scholar na Harvard Graduate School of Education, onde é coach candidate no Data Wise Project – educadores colaborando no uso de dados para a melhoria da aprendizagem. Doutorando em Educação pela PUCRS e co-fundador da Autonomia Soluções em Educação.
Comments